quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Carlos Barbosa da Cruz: abra o livro, doutor!...



O Sporting e as arbitragens

«Em Abril de 2013 fui à Luz ver um Benfica-Sporting, arbitrado por João Capela. Independentemente do árbitro em questão ter beneficiado o Benfica em todos os lances polémicos – e foram muitos – o que mais me impressionou foi a falta de qualidade global do seu desempenho. Vim a saber que João Capela tinha sido classificado pelos observadores com uma boa nota, mantendo, como se sabe, as suas insígnias de internacional.

Desde que o seu nome vem mencionado nas escutas do Apito Dourado em conversas entre observadores, o que ressalta é que João Capela não é um bom árbitro, mas é seguramente um árbitro protegido.

Os blogs da especialidade estimam que com João Capela o Benfica fez 94% dos pontos possíveis e o Sporting 33%(!); estas apreciações valem o que valem, mas eventualmente ajudam à compreensão deste intrincado fenómeno que é a arbitragem em Portugal.

Em 2014/2015, dois dos três jogos que o Benfica perdeu foram arbitrados por Marco Ferreira, o tal árbitro que foi surpreendentemente despromovido no final da época. Segundo as mesmas análises, com os árbitros Jorge Sousa, António Soares Dias, Duarte Gomes, Paulo Baptista, Bruno Esteves e Vasco Santos (a nata do apito em Portugal ), o Sporting aparece sempre distanciado do Benfica e do Porto, em termos de percentual de aproveitamento de pontos, ou seja, com esses árbitros, Benfica e Porto fazem mais pontos. Com Bruno Esteves então, a performance do Benfica é estimada em 100%. Só com o árbitro Bruno Paixão, o Sporting aparece à frente dos rivais.

Desde há anos que a relação do Sporting com a arbitragem em Portugal é má. Lembro-me do dia de luto, em 1999, depois de uma inconcebível arbitragem de Jorge Coroado, num jogo em Chaves e desde então foram (muito) mais as vezes em que o Sporting foi prejudicado pelas arbitragens do que, comparativamente, outros clubes contra quem compete. Esta é uma equação muito difícil de resolver e que radica em muitas razões, que não cabem nestas linhas. A ideia que eu tenho é que há estratégias desportivas que passam pelo controlo da arbitragem e que a arbitragem nacional, quer quando esteve na Liga, quer agora na Federação , apresenta vulnerabilidades institucionais que permitem, objectivamente, dependências.

Para já duas constatações. Primeiro, o profissionalismo da arbitragem de elite, saldou-se por um fracasso; não vejo que, desde a sua implementação, a qualidade geral tenha melhorado. Segundo. Há árbitros que quando são nomeados para jogos do Sporting, com toda a probabilidade vão apitar mal, basta olhar para o histórico; por isso, é preferível o sorteio, pode ser que, excepcionalmente, o Sporting tenha sorte.
(Carlos Barbosa da Cruz, O Canto do Morais, in Record)


Pelo seu passado no dirigismo leonino e as sua fortes ligações ao poder dinástico que ao longo de quase duas décadas foi exercido no Sporting, que chegou a empurrá-lo para uma candidatura à presidência em 2009, a seguir à renúncia de Filipe Soares Franco de se recandidatar ás eleições que depois haveriam de colocar José Eduardo Bettencourt na presidência, julgava eu que Carlos Barbosa da Cruz, sócio fundador de uma conhecida sociedade de advogados e actualmente destacado administrador da Cofina, estivesse muito para além da pobreza das evidências que de forma inusitada e quase ingénuamente o seu texto reflecte.

A Carlos Barbosa da Cruz, como ex-dirigente sportinguista e minimamente conhecedor das "malhas que tecem o império pantanoso que há décadas comanda o futebol português", exigia-se bem mais do que o limão sem sumo que o seu texto representa, do que a quase pueril defesa de um sorteio que a história, ainda que recente e quente, já enviou para as calendas das coisas inexequíveis.

A este novel e ilustríssimo arauto da decência na arbitragem nacional, exigia-se a denúncia clara e sem reticências, de todos os verdadeiros e tendencialmente perpétuos tumores enquistados num sector essencial à regeneração do futebol em Portugal.

Não acredito na clamorosa e quase ofensiva ingenuidade com que nos presenteou neste texto que mais valia nunca ter construído e publicado. Não acredito que não conheça de cor e salteado, de trás para a frente e vice-versa, as razões que suportam a verdadeira calamidade que a arbitragem representa no nosso futebol. Por isso lhe exigia mais, muito mais. Falta de coragem e frontalidade?! Não sei, o que sei é que o futebol português e em particular Sporting Clube de Portugal, tavez precisassem de algo mais do que o "chover no molhado" com que a todos presenteou!...

No texto de Carlos Barbosa da Cruz pareceu-me ver um "trabalho à peça", com objectivos em absoluto incompatíveis com a estatura que sempre julguei ser a sua!...

E lamento esta atitude, de quem um dia julgou poder ser, Presidente do Sporting Clube de Portugal.

Dito isto, que Carlos Barbosa da Cruz não veja na acidez da minha crítica mais do que decepção, pelo facto de dele esperar mais, ao menos como sportinguista. E daqui lhe deixo o meu repto, que sei estar em absoluto ao seu alcance:

Abra o livro, doutor!...

Leoninamente,
Até á próxima     

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