sábado, 26 de setembro de 2015

Nunca se deve remexer na merda!...


Empresários ou salteadores?

«Ninguém me tira da cabeça que o impasse das negociações entre o Sporting e os representantes de Carrillo resulta, em grande parte, da adaptação muito difícil que o presidente dos leões está a fazer, com a resistência possível, aos ditames do futebol-negócio.

É bom não perder de vista que, quando Bruno de Carvalho chegou a Alvalade, o Sporting estava atolado em problemas de natureza financeira, suportados em esquemas, não necessariamente ilícitos, que são a ponta do icebergue desse universo repleto de contradições, abusos e zonas nebulosas chamado, precisamente, futebol-negócio.

Quando Bruno de Carvalho chegou ao Sporting já lá estava Carrillo, contratado em 2011. O Sporting, tentando contrariar a sua tendência autofágica, mas afundando-se cada vez mais nela, negociava com fundos de investimento e recorria a todo o tipo de parcerias para viabilizar certos negócios. Conseguiu assegurar o concurso de alguns jogadores, como foi o caso de Carrillo, com dinheiro que entrou sem saber muito bem em que condições (empréstimo de Zahavi ou 50% dos direitos económicos? - dúvida essa que está expressa no último Relatório e Contas), mas parece pacífico que esses expedientes, regra geral, resultaram muito mal, considerando os mais elevados interesses da SAD leonina. De facto, não faz sentido que um clube com fama de formador e patrocinador do desenvolvimento de jogadores como Cristiano Ronaldo, Luís Figo, Ricardo Quaresma, Simão Sabrosa, etc., não tenho o proveito de ganhar MUITO dinheiro com a venda de jogadores.

Não é fácil para Bruno de Carvalho ser contra ou discordar dos mecanismos que estão subjacentes às transferências de jogadores e, ao mesmo tempo, ter de lidar com eles, seja através dos mensageiros dos fundos de investimento seja através dos empresários, que não têm mais nenhum outro objectivo senão ganhar (muito) dinheiro. Por isso, têm a imagem de salteadores. Bruno de Carvalho poderia ter resolvido o assunto de renovação mais cedo? Poder, podia. Simplesmente, não nos podemos esquecer que BdC era um ‘leão’ juvenil e estava a tomar contacto com a ‘selva’ do futebol há pouco tempo e trazia com ele o canivete de um certo romantismo. Não nos podemos esquecer igualmente que, apesar do reconhecimento de enorme potencial, o peruano era um futebolista intermitente, a apagar e a acender, sem pegar de estaca. Até à chegada de Jesus. O treinador do Sporting trouxe com ele a ‘ratice’ do ‘velho’ futebol e sabe que, perante as realidades, é preciso dançar ao ritmo da música. A pista está torta? Mas ainda assim é preciso dançar, sem deixar de lutar para que um dia a pista esteja direita. O ‘caso’ Carrillo não é mais do que um choque de concepções e não é mais do que um anacronismo. Ninguém me tira da cabeça que, neste caso concreto, negocialmente, e antes da chegada de JJ, foram ditas coisas (algumas das quais no recato de quatro paredes) capazes de separar as partes, ao ponto de uma delas, agora inflexível, desejar ‘vingança’…

Os empresários têm muita força e acabam por imiscuir-se, directa ou indirectamente, na gestão dos clubes de futebol. O caso do Valencia, que promete fazer correr muita tinta, é paradigmático. Um magnata de Singapura (Peter Lim) sonhou comprar um clube na Europa. Arquitectou o plano e nele incluiu uma das figuras que, pelo seu conhecimento, mais poderia ajudá-lo a alcançar o objectivo (Jorge Mendes). Vem agora um ex-vice do Valencia, Miguel Zorío, acusar Lim, Mendes e ainda o ex-presidente Amadeo Salvo de uma espécie de conspiração no sentido de, através da compra de jogadores da ‘fábrica’ Mendes, muitos deles especialmente inflacionados, se alcançar o financiamento necessário à compra do Valencia, em cuja arquitectação — diz a denúncia — cabem ‘apropriações indevidas’.

Nessa acusação dá-se o exemplo da compra de João Cancelo, "um jogador que não jogava na primeira equipa do Benfica, mas que ainda assim custou 15M€".

Vieira está nos antípodas de Carvalho: não apenas negoceia com fundos de investimento e empresários, como fez de Jorge Mendes um parceiro essencial e estratégico. O sucesso de Mendes é notório, mas cresceu e inchou tanto – fazendo do Benfica um dos seus ‘póneis’ de carrossel — que neste momento corre o risco de rebentar.»

Dentro de uma linha coerente de pensamento a que há muito nos habituou, goste-se ou não de Rui Santos, eis uma nova crónica Pressão Alta que não deverá ser menosprezada por todos os sportinguistas, mesmo aqueles que com toda a legitimidade - e será melhor não lhe misturar a ética -, possam estar em trincheiras diferentes do actual poder em Alvalade.

Também a mim ninguém me tira da cabeça que Bruno de Carvalho terá chegado a Alvalade armado de "canivete", quiçá cavalgando um qualquer "rocinante". Muito menos me será difícil de adivinhar que nesses tempos quixotescamente gloriosos, terá "fabricado o veneno no recato de quatro paredes" que hoje se vê obrigado a provar. E que terá sido muito dura, amarga e dolorosa a aprendizagem. Tão dura que parece estar a conceder-lhe o melhor caminho que alguma vez fosse suposto ele encontrar, na procura dos genes ananicantes do seu próprio ego.

Oxalá a transformação genética desse monstro que, infelizmente para o próprio, permitiu que crescesse dentro de si, seja suficiente para o levar a faltar à promessa que, num dos seus quase sempre fatídicos impulsos, fez há dias de vir mostrar o pó sujo, fétido e carregado de excrementos, dos tortuosos caminhos que tem sido obrigado a trilhar, misturado com gente que nem o próprio Rui Santos consegue definir, se serão "empresários ou salteadores". Melhor será que se cale para sempre! A merda quando remexida, além de empestar o ambiente, poderá sempre salpicar quem nela mexe!...

Sousa Cintra, nunca explicou o porquê do despedimento de Robson. Preferiu que o acusassem de tudo, mas calou até hoje. Preferiu não remexer na merda e mostrou o seu enorme carácter e dignidade! Um grande leão, que deverá servir de exemplo a Bruno de Carvalho!...

A menos que esconda crimes, previstos e penalizados pela lei...

Nunca se deve remexer na merda!...


Leoninamente,
Até à próxima

5 comentários:

  1. "...compra de jogadores da ‘fábrica’ Mendes, muitos deles especialmente inflacionados..."

    Mas o que quererá dizer "o caracolinhos"...?
    Que por exemplo os jogadores colocados "na barriga de aluguer" que dá pleo nome de Mónaco...não valiam15 milhões...?

    Bem...nem sempre concordo também com o Rui Santos, mas convenhamos que o homem não deixa de ser corajoso, ao escrever muitas vezes...aquilo que pensa...!

    A minha esperança é que um dia, também o futebol possa ser...uma escola de virtudes...!!
    Possivelmente já não estarei vivo nessa altura...

    Mas mesmo assim...não perderei a esperança...!!

    SL

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  2. Só tem medo de remexer a merda, quem sabe que pode ficar salpicado. O encobrimento de situações merdosas, mas que nos fizeram perder rios de dinheiro, enquanto outros inchavam as suas contas bancárias, trouxeram - nos à situação atual.

    Um bom detergente e muita água recomenda-se.

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    1. Creio que ao "anónimo das 11:54" terá passado despercebida a condicionante que coloquei antes do "nunca se deve remexer na merda". Porque se essa condição não estiver satisfeita, será romantismo remexer quixotescamente na dita, correndo-se o risco de sermos apanhados pelos salpicos, mesmo que o medo não exista em nós. Foi apenas o que pretendi dizer...

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  3. Tem razão quanto ao facto de não ter reparado na condicionante. Mas continuo a pensar que o facto de não querermos "mexer na merda" para não sermos confundidos com o D. Quixote, não é saudável para as pessoas e para as instituições.
    Anónimo das 11:54

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  4. Permita que lhe lembre, "anónimo das 18:19", que Napoleão e Hitler perderam as guerras em que se meteram, justas ou injustas não será questão para agora discutirmos, por estabelecerem demasiadas e desnecessárias frentes de batalha...

    Que se avance com processos seja contra quem for sempre que valer a pena e houver provas suficientes e inquestionáveis de delitos punidos por lei. Para além disso será dispersar atenções e esforços tão necessários noutras frentes e gastar o dinheiro que não temos, porque todas as acções dessa natureza custam verdadeiras fortunas...

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