terça-feira, 2 de maio de 2017

Com os mesmo ingredientes o caldo voltará a entornar!...


RADIOGRAFIA AO SPORTING

«O Sporting desbaratou uma grande e rara oportunidade de interromper os 15 longos anos de abstinência de títulos. Chega-se a esta indução quando se conjuga o percurso quase limpo e as exibições açucaradas que a equipa vem registando nos últimos tempos com os calafrios e os desempenhos tremidos com que o Benfica e o Porto puniram os respectivos adeptos em diversos momentos da época. Esta trama, valha a verdade, é contaminada por factores diversos, entre os quais sobressai o menor aperto anímico que pende sobre quem desistiu do primeiro lugar (e de todos os restantes troféus) ainda o mês de Janeiro não tinha terminado. Mas, por outro lado, há a quase certeza de que um Sporting mais regular e próximo do que mostrou na época passada dificilmente deixaria de fazer a festa no Marquês. E o indício mais poderoso deste exercício puramente metafísico é bem palpável: mesmo que o Benfica e/ou o Porto vençam nas três jornadas que restam disputar, jamais atingirão os 86 pontos somados há um ano pelo Sporting – na melhor das hipóteses, o Benfica atingirá os 84, longe dos 88 com que festejou o tricampeonato.

O Sporting acabou por ser vítima também das elevadas expectativas que criou na época passada, quando Jorge Jesus manufaturou a sua criação mais bem-acabada desde que é treinador. Essa obra não foi capaz de vencer a liga, ao contrário do que lhe havia acontecido por três vezes no Benfica. Mas quem olha para o jogo e não apenas para a bola percebeu que nenhuma das suas anteriores equipas se lhe equiparara em equilíbrio e recursos tácticos. Talvez não fosse tão contundente nem transcendental, mas era bem mais homogénea e estilista.

Como explicar então o retrocesso? A generalidade apontará as saídas de Slimani e João Mário e o falhanço colossal que representaram quase todas as 12 contratações, nas quais investiu 27,5 milhões de euros. Mas, mesmo levando em conta a mobilidade e a capacidade que o argelino tinha de condicionar a primeira fase de construção dos adversários, Bas Dost, com os seus 31 golos em 28 jogos, ofereceu uma capacidade goleadora que já não se via em Alvalade desde Jardel. Como mostrou em Braga, mete a bola nas redes com a mesma presteza com que um holandês anda de bicicleta ou bebe uma Grolsch. João Mário, com as diagonais de fora para dentro, dava classe e controle, mas foi a sua saída que permitiu a erupção definitiva de Gélson, a mais excitante criação desde que existe Alcochete. A verdade é que com João Mário e com Montero (ou até com Gutiérrez) atrás de Slimani, o Sporting era mais forte no controlo do jogo com bola. E isso notou-se ainda mais porque nesta época ficaram mais nítidas as costuras da vida em Bryan Ruiz e porque Alan Ruiz chegou anafado e demorou a adaptar-se. Este quebra-cabeça levou Jesus a mudar em demasia e as disfunções só começavam a resolver-se na parte final da época. Mas ainda mais inapropriado foi o rodízio no lado esquerdo da defesa, que só serviu para tornar muito piores do que verdadeiramente são tanto Jefferson como Marvin. Foi também por culpa de Jesus que o Sporting capitulou animicamente nalguns momentos determinantes. O primeiro, e mais marcante, foi logo a 14 de Setembro, quando a exibição de gala em Madrid terminou com uma derrota traumatizante e declarações ufanas do técnico, que, logo a seguir, saiu envergonhado de Vila do Conde após deixar Bas Dost no banco e fazer alinhar Bruno César a lateral-esquerdo. Seguir-se-ia o martirizante empate em Guimarães (após ter estado a vencer por 0-3), mais empates com o Tondela e o Nacional e a derrota caseira com o Braga, dizendo adeus às provas europeias pelo meio, depois de uma derrota em Varsóvia em que Jesus urdiu um 3x4x3 que deixou todos atarantados. A época estava quase perdida em Dezembro, mas o cenário ainda piorou em Janeiro, depois de ser empurrado das tacinhas pelo Setúbal e pelo Chaves. Para a precariedade mental da equipa e do próprio técnico também é bem capaz de ter contribuído o vendaval parlapatório do presidente e dos seus assessores de comunicação. A incontinência verbal tem sempre efeitos perversos.

Mas, se resolver boa parte destes descomedimentos, o Sporting pode voltar renovado e mais adestrado na próxima época. Tem uma boa base de partida e, se não vender demasiadas pedras fundamentais, os perto de 30 milhões orçamentados podem bastar para os (apenas) cinco ou seis reforços de qualidade que se impõem. Mas, atenção, já se sabe que Jesus é pantagruélico, quer sempre mais e mais jogadores. E, como continuará a só responder directamente ao presidente (apesar da promoção de André Geraldes) e, provavelmente, a ser o verdadeiro director desportivo, restam muitas dúvidas sobre a sorte que estará reservada a potenciais craques como são Francisco Geraldes, Palhinha, Matheus e Iuri Medeiros (Podence é o único seguro).»


Habitualmente ao ler as crónicas de Bruno Prata, coloco, invariavelmente, os dois pés atrás, não vá o diabo tecê-las e os céus tingirem de outras cores sempre que escreve sobre o Sporting. Não é de fiar, portanto...

Mas perante o que escreveu nesta crónica, muito dificilmente encontrarei alguma questão de que discorde: entre o duo ou mesmo trio dos principais responsáveis pelo fracasso do Sporting nesta época para esquecer, Jorge Jesus lidera com substancial avanço! Não esteve só, mas terá sido o campeão da responsabilidade no descalabro!...

E o dramático para o Sporting não estará apenas nos erros cometidos em catadupa ao longo de toda a época! A julgar por todos os indicadores que vão sendo recolhidos desde o transcendente resultado das últimas eleições, que abriram legitimamente a esperança de um horizonte de mudança, tudo parece continuar "como dantes,  com o quartel general em Abrantes"!...

Com os mesmo ingredientes o caldo voltará a entornar!...

Leoninamente,
Até à próxima 

2 comentários:

  1. "Mas, por outro lado, há a quase certeza de que um Sporting mais regular e próximo do que mostrou na época passada dificilmente deixaria de fazer a festa no Marquês"

    Gosto particularmente desta sustentação... especialmente quando verificamos que o campeonato ganho..., no ano passado, foi tão malfadado... Espera lá...!!! Mas não fomos nós que ganhámos o ano passado...!!! BOLAS... Já nem me lembrava... (é que pensava mesmo que tínhamos ganho...) Lá se vai o "argumentário"... da tetra... (ou 'do' treta)

    Agora, para estes corporativistas, é a formação que dá jeito... Quando dá jeito falamos das más contratações... quando dá outro tipo de jeito... dizemos que a formação não chega... Depois são as más e as menos boas... BLA BLA BLA...

    OBJETIVO:F#%$&" o Jesus...

    Quando chegar a Mendilhões Season veremos se a cartilha se mantém... pelo menos na valorização... tão impoluta do que temos e do que não temos... e do bom e do mau negócio...!!!

    Afinal de contas a importância do SPORTING é colossal... é que nós é que fazemos a imprensa... Eles lá mudam a argumentação de acordo com o que lhes serve para melhor..., mal de nós dizerem...

    NO DIA... (NO DIA) em que vir este, e outros, comunicadores da tanga a falarem sobre a realidade, que toda a gente vê, TALVEZ... (TALVEZ) lhes comece a dar algum crédito... (nota: e que tal fazerem um programa sobre crimes mal julgados - até pelo supremo - no futebol... Parece que o ribeiro cristovão - que palhaço - e a sic já sabem como fazer... a/c da televisão pública... concorrência a quanto obrigas...)

    p.s. Não invalida que não perfilhe o conjunto das palavras... apenas não dou a mínima credibilidade, honestidade intelectual e idoneidade ao seu, suposto, autor... Logo o texto, vindo de quem vem, é pouco mais que...........................

    SAUDAÇÕES LEONINAS

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  2. Não consegue resistir a agregar os factos da forma que dão mais jeito.
    Falar em 27,5M euros em contratações como um todo e depois dizer que o Bas Dost foi uma tremenda contratação, roça a desonestidade intelectual.
    Bas Dost custou 10M, A.Ruiz 7M. Restam 10M por 10 jogadores. Queriam craques de luxo, ou valores garantidos por 1M?
    Aqueles dois jogadores custaram cerca de 60% do investimento. Curiosamente também têm 60% dos golos...

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