quarta-feira, 17 de maio de 2017

Fala quem sabe!...



Na primeira época havia o benefício da dúvida. Agora não há.

«Numa primeira época com um treinador, mais ainda com títulos de campeão recentes, a motivação e a confiança dos jogadores é muito grande e o seu desempenho atinge maiores níveis de forma. E para que essa forma se mantenha é indispensável que aconteçam vitórias que mantêm os níveis de confiança elevados. O sistema de jogo praticado no ano passado no Sporting era, por outro lado, uma continuidade do que vinha de trás dos anos anteriores, com os mesmos actores (Adrien, William, Slimani, João Mário, etc) mais amadurecidos e contando com o reforço de novos jogadores para um sector defensivo que nos anos anteriores era muito frágil, o que veio garantir maior consistência e equilíbrio ao grupo. Ao contrário do que se pensava Jesus não veio implementar um modelo à Benfica, com solidez defensiva e rápidas e vertiginosas transições ofensivas. Nada disso. O modelo de jogo do Benfica de Jesus continuou o mesmo com Vitória e o Sporting do ano passado continuou a ser uma equipa de posse e de ataque planeado, raramente usando o ataque rápido, como era antes, mas agora com um sector defensivo mais assertivo (as transições defensivas do Sporting de Marco eram por vezes catastróficas). O Sporting manteve o modelo porque os executantes nucleares do jogo já jogavam assim. A equipa estava equilibrada e tirando o período de Dezembro-Janeiro, ganhava e isso é fundamental para acreditar no treinador. Não obstante já aí J.J. cometeu erros de palmatória, entrando em declarações arrogantes e ofensivas relativamente ao rival que criaram mal-estar, e Bruno não melhorou nada com as suas comunicações o clima de conflito que viria a ser muito motivador para a reacção do ofendido e do Benfica, que se aproveitou disso para motivar o plantel.

Acredito que nesta época a confiança inicial no treinador fosse ainda alta na sequência do excelente final de época anterior, mas depois começaram os equívocos, muitos novos jogadores de qualidade duvidosa, a saída de Slimani, muito importante na primeira linha da transição defensiva, algumas arbitragens maldosas claramente travando o “leão” e os dislates de um líder (vide jogo em Madrid), que ao contrário do que é habitual nos treinadores que elogiam os seus atletas (por vezes com excessos de humildade) pelos desempenhos positivos, começou a menorizar a qualidade destes, atribuindo o seu sucesso à sua liderança. Não é muito grande o dano no plantel quando se ganha, mas passa a ser notável quando se perde e quando o mesmo líder falha táctica e estrategicamente incluindo em muitas substituições operadas durante os jogos. E os jogadores dão-se conta disso e deixam de admirar e confiar no líder. Está traçado o caminho para o insucesso.

Além disso o modelo da transição ofensiva tornou-se cada vez mais horizontal em largura (em U) Deixando há muito de ser suficiente para desorganizar as equipas adversárias. Como o Sporting faz a maior parte do tempo, circulando a bola fora do bloco, em largura, por mais velocidade que se meta nessa circulação não se desequilibra nem desgasta o adversário e não se criam oportunidades para finalizar. Há meses defendi neste blog, que o que falhava claramente no Sporting era o modelo de jogo, que assentava bem no ataque planeado, apoiado na posse, mas que era destituído de agressividade e imprevisibilidade nos últimos 30 metros sendo totalmente ineficaz e apresentando um défice claro de soluções de verticalidade, alternadas com envolvimentos laterais, pelos corredores. Leia-se o que a propósito escreve “Blessing” do blog “Posse de Bola”: “…se o objectivo for criar espaço, então o melhor é desposicionar o adversário sem lhe dar hipótese ou aos colegas de reagir a tempo de fechar o espaço que foi criado. …Atacar a profundidade, usar o apoio frontal para provocar a pressão, ou fazer uma variação de flanco em diagonal (largura e profundidade) para criar desequilíbrio na estrutura adversária…Uma equipa que faça da circulação vertical o seu ponto forte (que utilize apenas a largura pontualmente para retirar pressão, para encontrar outros ângulos para atacar o corredor central, e para causar constrangimento à última linha do adversário), que saiba exactamente os efeitos da circulação vertical e esteja trabalhada para aproveitar os espaços que daí se criam será sempre a equipa contra a qual o adversário sentirá maior desgaste ”.

Não se compreende como J.J. não conseguiu criar uma dinâmica semelhante no Sporting, acabando com aquele modelo repetitivo e enfadonho. Alguma verticalidade no jogo exige naturalmente bons pontas de lança a jogar de costas para a baliza (e existe um, Bas Dost), um 2º avançado (um oito) muito à vontade a jogar entrelinhas (melhor que Alan Ruiz, Podence tem conseguido alguma qualidade) e médios com visão e qualidade de passe para colocar neles a bola com rigor e garantir um apoio imediato (Adrien e sobretudo Francisco Geraldes tem grande qualidade nessas acções). Frente ao Boavista, depois da entrada de Geraldes, o Sporting desenhou no relvado dos melhores movimentos de futebol vertical de toda a época (ver vídeo do último quarto de hora do jogo “in blog Dominio Táctico”). J.J. não aproveitou a experiência. Que melhor altura da época para ensaiar com Francisco Geraldes um novo tipo de movimentos com muito mais eficácia? Os jogadores sabem que J.J, ficou muito aquém da competência que lhe era atribuída. A credibilidade do técnico e a sua competência perante os jogadores foi caindo mês após mês. E isso traduz-se sempre numa perda de confiança do colectivo. Quando estamos a jogar e vemos o nosso treinador substituir colegas por outros que, sabemos, nada vão acrescentar, somamos ao cansaço desânimo. Quando o nosso treinador no balneário escala a titulares, colegas que sabemos nada de significativo irão produzir, entramos em campo menos optimistas. Tudo isto vai diminuindo a capacidade do colectivo e semeando a desconfiança no grupo e o descrédito relativamente ao nosso líder. Na primeira época havia o benefício da dúvida. Agora não há.»

Leoninamente,
Até à próxima

14 comentários:

  1. Nem mais. Excelente. Excelente.
    Este comentário veio ao encontro do eu penso e vejo em Alvalade. Como já tenho dito aqui e noutros espaços: Jorge Jesus não é nem nunca foi um grande treinador. Jorge Jesus sofreu do efeito "colinho" por parte de uma CS "amiga" e da sombra do Mendes. Mas agora sem rede a queda foi fatal...
    SL
    Leão da Estrela

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    1. Caro Leão da Estrela, perdoará se eu não conseguir ir tão longe. Mas honestamente terei de reconhecer que já vi bom futebol praticado por equipas lideradas por JJ. Confesso que não percebo o que se passa com ele: cristalizou, ou deixou que o seu "odiozinho de estimação" que sempre dedicou à formação dos clubes por onde passou e que agora no Sporting estará a sublimar, lhe toldasse o discernimento?! Com toda a honestidade não sei. Espero até Dezembro para ver...

      SL

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  2. Que me perdoe o Vitor Cruz!
    Quando vi a fotografia pensei que era Olivier de Kersauson um navegador francês que tive a honra de conhecer pessoalmente numa reunião sobre ambiente há já mais de 25 anos cerca do Havre na França.
    À medida que ia lendo o texto pensava que era Johaan Cruijff (que tive o prazer de ver jogar há mais de 25 anos na Holanda na Arena do Feijnoord)) a explicar futebol.
    Parabéns (para além das desculpas) ao Vitor Cruz.
    Sendo assim, e depois de ter lido boa parte da blogosfera verde, se eu não ganhar o Euromilhões, só lhe resta ao Bruno promover o JJ à equipa B!

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    1. Caríssimo Aboim Serodio, é com vaidade que lhe dou a conhecer o facto de me unir a Vitor Cruz uma amizade fraterna desde os nossos 13 anos e olhe que já lá vão 57! Com um percurso académico comum até aos 20/21 anos, a vida trocou-nos as voltas, mas acabou por nos juntar de novo, agora que já temos tempo e gosto para viver, quase vizinhos e mais amigos que nunca, as jornadas do campeonato que para ambos estiverem determinadas. Folgo com a admiração que o Vitor lhe suscitou. Não, não será o Olivier de Kersauson que conheceu. Mas é um dos nossos...

      Recomendo-lhe que espere sentado que BdC "promova" JJ à equipa B!...

      Um grande abraço e saúde, muita saúde para si.

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    2. Caro Aboim Serôdio: Kersauson, Desjoyeaux, Jean Le Cam, Armel Le Cléac´h, etc, são os grandes velejadores solitários franceses, campeões da Vendée Globe, a volta ao Mundo em solitário sem escalas, que povoam o nosso imaginário. Eu sou um simples navegador apaixonado pela "viagem", que nunca ousou sequer competir nas regatas de clube. Gostaria de acabar os meus dias a navegar pelo Atlântico. Mas não gostaria de partir sem ver o Sporting Campeão. E acho que já esteve mais próximo. Obrigado pelo seu comentário benévolo. S.L.

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  3. Pois é. Mas quando num passado não muito distante aqui apontei a manifesta incompetência de JJ & BdC no plano desportivo, o Álamo, Leoa Maria, Maximino ... contra-argumentavam afirmando, por exemplo, que JJ é um grande treinador e que os resultados negativos que a equipa vinha obtendo esta época resultavam principalmente de factores externos.
    Usando uma expressão muito cara à Leoa Maria, é caso para perguntar quem é que afinal anda(va?) a comer gelados com a testa.

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  4. Ó triste,

    Fecha esta merda!
    Isto parece uma sala de chá de queques!
    É o outro que fala de um navegador, de merdas que não valem um peido!
    Só faltam aqui as primas-donas de Cascais...
    Já começas a ficar tonto e com delírios.
    Acaba com esta tasca caralho!
    É só asneiras, só merda que em nada contribui para endireitar a barca.

    Lagartunço

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    1. Com calças anónimas pareces um homem, ó Lagartunço! Uma pena que não haja espelhos em tua casa. Edificante o teu comentário...

      Provavelmente a melhor imitação que me terá sido dado apreciar de um asno benfiquista: inculto, boçal, jactante, raivoso, odioso!...

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  5. Excelente análise. Gostei bastante. Parabéns ao Vítor Cruz e ao Álamo. A.A. SL

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  6. Caro Álamo:
    Concordo a 100% com a crónica de Vítor Cruz.
    Na realidade, e para irritar ainda mais a alimária que comentou antes ( será um avençado dos novos, o lagartunço.), direi que o JJ é aquilo a que uma Amiga, velejadora das à séria, chama um "Capitão Agosto", muito fardadinho e cheio de prosápia mas que só sai quando o mar está chão.
    Abraço desde Londres,
    José Lopes

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    1. Um abraço José Lopes. Se me perguntar se na sequência das minhas análises achava que seria melhor J.J. partir, provavelmente de sua vontade, dir-lhe-ei que não sei. Não estou seguro que isso fosse o melhor para o S.C.P.. Num ano em que perdeu tudo, contra muitas vozes no interior Benfa, LFV mantêve-o e ele foi campeão no ano seguinte. Mas por outro lado J.J. já deu todos os indícios que, continuando, tudo será provavelmente mais do mesmo, sendo as probabilidades de sucesso cada vez mais reduzidas. Seria muito importante saber a opinião dos jogadores. Como defendi penso que estes já não confiam nem dão aval ao seu "Mister". Mas nenhum profissional o dirá publicamente. Se J.J. defender a dispensa de F. Geraldes, então que vá mesmo embora. Terá chegado ao fim de linha...

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  7. Esta é, seguramente, a melhor análise crítica que li sobre o "Sporting de JJ": objectiva, lúcida, aponto de, até eu, bronco na matéria, a ter percebido.
    Bem haja, Vítor Cruz, pelo que nos deu a "ver" e um bem haja a si também, Álamo, por nos presentear com esta crónica do seu amigo.

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    1. Liondamaia: o uso do texto foi do meu grande amigo Álamo. Se ele achou interessante difundi-lo para o espaço de debate tenho que agradecer-lho. Estamos em mais um momento deprimente da nossa existência que com maior competência também teria sido no passado bem mais gloriosa. Temos que evitar posições ditadas pela frustração mais que pela razão. Tudo o que possamos analisar com mais frieza e consistência será mais útil para o debate. E se o Debate for útil para quem tem responsabilidades nas grandes decisões, já vale a pena. S.L.

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  8. Uma análise dolorosamente real para os sportinguistas.

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