Agora, é a voz do povo que vai funcionar !!!...

 

É jornalista da SIC e SIC Notícias e também apresentador/moderador do programa de sucesso de audiência às segundas feiras no cabo, Dia Seguinte. Paulo Garcia foi o convidado do programa Conversa de Esquina, que a Rádio Zero colocou no ar no passado sábado às 19.00 horas. Entrevistado por Rúben Martins, mostrou a visão que tem sobre o desporto em geral, o futebol e sobre o momento particular que o Sporting, a menina dos seus olhos, vai vivendo nesta antecâmara eleitoral.
Destaquei desta entrevista, que poderá ser ouvida na íntegra aqui, apenas a parte em que o entrevistador lhe colocou directamente questões sobre o Sporting e em que Paulo Garcia nos mostra a sua singular impressão sobre o momento actual do Clube, sobre os caminhos que aqui nos trouxeram e, de um modo que curiosamente há muito partilho, sobre aquilo que a seu ver poderão significar as próximas eleições do Sporting.
Deixo-vos um texto a que retirei alguns trechos de importância menor, remetendo os puristas para a audição completa:

Conversas de Esquina - Sobre o Sporting

RM - O que é que se passa com o Sporting?

PG - Eu penso que o que se passa com o Sporting, é um conjunto de disparates, incompetências e de erros. O Sporting deixou-se envolver por um conjunto de sentimentos contraditórios e perdeu a noção do que é a fronteira entre uma cultura clubística que alguns sectores do Clube consideram de aristocrática e uma força popular com um horizonte, estatisticamente comprovado, de 3 milhões e meio de adeptos. Qual é a fronteira entre uma aristocracia que é feita por meia dúzia de aristocratas, provavelmente de pés descalços, e onde começa um Clube que tem uma força popular de 3 milhões e meio de adeptos? Como é que se liga isto? Como é que se consegue conciliar isto?!...
Eu não discuto do dinheiro, se há muito, se há pouco. Porque o Sporting, problemas de dinheiro não tem tido, porque recebeu muito dinheiro da banca, muito criticada, mas cujo erro terá sido emprestar dinheiro ao Sporting, de olhos fechados.
O problema do Sporting estará na cultura, na falta de identidade. O Sporting tem de recuperar urgentemente, mesmo que com muitos custos, a sua matriz popular. Porque o Sportig é um clube popular. O Sporting não é um clube de meia dúzia de pessoas, nem de meia dúzia de famílias. É um clube com 3 milhões e meio de adeptos, incomparável com clubes de 200 ou 300 mil adeptos. E um clube que nasce grande, nunca pode ser pequeno. Agora, o Sporting perdeu a sua identidade e tem de recuperá-la. O Sporting tem de vir para a rua, tem de vir falar com os seus adeptos, tem de vir falar com o povo do Sporting, porque realmente é de um Povo que se trata. Enquanto não o fizer, o Sporting caminha para uma situação em que não sabe o que quer, está desnorteado. Por isso eu acho que estamos em período de eleiçoes e, independentemente de quem vier a ganhar, há uma coisa que a mim me parece incontornável: o Sporting tem de entrar, não num ciclo aristocrático, mas num ciclo mais popular. Se isso pode ajudar a agravar mais a situação, não faço a mais pequena ideia. Agora,  é preciso que o Sporting dê voz aos seus adeptos e permita que os seus adeptos mostrem a paixão que têm pelo clube e não  esses adeptos apelidados pelos dirigentes do Sporting, durante muitos anos, como "essa gente que está na bancada". Essa gente que está na bancada, são os adeptos do Sporting, são as pessoas que alimentam o Sporting. Portanto esse é o problema que o Sporting tem.
Eu quero acreditar, como homem do futebol, que é urgente que o Sporting recupere a sua matriz. É urgente que o Sporting volte a ocupar o seu lugar. É urgente para o futebol em Portugal. O futebol em Portugal não pode ter um Sporting assim, quer se goste do Sporting ou não. Um clube destes não pode estar nesta situação, não pode estar nesta agonia, porque isto não serve ninguém. E os outros dois clubes grandes, com excepção daquele pessoal que não vê mais nada, as pessoas minimamente racionais, adeptos do Benfica e do Porto, não podem gostar de ver um Sporting assim, porque esta situação também não serve o Benfica e o Porto. Esta bipolarização Benfica/Porto, que como se sabe vai muito para além da parte desportiva, não pode continuar assim, sob pena de qualquer dia se assistir a um fenómeno social incontrolável. O Sporting até nisto, como grande clube que é, ao nível dos outros dois e até com mais adeptos do que pelo menos um deles e que até na diáspora portuguesa tem uma força tremenda, um dos clubes com mais núcleos espalhados pelo mundo inteiro, um clube desta dimensão não pode estar a lutar por um 10º lugar.

RM - Então achas que estas eleições do Sporting sertão o derradeiro "agora ou nunca", em que não serão permitidos erros de "casting" ?

PG - Acho que não. Os adeptos do Sporting que me estão a ouvir, vão ter vontade de me bater, mas eu acho que não é o "agora ou nunca"! O que eu acho que estas eleições vão trazer é outra coisa. É incontornável o que vai acontecer nestas eleições. A ver vamos o que vai acontecer nas próximas semanas, mas penso que é incontornável o Sporting passar por este ciclo que vem aí a seguir. Estas eleições vão trazer não o fim, mas o último ciclo para o Sporting. E acho que a partir deste último ciclo, o tal ciclo muito mais popular, vivido de uma forma não tão distante mas mais em cima, será uma espécie de poder popular. O Sporting tem que passar agora por um período do chamado poder popular, porque vem de uma ditadura de 16 anos, onde os seus adeptos foram completamente encostados, onde se fizeram as maiores manigâncias, as maiores malandrices, onde gente ganhou muito dinheiro à conta do Sporting, gente que saiu do Sporting com indemnizações da ordem dos 3 milhões de euros e desapareceu e ninguém sabe onde andam, gente que atirou o Sporting para o momento em que o Sporting está e que ninguém sabe onde estão, ninguém lhes pergunta o que fizeram. Ainda agora em Itália e em Espanha, estão a ser julgados dirigentes de clubes, pela forma como trabalharam económicamente. Mas em Portugal isso não acontece. No Sporting, orientaram-se com o dinheirinho e ninguém sabe onde eles estão. Muitos nem aparecem. Nunca mais os vi. Eu nunca mais vi o anterior presidente do Sporting. Não sei o que é que ele faz, desapareceu da circulação. Não se sabe o que terá acontecido ao senhor, mas o facto é que nunca mais apareceu. Pessoas que assinaram restruturações financeiras no Sporting, que depois foram embora com indemnizações "milionaríssimas", ninguém sabe onde é que eles andam. Portanto este poder popular, que vai entrar agora, não sei o que vai fazer do Sporting, mas é incontornável que agora é a voz do povo, que vai de facto funcionar. Não tenhamos a mais pequena dúvida !...

Leoninamente,
Até à próxima