quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Negar as aparências ou disfarçar as evidências?!...


MANDO, LOGO EXPULSO

«Parece que agora a Comissão de Arbitragem deu tolerância zero para os excessos verbais dos treinadores. Como resultado, tem sido um ver se te avias de treinadores – incluindo, à cabeça o Jorge Jesus, que foi das primeiras vítimas – a ir assistir ao jogo na bancada.Quando as instituições entram em crise de credibilidade, têm tendência para se afirmar por via de reforços de autoridade e normalmente dá asneira. Esta ideia peregrina de apontar aos treinadores, não é excepção.

Não são os excessos verbais que minam o futebol; sempre existiram, dentro e fora do campo, fazem parte da paixão com que se participa, intervém e assiste, são a essência própria do fenómeno. Futebol sem sal, é pior que críquete.
Lembro-me que, no Brasil, montaram dispositivos para transmitir, em directo, os diálogos dos jogadores entre si e com o árbitro, durante um jogo, e a ideia teve rapidamente de ser abandonada, dada a natureza ‘very hard core’ das comunicações.

Se há destemperos no futebol, eles têm de ser geridos com inteligência e critério, para separar aquilo que é a emoção do momento, dos comportamentos verdadeiramente prevaricadores, ou seja separar o que é a injúria formal e desculpável, dadas as circunstâncias, daquela que é intolerável, em termos disciplinares. E, para isso, é preciso cabeça e presença de espírito, não necessariamente repressão.

Não é por expulsar treinadores que os árbitros são mais respeitados ou aplicam melhor as leis do jogo, como não é por mostrar muitos cartões que se impõe autoridade. O que conta é a leitura atenta do jogo, o discernimento técnico e disciplinar, a uniformidade e perceptibilidade do critério, o acompanhamento próximo dos lances e a sua eventual explicação imediata, à semelhança do que há muito se faz com o râguebi.

É esta capacidade que muitos árbitros não têm e consequentemente não conseguem aplicar no campo. Se a isso somarmos a falta de sensatez e transparência em muitas das suas nomeações, estamos perante um caldo muito entornado.

Não considero que arbitragem em Portugal, seja uma questão de suspeição, de conspirações, favorecimentos e desígnios ocultos. Muito prosaicamente, acho que é, sobretudo, uma questão de competência.»
(Carlos Barbosa da Cruz, Canto do Morais, in Record)

É óbvio que todos os adeptos do futebol sabem a localização da ferida de que enferma, gangrenando estupidamente, o nosso pobre e corrupto futebol. O cronista e sportinguista CBdC, não faz mais que colocar o indicador na sua direcção, na sequência das posições tomadas, ontem, hoje e sempre, quase em exclusivo, pelos dirigentes do glorioso Sporting Clube de Portugal.

Mas com o devido respeito que me merece a figura do cronista e o seu pensamento, seria negar a minha própria consciência se me atrevesse a subscrever, mesmo que "prosaicamente", a sua convicção de que os problemas da arbitragem portuguesa serão, "sobretudo, uma questão de competência"!... 

Torna-se imperioso afirmar em alto e bom som, que os problemas da arbitragem começam, hoje por hoje, na selecção dos candidatos a árbitros, onde impera um "filtro cromático" suficientemente eficiente para que a grande maioria dos cursos que depois são ministrados, seja obrigatoriamente tingido da cor que hoje domina o futebol português.

E, tão grave como essa primeira triagem, será assistir à selecção dos observadores dos árbitros, sujeitos ao mesmo "crivo cromático", obviamente com as mesmas e tão nefastas consequências.

Não sei o que será pior: se negar as aparências, se disfarçar as evidências?!...

Leoninamente,
Até à próxima



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