sábado, 27 de fevereiro de 2016

"À espera de Godot"!...


VÍTOR PEREIRA DEIXOU-SE APRISIONAR

«Vítor Pereira comunicou que não se recandidata ao cargo de presidente do Conselho de Arbitragem da FPF.

Não é uma boa nem uma má notícia, porque se é verdade que o seu desempenho não foi positivo, não é fácil projectar, nas circunstâncias em que assenta o 'modus operandi' do Conselho de Arbitragem, a estabilização do sector.

Saltaram muitas rolhas de garrafas de champanhe, há vencedores e vencidos nesta contenda que são fáceis de nomear, mas o problema de fundo mantém-se.

Enquanto não forem introduzidos mecanismos de correcção e transparência ao sector da arbitragem, o presidente do CA da FPF oscilará sempre entre o que simbolizam as figuras da rainha de Inglaterra e da Joana d'Arc: pouco poder e martirização.

Pouco poder porque deveria ter acesso a mais informação e não tem, designadamente da secção de classificações, cujo vice-presidente, Ferreira Nunes, é hoje, talvez, o centro de poder da arbitragem em Portugal.

Martirização porque, não sendo capaz de denunciar desconformidades de funcionamento, acaba por ser queimado vivo na 'fogueira', como serão queimados vivos na 'fogueira' todos os presidentes do Conselho de Arbitragem que, doravante, se proponham comandar o sector, sem o apoio dos três 'grandes' do futebol português. Não deviam precisar deles e, ao precisarem, ficam logo amputados.

Vítor Pereira foi vítima da sua vaidade e da incapacidade de comunicar, e foi vítima, também, de não ter sido capaz de denunciar um conjunto de desconformidades que povoam o sector da arbitragem e ser ele próprio um fautor de mudança.

Há a percepção pública de que a arbitragem é um sector hermético, cheio de mistérios e não respostas. O líder da arbitragem não pode esconder-se atrás do discurso da excelência da arbitragem e de todas as estatísticas que garantem a capacidade de resposta dos árbitros. É a mesma coisa que ver Roma a arder e dizer que não se passa nada e o tempo está de ananases.

Não me parece coincidência o anúncio da não recandidatura de Vítor Pereira ter sido veiculado após às últimas declarações de Pinto da Costa. O presidente do Porto, com menos poder transversal, chamemos-lhe assim, desde que o seu ex-administrador, Fernando Gomes, saiu para a Liga e depois para a FPF, foi outra vez guilhotinante.

Pinto da Costa pode estar mais fraco, externamente, e com preocupações suplementares no Porto, mas tem muitos anos disto e sabe onde e como atacar. No caso da arbitragem há muito que preparou o plano de desgaste de Vítor Pereira, para o que muito contribuiu a decapitação de Luís Duque em benefício de Pedro Proença - um dos maiores opositores a Vítor Pereira, na arbitragem. Agora, percebendo o clima de crescente contestação, a degradação qualitativa do quadro de árbitros, as muitas lesões (com e sem aspas) que começaram a revelar-se no começo do ano e as divergências no seio do CA da FPF, desferiu o golpe fatal, ao denunciar a forma como (não) são feitas as nomeações. Com Vítor Pereira, Antonino da Silva e Domingos Gomes 'activos' e Luís Guilherme e Lucílio Baptista 'inactivos', o que significa à partida a negação da tese segundo a qual o presidente do Conselho de Arbitragem 'não nomeia'. Pelo contrário, Antonino Silva e Domingos Gomes têm sido, há muito, as principais 'extensões' de Vítor Pereira. Portanto: responsabilidade total!

O escasso poder não tem a ver, pois, com a natureza e o controlo das nomeações; o epíteto de 'Rainha de Inglaterra' tem a ver com o facto de o presidente do CA não seguir, passo a passo, todo o processo de classificações (notas e relatórios). Por exemplo, quando se faz a nomeação para as meias-finais da Taça de Portugal, faz-se também uma pré-nomeação para a final da mesma competição, o que significa que em Fevereiro faz-se uma espécie de tiro no escuro com vista ao jogo do Jamor, com a agravante de que este ano, ao contrário do que aconteceu no ano passado, o(s) nomeador(es) deixaram de ter acesso às notas. Isto faz algum sentido?

José Fontelas Gomes e Duarte Gomes foram os nomes, desde logo, colocados a correr para suceder a Vítor Pereira. A procissão ainda vai no adro. Entre a lista de consenso e uma luta de captura do sector da arbitragem patrocinada pelos clubes, cada qual (em facção ou não) com a sua sensibilidade, muita água vai passar por debaixo das pontes.

Uma coisa é certa: um presidente do Conselho de Arbitragem não pode submeter-se à provação de ser comandado por um clube, seja ele qual for. Chame-se ele Vítor Pereira ou Chico das Camionetas.»

Será um "filme" de algum modo (sur)realista e deveras (des)interessante, este que Rui Santos hoje nos tenta dar a conhecer através da sua crónica. Porque, para além de exibir uma postura "excessiva e politicamente correcta", ao evitar pintar a cor dos gatos que se debatem em luta de morte dentro do saco do CA da FPF, custa-me a acreditar na ingenuidade com que realça a sapiência do "velho das Antas" e omite o silêncio dos actuais "DDT's".

É que muitos dos adeptos de futebol, após a leirura cuidada do seu texto, poderão ser levados a pensar que a fatiota do Chico das Camionetas, poderá eventualmente apresentar tons azulados, quando a fazenda há muito foi comprada nos tons a que estamos habituados e andará já grande azáfama na "alfaiataria do Colombo" com vista à implementação de um novo modelo de corte, mais discreto, sem rachas trazeiras e de bandas mais largas, capaz de camuflar melhor aquilo que o Bítaro terá pretendido conseguir, colocando o emblema do leão na lapela.

Porque se alguém pensa que a 4 de Junho possa acontecer na Alexandre Herculano, aquilo que ontem aconteceu em Zurique, pode retirar o cavalinho da chuva: que a ninguém passe pela cabeça a possibilidade de poderem ser "introduzidos mecanismos de correcção e transparência ao sector da arbitragem" como aconteceu na FIFA no que respeita ao futuro 'modus operandi' de toda a sua organização, assim como os "DDT's" cá do burgo, jamais permitirão que um qualquer "Gianni Infantino" assuma o lugar há muito definido para o "Chico das Camionetas", seja ele qualquer um dos nomes "desde logo colocados a correr", seja outro "chico vermelho qualquer" que, eventualmente, venha a ser julgado... ainda mais conveniente!...

Em Zurique foi preciso o poder dos americanos para viabilizar a descoberta da fórmula da "quadratura do círculo" capaz de regenerar a FIFA. Mas não consta que, pela sua insignificância, estejam interessados em fazer algo de semelhante no "pantanal tuga"! Nessa condição, nós por cá, continuaremos...

"À espera de Godot"!...

Leoninamente, 
Até à próxima

3 comentários:

  1. A resposta que deixei no post anterior...
    Tem perfeita aplicação neste mesmo...

    SL

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    1. Claro que tem, meu amigo Max! Mas a utopia está lá, no horizonte! Se damos um passo, o horizonte avança um passo. Se avançarmos dois, dez, vinte passos, o horixonte corresponde na mesma medida. Então para quê a utopia? Exactamente para isso, para continuarmos a caminhar! Então caminhemos, meu estimado amigo!!!...

      SL

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  2. Para o amigo Aboim, como pedido, não publiquei o comentário. Mas quantas vezes as palavras impróprias que nos saem sem filtro, acabam por ser eloquentes?!...

    Um abraço e continuemos em busca da utopia!...

    SL

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