quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Tão ladrão é o que vai ao quintal, como o que fica ao portal!...


Uma questão de princípio

«A ideia de que todos os árbitros aceitam prendas de todos os clubes não torna a "tradição" mais aceitável

Todos os árbitros aceitam prendas de todos os clubes. Pelo menos terá sido isso que responderam durante o inquérito da Comissão de Instrução e Inquéritos ao "caso dos vouchers" realizado há cerca de um ano. A informação foi divulgada ontem, na sequência da notícia avançada pelo JN segundo a qual a Polícia Judiciária estará a investigar os três últimos títulos do Benfica. A ideia será a de que a oferta de prendas e a respectiva aceitação por parte dos árbitros é uma prática generalizada e, por isso mesmo, aceitável. A questão é que, sendo generalizada, não devia ser aceitável, desde logo por parte das entidades que têm a seu cargo a defesa da arbitragem.

Por muito que aleguem que se trata de uma questão de cortesia, o facto é que da mesma forma que não se oferece uma prenda a um polícia que nos pede os documentos numa operação stop, não há nenhum bom motivo para que os clubes ofereçam prendas aos árbitros e há ainda menos para que os árbitros as aceitem. Aliás, se houvesse dúvidas a esse respeito, o mero facto da investigação conduzida pela PJ incidir sobre os crimes de corrupção activa e passiva deveria ser esclarecedor quanto ao potencial que esta "tradição" tem para adensar o clima de suspeição sobre uma classe que a maior parte dos adeptos já vê como culpada até prova em contrário. E depois, sendo verdade que este tipo de prendas não os aquece nem arrefece, e não duvido que seja, para quê aceitá-las?»
(Jorge Maia, Opinião, in O Jogo)

Ora aí temos o busilis da questão: "Se as prendas aos árbitros não os aquecem nem arrefecem, porque as aceitam"?! E, segundo Marco Ferreira, em duplicado para um mesmo jogo?! E se, ainda segundo Marco Ferreira, o Benfica já lhe tinha oferecido um "pacote de vouchers", qual seria a intenção do clube ao oferecer o segundo?! Não dará para desconfiar de tanta e exagerada a "cortesia"?! Ou esta não passará de uma nova fórmula de corrupção, que bem poderá ser classificada como "corrupção sugestiva"?! Ou será que o objectivo final da sugestão não será condicionar quem dela é objecto aos desígnios e interesses do ofertante?!... 

E sobre princípios estaremos conversados, obviamente... 

Tão ladrão é o que vai ao quintal, como o que fica ao portal!...

Leoninamente,
Até á próxima

4 comentários:

  1. Já o disse e repito...
    O fóculporto é popularmente conhecido por clube da fruta porque alegadamente disponibilizava prostitutas a árbitros... sendo reinaldo teles o patrão das ditas cujas, a oferta de "café com leite" a um árbitro não devia passar os 30 ou 40 euros...

    Porque é que socialmente consideramos que o fóculporto é um clube corrupto (os tribunais nunca puderam julgar essas escutas...) e os vouchers do "não há almoços de graça" não?

    Se estamos a falar de ofertas abaixo do limite uefa/fifa são cortesias... porque é que a fruta não é apenas uma cortesia e os vouchers são?

    Amigo Álamo o que me deixa mais triste é uma indústria montada em quem ganha... seja como for. Daqui a 10 anos ninguém fala nisto e quem promove estes comportamentos continua a colecionar títulos... com a conivência de todos.
    SL
    Basco "O Leão"

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  2. Vamos aos regulamentos. O artigo 62 declara que estão previstos dentro dos regulamentos a oferta de objectos simbólicos. É o ponto 5 do artigo 62 do regulamento disciplinar da liga. Jantares para 4 pessoas num restaurante da baixa não são objectos simbólicos. O arquivamento do processo foi um acto ilegal que o TAD se não for uma instituição da treta de um país da treta terá de corrigir.

    JRamos

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  3. Acho lamentável que os árbitros e toda a estrutura dirigente do futebol português, aceitem a situação dos "vouchers com 4 jantarinhos" como um caso eticamente aceitável e perfeitamente normal, no relacionamento das equipas de arbitragem com os clubes.
    Há muitos anos, uma equipa de arbitragem em que me incluía, num jogo de futebol oficial, de uma das divisões inferiores, da Associação de Futebol de Lisboa, disputada numa aldeia lá para as bandas de Torres Vedras, fomos convidados, no final do jogo, pela equipa da casa que perdera por cinco a zero, para participarmos num lanche ajantarado servido nas instalações, junto ao campo de futebol, em que também estariam os elementos dessa equipa que participaram no encontro.
    Na nossa cabine, dada a estranheza do convite, deliberámos se seria razoável aceitar tal convite, efetuado da maneira bastante humilde, pelo dirigente do clube. Neste enquadramento e ponderando a situação, no interior da nossa cabine,acabámos por aceitar tal convite, em que o resultado do jogo foi um dos elementos decisivos para tal decisão, uma vez que se o desafio tivesse terminado com a vitória da equipa da casa tal convite seria, sempre, liminarmente recusado.
    Em consequência, nunca poderei aceitar nenhuma daquelas opiniões que tentem suavizar a situação dos "vouchers" e muito menos a posição da APAF, dos árbitros, dos dirigentes, dos muitos comentadores e de muitos jornalistas. Há qualquer coisa nos jantares ou nos almoços que não é comparável a uma camisola, a garrafa de vinho ou a outras coisas de valores simbólicos.
    NÃO COMPREENDO!

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    Respostas
    1. Bem haja Senhor Árbitro, compreensivelmente sob o anonimato, cujo "comentário das 18:30" é um hino à integridade e à verticalidade!...

      Não compreende o Senhor, nem compreenderão todos aqueles que gostam de dormir na tranquilidade que lhes dá o Senhor Consciência que existe em cada homem e mulher de bem!...

      Mas o mundo que nos envolve é mesmo... CÃO!...

      Saudações Desportivas

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