segunda-feira, 9 de março de 2020

E se correr bem?!...


Futebol feio e mau

«Há quem tenha estimado em mais de uma década e eu, de facto, não tenho memória de um campeonato em que os três "grandes" desperdiçaram tanto no seu conjunto. Mesmo levando em conta o contributo proeminente do Sporting (oito derrotas e três empates), o total de 55 pontos esbanjados até à 24ª jornada (13 derrotas e oito empates) espelha uma situação atípica.

Claro que haverá sempre quem tente camuflar esta realidade e veja no presente cenário um sinal de aumento de competitividade. Mas esta avaliação só poderá vir de situacionistas comprometidos com a actual governação e salta à vista o nivelamento por baixo. A aristocracia futebolística está, cada vez mais, a ser trocada por uma classe média e outra baixa que muitas vezes se confundem.

E a principal prova disso são as exibições descoloridas e, muitas vezes, abaixo do mínimo exigível oferecidas actualmente pelas melhores equipas. Os espectáculos são maioritariamente sobreavaliados e estão longe de justificar o preço dos bilhetes, realidade que ainda só não é reflectida nas audiências televisivas e na ocupação dos estádios porque o futebol, como diria Javier Marías, tem uma forte componente selvagem e sentimental.

A liga empobreceu de forma abrupta nos últimos anos – e o sujeito desta frase não é despiciendo nem pode ser trocado por um colectivo diferente, porque o futebol português continua a esbanjar qualidade pelos quatro cantos do mundo fruto dos êxitos da selecção e de um sem-número de treinadores e jogadores, como Jorge Jesus e Bruno Fernandes provaram recentemente, só para citar os casos mais recentes.

As razões para o empobrecimento são múltiplas e algumas reflectem factores exógenos, como a maior dificuldade em contratar nos mercados que antes dominávamos ou a proibição dos fundos de investimento em jogadores. Poderíamos repetir diagnósticos mais detalhados já aqui apresentados, repisando os erros de gestão de dirigentes que criam as suas próprias tempestades e depois ficam tristes quando chove.

Mas, desta feita, o "leitmotiv" deste texto tem mais a ver com a vontade de responsabilizar também os treinadores. Não tanto aqueles que lidam com limitações e contratempos que já não deviam existir no futebol de alta competição, embora, também aqui, haja diferenças gritantes: há alguns técnicos de clubes indigentes que contribuem demasiado para os jogos ásperos como a lixa e que se limitam a especular; e, depois, apesar de tudo, ainda há Vítor Oliveira (Gil Vicente), João Henrique (Santa Clara), Pepa (Tondela), Natxo González (Tondela) e Júlio Velázquez (V. Setúbal) que escapam a esta depressão colectiva e tentam jogar e mostrar ideias e trabalho de campo.

Mas, a responsabilização terá de ser sempre maior (e mais castigadora) para com aqueles que dispõem de melhores meios e suporte e que, mesmo assim, não conseguem escapar à mediocridade. É isso que vem acontecendo com demasiada frequência nos jogos do Benfica, FC Porto e Sporting, como se viu este fim de semana.

Claro que Rúben Amorim não poderia fazer milagres após ter conduzido apenas três treinos de um Sporting em que Silas deixou como principal herança a cortesia e a urbanidade. Mas, os adeptos têm o direito de exigir muito mais a Bruno Lage e a Sérgio Conceição. Este último ainda poderá contrapor que perdeu meia equipa no Verão e que o FC Porto nunca abdica do seu "modus vivendi": mesmo quando joga poucochinho, nunca deixa de ser uma equipa de combate.

Já Lage parece continuar a fazer o "luto" de João Félix. Insiste na procura de uma réplica perfeita, em vez de sondar novos caminhos e soluções diferentes. Nessa ânsia apressurada, já desbaratou Raul de Tomas. E vamos ver se o mesmo não acontece com Rafa e Chiquinho. Mas pode haver mais vítimas, mesmo que o tropeção em Setúbal tenha servido para provar que Samaris nunca poderia ser o antídoto para todos os males. Preferir o grego a Weigl é, mais ou menos, como trocar a Oktoberfest por um festival de jeropiga. Em vez destas trocas e baldrocas (e muitas parecem resultado da pressão exterior), melhor fora se Lage melhorasse o controlo da profundidade, a transição defensiva, a reacção à perda e, principalmente, o ataque posicional. Talvez assim melhorassem as exibições. E aí talvez Lage perdesse a realidade alternativa que nos tenta vender.

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Bruno cala Guardiola

Bruno Fernandes é o novo herói de Old Trafford. O United não perdeu nenhum dos nove jogos tidos após contratar o português, que soma três golos e três assistências, a última das quais num livre primoroso para o golo de Martial frente ao City de Guardiola. O técnico espanhol perdeu e ainda viu Bruno Fernandes mandá-lo calar...

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Dybala empurra Juve

A Juve começa a dar melhores sensações. Na última oportunidade antes da paragem no "calcio" imposta pela luta contra o coronavírus, regressou à liderança da Série A, após bater por 2-0. Cr7 fez um bom jogo, mas o momento da noite pertenceu a Dybala. Saltou do "banco" para marcar um golo de placa.

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Salvador do lado certo

O Sp. Braga vai estar uma época sem falar de arbitragens (desígnio que irá implicar a redacção de sanções para os prevaricadores nos regulamentos internos do clube). A promessa de António Salvador vale mais pelo exemplo do que pela eficácia, até por ocorrer no mesmo dia em que Pinto da Costa se queixou de Soares Dias e Vasco Santos… Mas é já um sinal de que as coisas começam a mudar.

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Acto de fé de Varandas

Rúben Amorim é o melhor projecto de treinador que o futebol português viu surgir nos últimos tempos. Tem boas ideias, coragem e comunica como poucos. Mas pagar dez milhões de euros pela sua libertação nunca será "uma decisão estratégica" ou a aposta no "treinador do projecto". É, no máximo, um acto de fé de Frederico Varandas.

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Real e Barça em crise

O Real Madrid e o Barça continuam a "tentar" perder a Liga espanhola. Somam exibições frouxas e os madridistas voltaram a ceder a liderança porque perderam em Sevilha, frente ao Bétis, e porque um polémico penálti permitiu a Messi disfarçar o melhor futebol da Real Sociedad em Camp Nou.»
(Bruno Prata, Ludopédio, in Record, hoje às 21:28)

Em tempos completamente monopolizados pelo coronavírus, receio bem que nunca como hoje terei dado tanta importância ao Ludopédio de Bruno Prata. A sua leitura serviu-me de escape benfazejo, nestas horas de quase colectiva sujeição - ou será alienação?! - a algo que ninguém ainda terá ousado classificar com a gravidade de tantas e tantas maleitas de que me lembre desde que por cá ando. Claro que resistir a todos esses já remotos males, sem o 'acelerador' que hoje representará essa mágica caixa, agora rectangular, terá sido, obviamente, mais fácil e saudável para todos! Mas é o que temos hoje e o nosso masoquismo ajudará a catalizar ainda mais esse sim, o vírus maior  que nos amassa e confunde!...

Mas permitam-me respigar do belo texto de Bruno Prata, o que me pareceu uma das maiores verdades dos últimos e delicados tempos que Alvalade tem vivido: "pagar dez milhões de euros pela libertação de Rúben Amorim, nunca será uma 'decisão estratégica' ou aposta no 'treinador do projecto'! Terá sido antes, isso sim e porventura um 'acto de fé de Varandas'"!...

Porém façam-me o favor, para terminar, de recordar quantos actos de fé, nas últimas duas, três ou quatro décadas, nós, sportinguistas, aceitámos e até aplaudimos, ainda mais mirabolantes, extravagantes, excêntricos e exorbitantes que este?!...

Ah pois é! Apenas uma questão de memória, não é?!...

E SE CORRER BEM?!...

Leoninamente,
Até à próxima

1 comentário:

  1. Jorge Mendes the Last frontier. When the sportinguistas neve have gone before.

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