E ninguém vai preso?!...

Uma OPA com o pelo do cão

"A CMVM chumbou a Oferta Pública de Aquisição (OPA) do Benfica sobre a SAD. O que é muito diferente de ter sido o Benfica a desistir do lançamento da operação, ainda que avançar com ela nas actuais circunstâncias seria do domínio do absurdo.

O regulador do mercado de capitais tomou aquela decisão porque, usando uma linguagem popular, o que o clube queria fazer é batota. Era a SAD que na prática financiava a aquisição das suas acções pela Benfica SGPS. É o que se chama pagar com o pelo do cão.

Como? Segundo avançaram a TVI e o Record, o clube iria cobrar valores mais elevados à SAD pela utilização do estádio da Luz e, além disso, a SAD pagaria adiantados vários anos de rendas. Chama-se a isso assistência financeira e, segundo as regras, não é permitido numa OPA. E porquê? Porque representaria uma alteração muito relevante no património da SAD, que é de todos os accionistas. Recorde-se que o valor da oferta poderia chegar aos 32 milhões de euros.

Como já se escreveu nesta coluna, os fluxos financeiros entre a Benfica SGPS (clube) e a Benfica SAD eram uma das questões para a qual a CMVM estava a olhar com particular atenção. A operação esbarrou justamente neste ponto. A administração dos vermelhos e brancos discorda do entendimento do regulador, mas também não avançou com uma solução de financiamento alternativa que permitisse desbloquear o financiamento.

Há que reconhecer que seria sempre difícil encontrar um ‘plano B’. A banca deixou há muito de emprestar aos clubes. Nesta altura, nenhuma outra entidade se chegaria à frente aceitando um juro suportável. Há um mundo antes e um mundo depois da pandemia da covid-19.

Este esquema de financiamento à margem das regras até podia ser um pretexto para pôr fim à operação. Se uma OPA a cinco euros já suscitava muitas dúvidas pela sua generosidade, no actual contexto de fortíssima desvalorização dos mercados deixa de fazer qualquer sentido. Os 32 milhões que a SAD iria indirectamente pagar vão fazer-lhe muita falta no curto a médio prazo.

Com a paragem do campeonato e a recessão económica, as receitas de bilheteira, publicidade ou "merchandising" vão dar um trambolhão. Os resultados com a transferência de passes de atletas também. E se o resultado final do campeonato corresponder à actual classificação, o Benfica também não tem garantido o encaixe com a entrada na Liga dos Campeões. Os tempos são de austeridade, não se compadecem com OPA milionárias.

O chumbo deixa Luís Filipe Vieira e Domingos Soares de Oliveira mal na fotografia. O suposto "melhor de negócio de sempre" do Benfica fica adiado, assim como os planos de controlo absoluto da estrutura accionista do presidente.»

(André Veríssimo, director do Negócios, Linha de Fundo, in Record hoje às 20:27)

E ninguém vai preso?!...

Leoninamente,
Até à próxima