segunda-feira, 23 de março de 2020

A gente vai continuar!...



Francisco Salgado Zenha: «Vão ser tempos difíceis para o futebol»
Sobrinho-neto e homónimo de um resistente à ditadura o vice-presidente confia que os leões vão resistir à pandemia que afecta o Mundo

RECORD - É possível quantificar o impacto financeiro que a paragem das competições, devido ao surto de coronavírus, terá nas contas do Sporting?
FRANCISCO SALGADO ZENHA – Não. Tão objectivamente, não. Estamos há duas semanas sem futebol, já há uma expectativa grande de estarmos mais tempo, mas, a nossa perspectiva é a de que ainda vamos conseguir terminar a época 2019/20, e isso seria positivo para toda a gente. Aliás, não sendo vidente nem podendo fazer previsões em relação a um evento que não é controlável nem é previsível, se estivermos mais um mês nesta situação, será inevitável que os sectores de actividade relacionados com o entretenimento, no qual o futebol está incluído, tenham de ser reactivados, nem que seja para entreter as pessoas que estão enfiadas em casa. A minha expectativa é a de que o futebol possa ser um dos primeiros sectores da actividade a recomeçar. Lentamente. Eventualmente com estádios à porta fechada, de uma forma gradual que garanta que os intervenientes estejam seguros e que não correm o risco de contágio.
R - O paradigma do mercado mundial do futebol vai ser afetado por esta crise?
FSZ - Tenho poucas dúvidas de que vai ser afectado. Aliás, as entidades responsáveis pela organização e regulação do futebol vão ter de intervir. Seja por via de criar estruturas de competição que poderão ser mais atractivas, do ponto de vista de receitas – isso até já estavam a fazer –, mas, sobretudo, pela via de alterar algumas regras do jogo. Por exemplo, o mercado de transferências, este ano, só vai estar aberto até ao final de Agosto? Não é possível nem praticável que o mercado de transferências feche na mesma altura dos anos anteriores. Isto terá de ser revisto. Há aqui muitas medidas que vão ser abordadas quando tivermos mais visibilidade sobre o impacto concreto desta crise e, com certeza, terá de haver intervenção. Por exemplo, esta é uma delas. Não restem dúvidas: vão ser tempos difíceis para o futebol.
R - A manter-se a situação por muito mais tempo, admite recorrer ao fundo de reserva ou à antecipação de receitas televisivas para fazer face aos compromissos do clube e da SAD? Como direcções anteriores fizeram.
FSZ - Se esta situação se estender pela próxima época, ninguém faz ideia das consequências. Serão seguramente dramáticas. Não é uma questão de antecipação de receitas… ou não. Mas, se eu entro na época desportiva 2020/21, em que não há jogos nem transmissões televisivas, com certeza que também não haverá financiamento dessas transmissões televisivas. O mercado vai estar fechado. Quando a situação é sistémica, não é localizada no Sporting, é sistémica, a dificuldade que existe é conseguir fazer-se o que quer que seja, designadamente financiamento. Isso é um problema para mim, para a economia global e também para o futebol. Até os grandes clubes europeus terão dificuldades em comprar jogadores, o que criará problemas aos clubes que são vendedores.
R - As linhas de crédito criadas pelo Governo, para fazer face a esta crise, são um recurso que o Sporting pode vir a utilizar?
FSZ - O primeiro-ministro e o Governo estão numa situação muitíssimo delicada e a fazerem aquilo que está ao seu alcance para resolver a situação horrível em que estamos, mas também é verdade que o futebol não pode ser deixado de parte. O futebol é um sector de actividade que, como disse Pedro Proença e muito bem, tem uma importância significativa para a economia nacional, representando 0,3 por cento do PIB – estamos a falar de cerca de 135 milhões de euros de impostos todos os anos. Mas não é apenas isso. Estamos a falar de um sector de actividade que tem três jornais diários, que alimentam esta indústria e as pessoas em casa com notícias. Mais de 90 por cento da população portuguesa tem um interesse real no futebol. Falamos de uma indústria que tem uma importância social brutal e que é fundamental para a felicidade das pessoas. O futebol é, provavelmente, o entretenimento mais importante em Portugal, e é óbvio que o futebol vai ter de ser tratado da mesma forma que outras indústrias importantes. Não estou a comparar à saúde, mas comparo, por exemplo, ao turismo, no qual o futebol também tem a sua importância. Havendo fomento para a indústria, depois desta crise, também esperamos que haja o mesmo tipo de política de apoio e de ajuda ao futebol.
R - Mário Centeno admitiu a elaboração de um orçamento rectificativo. No Sporting, como será enfrentada a crise?
FSZ – Nós, como todos os clubes estão a fazer, estamos em contenção, a fazer os possíveis para gerar o máximo de liquidez e vivermos o melhor possível uma situação que não sabemos quando será ultrapassada. No fim, teremos de tomar mais medidas – ou não –, em função do impacto económico. Temos de continuar preocupados em mitigar os custos que temos. Em termos de geração de receitas, é quase impossível fazer mais, porque está tudo parado. Continuamos a trabalhar, atentos ao desenvolvimento da pandemia e daquilo que são as decisões dos órgãos da competição. Felizmente, tomámos a decisão certa e temos reduzido ‘gorduras’, desde há algum tempo, e reduzimos massa salarial. Temos feito um esforço e estamos mais preparados, mas vai ser muito difícil.» (Continua)
A harmonia, o rigor, o realismo e a esperança continuam a acompanhar uma entrevista que começo a considerar importante...

A gente vai continuar!...

Leoninamente,
Até à próxima

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