TEMPOS EXCEPCIONAIS, MEDIDAS EXCEPCIONAIS
«Eu sei, como todos os leitores de Record e como todos os portugueses sabem, que o Presidente da República é hoje uma figura omnipresente na vida do país. Marcelo Rebelo de Sousa está, já esteve ou estará em todo o lado. Há um grande exagero nessa sobreexposição, mas da mesma decorre um poder sem paralelo que deve ser usado nos momentos limite.
Ora, no futebol português vivemos um momento limite e o que estou a sugerir é uma intervenção directa do Presidente da República. Não uma intervenção directa na linha desastrada do Teatro da Barraca, não um almoço em Belém com os presidentes dos clubes grandes a ver o Tejo, mas uma magistratura efectiva para resolver um problema que, com inteira franqueza e cortante lucidez, os outros agentes – talvez excepção feita a Fernando Gomes – não têm nuns casos poder, noutros qualquer autoridade para resolver. Mesmo com boas intenções e posições formalmente certas, como as de Pedro Proença.
O problema, ou um dos problemas do futebol em Portugal, é que todas estas pessoas se conhecem e se desrespeitam há demasiado tempo. Mesmo Bruno de Carvalho, o cristão (mais) novo, cedo aprendeu a tese de que a melhor defesa é o ataque e tem sido, embora o faça muitas vezes porque é preciso colocar o Sporting no mapa, um dos grandes agitadores dos últimos quatro anos.
Aqui chegados, as acções do presidente da Liga e do presidente da Federação, em planos diferentes, surgem tarde. A escalada dos últimos dias, designadamente na troca de acusações entre Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira é uma descida aos infernos. É um incentivo, indirecto ou não, ao ódio e ao acirrar de ânimos.
Se apelarmos à memória, o futebol português é este esterco, com flutuações, há mais de 20 anos. Estranha ironia: em duas décadas gerámos jogadores, treinadores e até dirigentes de excepção e temos, a muitos níveis, organizações de topo. Na Federação, designadamente. Também nos clubes há muito trabalho bem feito, mesmo que estes nunca se tivessem libertado em pleno de um certo estigma do dirigismo dos anos 80 e 90, das jogadas de bastidores, dos negócios pouco claros. Já tivemos outros momentos negros. Até já tivemos, lamentavelmente, outras mortes, mas nunca como hoje com a pressão mediática e a necessidade que os protagonistas têm em fazer ouvir a sua voz o risco foi tão elevado.
Dir-me-ão que a época acaba e tudo passa. Acalma, por certo, mas há uma semente do mal que é necessário erradicar, primeiro com um pacto de silêncio (deram por ele?), depois com um compromisso entre os agentes e, imediatamente a seguir, com medidas concretas. Se for tudo a fingir, piores dias virão. Por isso esta é a hora de Marcelo.
P. S.: Há várias semanas escrevi aqui que o Benfica tinha, nesta luta para o título com o Porto, mais densidade. Não se trata de ser melhor equipa, trata-se de ter cultura de vitória e resiliência. A Liga ainda não acabou, mas julgo não me ter enganado.
O dia em que Jesus perdeu
Nos últimos oito anos, desde que chegou ao topo do futebol português no Benfica, Jorge Jesus já perdeu em várias ocasiões. E em algumas por sua exclusiva responsabilidade, tanto quanto um treinador é o responsável absoluto pelo desempenho dentro de campo. Mas, mesmo entre os seus ferozes opositores, ninguém deixa de lhe reconhecer um conhecimento do jogo, uma capacidade de interpretação e leitura do mesmo que o colocam invariavelmente num patamar superior. Ora, pela primeira vez, no passado sábado, Jorge Jesus foi suplantado, neste caso por Rui Vitória. E foi-o sem que Vitória deixasse de ser fiel aos seus básicos princípios. Foi-o, talvez, porque, como na época passada, o Benfica aliou, neste caso, uma supremacia no campo a uma supremacia na mente. Tudo isso e as fragilidades do plantel do Sporting que, confesso aí a minha surpresa, reapareceram de supetão, após semanas em que estiveram esbatidas. O Sporting, se quer ser campeão, tem que dispensar e comprar. Bem.
JORGE SIMÃO. O Braga, que quase já foi campeão e diz querer ser campeão até 2020, é um cemitério de treinadores, mesmo que seja um clube onde se fazem bons negócios, ainda que negócios a mais. A entrada de Jorge Simão, que agora sai pela porta pequena, não foi apenas um acto de traição a José Peseiro, foi objectivamente uma má escolha. Simão terá qualidades, mas é um deslumbrado, fala demais, abriu conflitos desnecessários e a equipa perdeu a (boa) ideia de jogo que tinha. Um desastre, só minimizado pela entrada de Abel.
PEDRO MARTINS. Do outro lado do espelho encontramos um treinador com o perfil de Pedro Martins, com trabalho sólido e sério em todos os clubes por onde passou. Há situações assim: Pedro treinador faz muito lembrar Pedro jogador, um pêndulo, com uma visão panorâmica, procura de soluções – fundamental num clube remediado, mas dos poucos com massa adepta. Registe-se o crescimento da equipa em poucos meses, mesmo tendo perdido o seu principal marcador de golos. Será o Vitória o degrau mais alto para Pedro Martins ou ainda poderá subir mais?»
(Nuno Santos, Ângulo Inverso, in Record)
Acredito na boa intenção de Nuno Santos. Mas assalta-me um mar de dúvidas e reservas sobre a possibilidade de Marcelo Rebelo de Sousa alguma vez se revelar disponível para afrontar semelhante "ninho de vespas"!...
É certo que quando os "deuses" o decidem, não precisam de "mandar chuva a cântaros" para encharcar até aos ossos quem quer que seja...
Bastar-lhes-à, no seu silêncio, enviar umas fortes rabanadas de vento, para assistirem ao espectáculo deslumbrante de ver...
Todos os guarda-chuvas virados do avesso!...
Leoninamente,
Até à próxima
O que o futebol português precisa é de JUSTIÇA..., de TRIBUNAIS... e de POLÍCIA.... Ora não me parece que a, eventual, diplomacia do Presidente da República sirva de muito...
ResponderEliminarQuanto ao texto JJ... acho que é melhor nem ler (ainda cheguei à parte da supremacia...) "o dia em que Jesus perdeu" é em si mesmo um título historicamente pouco exato...
SAUDAÇÕES LEONINAS