segunda-feira, 10 de abril de 2017

Quanto a luta e a vontade dos povos o determinarem!...


LUTAR CONTRA O SITUACIONISMO

Caro Rui Santos,


Foi com alguma perplexidade que li o seu artigo "Bruno de Carvalho - e o pacto com o Diabo?".

Porquê? Dirá.

Porque não esperava que um grande e intransigente defensor da inclusão de meios tecnológicos na arbitragem dos jogos, viesse esgrimir com as leis em vigor, com os pactos existentes, para justificar o injustificável.

Nunca esperei vê-lo assumir "temos pena, é a vida. Enquanto houver FIFA, UEFA ...".

Isto porque, meu caro Rui Santos, quando não concordarmos com as leis – elas que foram feitas para ser alteradas – temos de lutar contra a sua existência, temos de lutar pela sua eliminação, ou apenas alteração!

E você é um bom exemplo do que afirmo. A sua campanha pela introdução das novas tecnologias – que eu então apoiei e de que o Bruno de Carvalho tem sido o mais visível defensor – está prestes a obter bons resultados. E a História ensina-nos que, por mais impossível que pareça, isso é possível! No mundo futebolístico o exemplo maior será o ‘caso Bosman’, mas não deixa de ser gratificante ver que nesse mundo extraordinariamente conservador surgem sinais de evolução: se o caso das novas tecnologias é sintomático, não deixa de ser interessante observar o que se passa no mundo dos Fundos...

Por isso, estou esperançado em que estejamos à porta de nova ‘revolução’.

Podem argumentar que só assumo estas posições porque está em causa o presidente do meu clube, o Sporting Clube de Portugal, que já houve situações semelhantes perante as quais não tomei posição.

Até poderá haver algum razão, mas gostaria de acentuar dois ‘pormenores’:

Por um lado, não me lembro de uma situação semelhante à de Bruno de Carvalho, nomeadamente no que se refere à sua frontal contestação – que apoio e aplaudo – à tentativa de recriarem a ‘lei da rolha e lhe colocarem uma mordaça.

Por outro lado, o meu passado – incluindo a discordância pública com Bruno de Carvalho, quando assim o entendi – dá-me autoridade moral (nunca tive a mania da humildade excessiva...) para proclamar que a Constituição da República não pode ser posta em causa por uma qualquer FIFA, UEFA ou FPF!

E, por "mais castigos que aí venham", é tempo de lutar contra situacionismos intoleráveis!
(Vasco Lourenço, Carta Aberta a Rui Santos, in Record, ontem)


VAMOS À... 'REVOLUÇÃO'?

Caro Vasco Lourenço,

O futebol é um jogo magnífico, que pode resultar num espectáculo maravilhoso. Julgo que ambos estamos de acordo neste ponto. Contudo, na sua organização e, principalmente, desde que esta modalidade desportiva se tornou numa indústria, há muitos pontos negros que merecem debate e intervenção. Há muitos anos que venho tentando contribuir para que se perceba melhor quais são as entorses, as deformações e as tentativas de adulterar a Verdade Desportiva, apresentando algumas propostas para que o futebol não se afunde, definitivamente, na perda de credibilidade que tomou conta dele nestes tempos mais recentes da sua ‘industrialização’.

Quanto à sua urbana e legítima reação àquilo que escrevi aqui, no Record, respondo-lhe que a minha perplexidade é igual ou maior àquela que o meu caro Vasco Lourenço invocou.

Não quero maçá-lo, nem a si nem aos leitores, com o conjunto de normas e regulamentos da FPF e da Liga, patrocinados pela FIFA e UEFA, e debaixo dos olhos de todos os Estados soberanos, que os ignoram olimpicamente, acima inclusive das suas Constituições, segundo os quais os clubes e os seus representantes estão impedidos, sob pena de serem castigados e penalizados, de proferirem expressões que belisquem a integridade das competições por elas organizadas e lesem a reputação e a honorabilidade dos órgãos decisórios do futebol e dos agentes desportivos em geral.
A FIFA quer assim, a UEFA (na Europa) quer assim, as Federações são as polícias que asseguram a ‘segurança’ do Estado do Futebol acima do Estado de cada País e os Governos, através dos regimes jurídicos que aprovam nos seus Parlamentos, e… é assim que o império dos impérios se apresenta ‘legitimado’.

A liberdade de expressão foi uma extraordinária conquista de Abril e sou um entre muitos milhões de portugueses que alcançam o papel de todos aqueles que, mais sofridamente, lutaram por ela contra a ditadura e o Estado Novo. Fui, aliás, numa determinada fase da minha carreira, já no século XXI, portanto em ‘ambiente democrático’, vítima de censura, luto com esforço para poder dizer as coisas, com sentido de responsabilidade, sabendo que estou sujeito, como estamos todos, às regras da democracia. Amo a liberdade de expressão e a prova de que, não deixando de dizer as coisas menos cómodas para o sistema e para os seus algozes, tenho tentado saber utilizá-la, e talvez por isso — apesar das muitas tentativas — nunca fui condenado em tribunal.

A liberdade de expressão é um valor supremo e estarei sempre na primeira linha de combate para lutar por ela. Mas já todos percebemos que para um tribunal comum dizer-se que "o presidente da República é um palhaço" cabe dentro daquilo que está consignado na Constituição e dentro dos limites da liberdade de expressão, mas se for o presidente de um clube a dizer "o presidente da Federação é um palhaço", está visto que — na lógica dos pactos feitos entre os Governos e os mandaretes da FIFA e da UEFA — a música e as consequências são outras. Há, pois, um Direito Desportivo acima do Direito.

Se concordo com isto? Claro que não. Mas há aqui um pecado original com o qual todos convivem e aceitam. Todos os que entram para o dirigismo desportivo assinam este contrato. O tal pacto com o diabo. Não podem é assiná-lo, colocarem-se debaixo das normas às quais prestam juramento e, depois… ai, ai, ai que estou a ser limitado na minha liberdade de expressão.

Sou pelas causas difíceis e inimagináveis, como esta da introdução do vídeo-árbitro e das novas tecnologias no futebol, movimento que liderei em 2008, culminou com o debate na Assembleia da República em Janeiro de 2010 e teve a presença do Benfica (Luís Filipe Vieira) e Sporting (José Eduardo Bettencourt), com Bruno de Carvalho a melhor verbalizar, no espaço público, a necessidade da utilização dessa ferramenta.

Não viro a cara à luta e pode contar comigo para a ‘revolução’. Diga-me apenas como tenciona acabar com a FIFA, com a UEFA, com as Federações e com a subserviência do poder político.Tem aqui um aliado, se o plano for bom.

A minha perplexidade tem a ver com o facto de o meu caro Vasco Lourenço não perceber que todo o edifício do Futebol é inconstitucional
(Rui Santos - resposta a Vasco Lourenço, in Record, ontem)


Curiosa e muito interessante esta elegante e civilizada polémica entre Vasco Lourenço e Rui Santos, muito diferente daquilo que estamos habituados a ver o futebol cá do "bairro" produzir! Ambos com a força das suas convicções, sendo que a diferença estará, sendo ambos "revolucionários", na escolha do caminho para a "revolução": um pela via "guevariana", assente na "luta armada", no protesto puro, duro, consequente e directo, que acabará por abalar o equilíbrio instável de qualquer poder discricionário; outro, dramática, ostensiva e utopicamente, pela via pacífica, reformista e revisionista, de índole eminentemente "parlamentarista", com evidentes laivos pequeno-burgueses e de que a História nunca registou, nem alguma vez registará sucesso, bastando para tal recolher os ensinamentos de quedas tão diferentes e até antagónicas, como as de Salvador Allende e Joseph Blatter, de braço dado com Michel Platini... 

Declaradamente e sem alguma vez colocar em causa os princípios que alicerçam a luta de Rui Santos, enfio-me na "trincheira" de Vasco Lourenço! E se outras razões não reforçassem a minha posição, bastaria lembrar os longos anos em que Rui Santos andou, praticamente sozinho, a "pregar no deserto" pelo vídeo-árbitro, para acabar por ver, em menos de metade do tempo, Bruno de Carvalho, a quem sempre apontei, aponto e pelos vistos serei obrigado a continuar a apontar, sendo que seguramente não estarei sozinho, o colossal erro de "atravessar as ruas fora da passadeira", conseguir levar a água da levada ao tão desejado moinho. E faltará ainda assistirmos e contabilizarmos o triunfo que, cedo ou tarde e apesar da "gloriosa máquina de propaganda dos interessados", acabará por registar nos famigerados e cada vez mais decrépitos, agonizantes ou mesmo moribundos, fundos TPO... 

O mais interessante e controverso da posição de Rui Santos será, ao admitir a "verdade lapalissiana" de que todo o edifício do futebol é inconstitucional, aqui e em todos os países regidos por democráticas "cartas magnas" próximas ou coincidentes com a nossa, que será preciso "acabar com a FIFA, com  a UEFA e com as Federações", para que possamos assistir ao fim  da "subserviência do poder político"! Apenas porque o fim deste nunca há-de depender e muito menos ser determinado pela extinção daquelas!...

A subserviência do poder político ante o futebol terminará, inexoravelmente, tão depressa...

Quanto a luta e a vontade dos povos o determinarem!...

Leoninamente
Até à próxima

2 comentários:

  1. A mim, parece que o Rui Santos (apesar da sua valentia), não é em relação ao Vieira ou ao Pinto da Costa...
    Tão assertivo...como em relação a BC...
    Mas talvez aqui também tenha em parte lugar o velho ditado que diz...: "vale mais cair em graça do que ser engraçado..."...

    Ou talvez antes...: "Vale mais o 'respeitinho'...do que a defesas da razão..."

    SL

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  2. Rui Santos tem um problema... GRANDE... É ser jornalista... daqueles tipo 'cócó do canal'...

    Ah e tal... Diz que diz.. e vai a ver-se e não diz nada...!!!

    Terá outro problema grande... pertencerá a um linha ideologicamente verde-e-branca de um nata social que abomina comportamentos plebeios dentro do SPORTING CLUBE DE PORTUGAL... com base na sua inclusão nesse meio social que aparentemente renega... É o típico 'menino-da-avenida-de-roma', cuja origem desconheço, mas que reconheço na tentativa de se esgueirar por essas vielas da sociedade...

    Dir-me-ão... Ah e tal.. Palavras leva-as o vento...!!! Num país como este não é bem assim...

    Ontem fiquei 'possuído de raiva' ao ouvir o lançamento da notícia da agressão do grego... Diz o Orelhas (o do canal público...) "...as imagens SUGEREM que houve uma agressão..." Bom..., o meu português não é propriamente de enciclopédia... mas qualquer português médio que tenha ouvido isto sem estar a olhar... SEGURAMENTE ficou na dúvida se tal ato terá, ou não acontecido... ABRIU-SE ESSA HIPÓTESE... na boca de um dos mais prestigiados jornaleiros deste país... que, sabendo nós a sua COR CLUBÍSTICA (nem sei como é que não tem o carro vermelho), lhe é permitido dizer, editar, pedir para lhe porem no teleponto... whatever... fazer isto NO CANAL PÚBLICO...!!!

    Deixo aqui um pergunta... Terá a sua proeminência física caracterizadora alguma coisa a ver com a..., do outro... ou será só coincidência lexical.....???

    P.S. No campo oposto gosto de ver militantes como o "amigo" Vasco a começarem a 'sair da toca' de forma recorrente... É disto que o meu país precisa... FORÇA VASCO's

    SAUDAÇÕES LEONINAS

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