sexta-feira, 4 de abril de 2014

Porque será que a questão dos observadores é tabu para tantos?!...



Árbitros, notas e observadores

Mais do que discutir arbitragens em favor e prejuízo deste ou daquele clube, o grande cerne da questão deveria estar no papel que hoje é atribuído aos observadores de árbitros em Portugal. Ninguém conhece o currículo, experiência ou competências destes responsáveis, mas são eles que determinam, por via das suas (pouco uniformes) avaliações, quais os juízes que sobem e descem de categoria e a quem se dão as insígnias de árbitro internacional.

Ao contrário da exposição mediática a que os árbitros são sujeitos, os observadores passam completamente despercebidos, apesar de terem uma missão tão ou mais importante do que os homens do apito. A incoerência nos critérios de avaliação, que tanto premeia más prestações como penaliza boas exibições, é alvo de crítica constante em todas as épocas, e deveria merecer uma maior atenção das entidades responsáveis pelo futebol português.

Ainda recentemente, o juiz do FC Porto-Benfica da Taça de Portugal, partida que, segundo rezam as crónicas, teve uma arbitragem positiva sem influência no resultado, foi avaliado com uma nota de 2,5 numa escala que vai de 1 a 5. Já no Benfica-Sporting da época passada, que teve uma arbitragem desastrosa, a nota do árbitro foi de 3,7. Esta situação acontece quase de semana para semana. Alguém consegue explicar, de forma lógica, como pode isto acontecer?

Não é fácil criar um sistema de avaliação de desempenho que dependa de uma elevada dose de subjectividade. Mas aparecerem notas tão diferentes para exibições tão díspares, mostra que algo não está a funcionar correctamente. Ou os critérios variam de observador para observador, o que não faz qualquer sentido, ou então só podemos concluir que alguns destes responsáveis não têm qualquer competência para desempenhar o cargo que ocupam. Este cenário apenas contribui para desvirtuar a classificação dos árbitros e pode perturbar as suas actuações em campo, já que o mérito do seu trabalho nem sempre é devidamente avaliado e reconhecido.

Torna-se evidente que é necessário mudar a forma de recrutamento e preparação dos observadores de árbitros. E o debate em torno da profissionalização dos árbitros deveria igualmente abranger os observadores, estas figuras enigmáticas sobre as quais é depositada a responsabilidade de avaliar toda uma classe. O futebol só teria a ganhar com uma maior transparência neste âmbito, conhecendo-se as caras e o mérito profissional de todos os seus intervenientes.

Em tempos, Pedro Proença afirmou que ninguém entendia como é que uma má prestação poderia ter uma boa nota. Os próprios árbitros não compreendem as notas que recebem, sejam elas para mais ou para menos. E têm estado à mercê das notas dos observadores, que em muitos casos se trata de personagens sem qualquer passagem pelo mundo da arbitragem.

A função de observador deveria ser alvo de maior escrutínio. Por uma questão pedagógica, os mesmos deveriam explicar os critérios que utilizam e por que razão atribuíram determinadas notas aos árbitros. Também é por aqui que se pode trabalhar para a melhoria da arbitragem no nosso país.

Como entendo que os melhores árbitros devem ser designados para os melhores jogos, tendo a não concordar com a proposta de sorteio dos árbitros apresentada pelo Sporting, mas sou totalmente favorável ao sorteio puro dos observadores, sugerido igualmente pelo clube leonino. Seria mais um acto de transparência.

Se analisarmos a lista dos 103 observadores escolhidos, seleccionados, designados, sorteados, apadrinhados, impostos, ou seja qual tiver sido o secreto método de constituição dessa famigerada lista, sem que se saiba publicamente o nome do seu ou dos seus mentores, incontornavelmente teremos de concordar com o pensamento de António Oliveira: "ninguém conhece o currículo, experiência ou competências destes responsáveis" pela observação arbitral.

Torna-se indecifrável a existência de 103 observadores, quando apenas se realizam em cada semana 19 jogos nas competições profissionais. Como indecifrável será a sua distribuição pela associações distritais:

Coimbra - 12; Lisboa - 12; Porto - 10; Braga - 8; Setúbal - 7; Algarve - 6; Leiria - 6; Aveiro- 6; Madeira - 6; Viana do Castelo - 6; Évora - 5; Santarém - 5; Beja - 3; Bragança - 3; Viseu - 3; Portalegre - 2; Vila Real - 2 e A. do Heroísmo - 1.

Tornando-se também obviamente indecifrável, a razão pela qual as A.F. de Castelo Branco, Guarda, Horta e Ponta Delgada, não terão nenhum representante nesta "elite de observadores" e associações distritais como Coimbra, Viana do Castelo, Évora e Santarém, que não tendo nenhum árbitro de 1ª categoria, estão tão bem representadas nesta extensa lista de observadores. Talvez a situação resulte de estarem bem representadas no quadro de árbitros de 2ª categoria, cuja composição, por mais esforços que faça, não consigo encontrar em lado algum. Incapacidade minha, porventura, ou então o apagão providenciado pela APAF, no sentido de proteger os seus associados.

Seja como for, a mistificadora verborreia de Vitor Pereira, permanece ruidosamente em silêncio, quando a matéria dos observadores vem à baila. Nem ele nem ninguém aborda com coragem e frontalidade tão nauseabundo processo de classificação dos árbitros. Nem os próprios! Porque será?!...

Estupor de SISTEMA!...

Leoninamente,
Até à próxima

4 comentários:

  1. Eu tendo a concordar com o António Oliveira - até na questão da nomeação dos árbitros e sorteio puro dos observadores - mas discordo quando diz que "Ninguém conhece o currículo, experiência ou competências destes responsáveis (os observadores)". Alguém conhece tudo isso, e é em função de tudo isso que são nomeados. Nós é que não sabemos...

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    1. Estarei de acordo consigo, caro Rui Paiva. Mas penso que AO ao dizer o que disse, quis significar que muito poucos terão os conhecimentos necessários para serem observadores, que é como quem diz, "ninguém os conhece", ninguém dá nada por eles...

      Agora que o "sistema" os conhece bem demais e retira deles os benefícios que se sabem, ninguém tenha dúvidas!...

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    2. Estou inteiramente de acordo consigo.
      Já lá vão uns 20 anos, numa pausa de trabalho estava eu com dois colegas, sendo um deles, chamemos-lhe "Ribeiro", antigo treinador de futebol e ainda com contactos com algumas personalidades, e o outro, "Santos" de seu nome, entretanto já falecido, dirigente do Boavista até há uns 3-4 meses antes desta conversa.
      Num dado momento, o Ribeiro diz-nos qualquer coisa como isto: já se sabe quem serão os 2 primeiros, os que descem, de um grupo de 4 e os que sobem, também de um grupo de 4.
      Até aqui, nada de estranho, não fosse estarmos ainda em...Setembro!
      Em Abril seguinte, o "prognóstico" estava 100% correcto e só nas últimas jornadas é que o Salgueiros (?) se safou e a Académica inesperadamente ficou de fora.
      Ponto assente entre esses dois amigos: "os observadores f*** isto tudo"
      É perfeitamente admissível que o poder oculto do futebol passe (muito) pelos olhos destes artistas, sendo eles, muitas das vezes, a coagir os outros artistas, os do apito.

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    3. O caro "Liondamaia", com o exemplo da conversa com os seus dois amigos que aqui trouxe, disse tudo! Há muitos anos que se conhecem os suportes do "sistema": OS OBSERVADORES! São eles os veículos da coação, principalmente a partir do momento em que o Apito Dourado veio "proibir" os telemóveis! São os "jagunços" que na sua maioria não percebem népia de futebol, mas realizam o trabalho sujo, sem que ninguém lhes conheça o rosto. Os árbitro serão os maiores culpados, porque sem dignidade, continuam sem denunciar o "cancro" do sistema. Vitor Pereira viveu e trepou no meio desse pântano e vem agora contar-nos histórias para adormecer. É tudo farinha do mesmo saco: ontem às ordens de D. Bufas, hoje às ordens de D. Orelhas!...

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