quinta-feira, 2 de março de 2017

A fronteira do crime!...



CHICO GERALDES: ALIMENTAR A 'B' A PÃO DE LÓ

«Na esteira do Carnaval, espero que ninguém leve a mal. Que ninguém se precipite, sobre o que aqui vai ler, porque sobre aqueles que verdadeiramente admiramos é saudável que nos deixemos levar pela passional afeição e nos apartemos das cautelas mais cínicas a que não menos cinicamente vamos chamando de razoabilidade.

Com uma bola nos pés ao fim de 2 minutos qualquer um tem medida do seu talento. Um observador profissional que por ano vê mais de 200 jogos em estádio, outros tantos por análise de vídeo, mais aqueles que não se podem perder, por vezes, só pela maneira como um jogador pisa o relvado sabe se tem ali jogador. A definição da bilateralidade do jogador? Essa então é imediata. Ou nem por isso... Para 99,9% dos jogadores, na primeira acção com bola, podemos afirmar com 100% de certeza, que o jogador é um destro ou um esquerdino. Isto funciona sempre. Sempre, até tropeçarmos num jogador excepcional... como Francisco Geraldes. 

Um enganador com um talento tão honesto quanto honesto pode ser quem faz um uso tão eficiente de uma característica que lhe confere uma vantagem desleal sobre os que com ele partilham e disputam o centro do terreno de jogo. Em sequências completas de recepção, condução, drible e passe, este destro dá-se ao luxo de dispensar por completo o contacto da bola com o seu pé nato, para logo de seguida, encadear sequências semelhantes, mas já assumindo a sua destreza mais natural. Ele tem para todos os gostos e ocasiões. Conduzindo ou entregando de primeira, perto ou longe, verticalizando ou equilibrando na largura, a melhor forma de tentar anulá-lo é mesmo na base da porradinha. Mas até quando o jogo escorrega para uma dimensão mais física, sai-nos melhor a ementa do que o sorvete, porque o discreto alfacinha com ar de anjinho da Capela Sistina também é capaz de mostrar os dentes. Sem bola não desliga do jogo, e com bola tem uma chegada à baliza acutilante onde a meia distância que lhe sai fluída e potente é um dos seus traços mais vincados enquanto jogador eminentemente ofensivo.

Por vezes, mais parece que estamos a ver o jogador e um seu clone reflectido no espelho da nossa expectativa, permanentemente frustrada pela inteligência do jogador. Francisco troca de canhoto para destro, de número 10 para número 6, de jogador de apoios curtos para distribuidor em grande profundidade. Que dor de cabeça é jogar contra um jogador assim, e que permanente motivação é para os seus companheiros de equipa saberem que por mais difícil que esteja a bola, o Chico é capaz de encontrar uma solução.



É a personificação da superioridade intelectual de um jogador, a capacidade de iludir o adversário sobre a sua própria natureza e de alimentar a ilusão daqueles que jogam ao seu lado. Geraldes não tem qualquer atributo físico que lhe confira vantagem sobre os demais, e até por isso é um criativo a quem merece serem perdoados todos os custos dos riscos que toma, porque se num momento pareceu querer fazer o impossível e falhou, no momento seguinte arregaçou as mangas e mostrou que, também defensivamente, não está ali apenas para fazer que faz, e que não precisa de ser um Javi García para também ser importante no equilíbrio defensivo da equipa. Tem a leitura de jogo, a antecipação, a concentração competitiva.

Se existem intelectuais da bola que nunca deram 3 toques seguidos sem a deixar cair, outros intelectuais da bola existem que para felicidade de todos nós o destino os tornou em jogadores. E não estou a fazer a graçola fácil sobre jogador não descurar a sua educação e que leva livros para estágio, ou sequer sobre o seu treinador que se diz catedrático. Num jogo tão democrático como é o futebol, mesmo aqui temos de reconhecer aqueles que se afirmam pela inteligência do que são capazes de fazer e não pelo que dizem.

Nesta fabulosa modalidade, mesmo os baixos, os gordos e os coxos têm a possibilidade de subir ao Olimpo em chuteiras. Haja talento e quem o saiba reconhecer.

Aquele que parece hoje ser o prato do dia, é pão da semana passada para quem acompanhou o Liga Ledman da temporada passada. Há mais de 1 ano que o Chico não já merecia lá continuar. O futebol não é uma ciência oculta, para Geraldes a Primeira Liga portuguesa era o contexto competitivo mínimo para as suas capacidades.

Francisco Geraldes estava pronto para se bater contra as primeiras escolhas dos principais adversários do clube que assume ser verdadeiramente o seu desde pequenino. Como a conquista da Taça da Liga o provou, estava pronto para vencer competições e espalhar classe, qual xadrezista que está sempre 3 jogadas à frente do adversário.

Dizer que foi o Moreirense que desenvolveu este jogador é o mesmo que afirmar que antes de passar pelo Vitória de Setúbal o João Mário não corria, ou que o André Gomes não tinha intensidade para jogar na Luz, ou que o Bernardo Silva era um porta-chaves que quanto muito para remediar a defesa-esquerdo nas ausências do Eliseu ou do Djavan...

Francisco Geraldes não foi chamado de volta a Alvalade por causa do Moreirense, mas apesar do Moreirense. Numa equipa melhor, rodeado dos melhores, um grande jogador, competitivo e concentrado como ele já demonstrou ser, joga muitíssimo mais, e melhor.

Neste início de temporada o maestro era mais um controlador aéreo, tal a forma como uma equipa pequena como o Moreirense sentia dificuldade em acomodar no seu futebol um 10 com este perfil. Mas mais do que conformar-se às necessidades dos aflitos, Francisco Geraldes ensinou em Moreira de Cónegos como fazer do feio o bonito, como a transição pode ser rápida e ao mesmo tempo temporizada, organizada sem deixar de ser imprevisível. Mais difícil ainda, assumiu-se como ponto focal da sua equipa. Onde, e quando, muitos outros jogadores se esconderiam, Geraldes jogou muito para além da sua aparente fragilidade física, utilizando-a mesmo como ilusão para se libertar das marcações mais apertadas, mantendo aos seus apoios e referências e dando ao esférico um destino que mesmo de improviso parece ser planeado.

O Moreirense apenas tornou evidente a capacidade de liderança natural pelo talento que é o factor distintivo dos grandíssimos jogadores.

Ver este jogador defrontar o Desportivo das Aves no Estádio Aurélio Pereira um dia após não se ter levantado do banco na Amoreira até doeu. De comparável só a agonia de ter acompanhado Bernardo Silva no Seixal, preterido semana após semana nas chamadas à primeira equipa pelo Ivan Cavaleiro de corrida.

A história tende a repetir-se. Ou Geraldes passa definitivamente para a primeira equipa Alvalade, ou no próximo ano, Francisco Geraldes no Sporting... é mais bolos.

Algumas coisas mudam, outras continuam iguais. Certo é que quem testemunha o desperdício de talento não esquece.

Não se fazem omeletas com ovos que não se querem abrir.»
(Nuno Félix, Olho no jogador, in Record)


A pouco mais de um mês de completar 22 anos e com quase quatro épocas de futebol sénior, Francisco Geraldes começa a protagonizar mais um gritante "case study" dos muitos, desagradáveis e pouco abonatórios que Jorge Jesus, com sua teimosa e presumida omnisciência, tem permitido que lhe "rebentem" nas mãos ao longo da sua já longa e quase sempre bem sucedida carreira, mas à qual, por culpas e defeitos próprios demasiado conhecidos de todos, ninguém ousará chamar de imaculada.

Mesmo que o infortúnio não tivesse batido à porta de Adrien Silva, ninguém compreenderia que após a saída de Elias e o regresso do "moreirense" Chico Geraldes, ao capitão leonino continuasse a ser pedido em cada semana mais um passo rumo à exaustão. Por mil e um motivos sobejamente conhecidos de todos, mas muito particularmente porque nem o futuro de Adrien no Sporting será dado adquirido e menos ainda alguém poderá pensar o futuro do Sporting sem o Chico Geraldes. Quanto mais ainda assistirmos, com "invenções estapafúrdias e doentias", à quase provocatória atitude de não vermos acautelada nem a saída de um, nem o futuro do outro!...

O que Jorge Jesus está a fazer ao Sporting e a Geraldes, começa a aproximar-se perigosamente de uma linha a que, inevitavelmente, amanhã alguém chamará de...

A fronteira do crime!...

Leoninamente,
Até à próxima

21 comentários:

  1. Amigo Álamo,o pouco que percebo de tácticas de futebol, não me concede legitimidade para criticar JJ, por isto ou por aquilo, deixo isso para os verdadeiros entendidos na matéria, mas gostava imenso de ver FG ser integrado na equipa A, é um jogador que gosto mto, sempre pensei que o seu regresso fosse mais para substituir JM e não AS, mas isto digo eu, que como já disse percebo pouco de tácticas...

    SL

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    1. Amiga Leoa Maria, o substituto de João Mário tinha que ser encontrado logo no princípio da época e, ainda que as características não sejam as mesmas, quem acabou por fazer parte do trabalho dele foi Gelson Martins, aqui e ali complementado por AS e WC.

      Como poderá deduzir do texto de Nuno Félix, FG será um 8 como AS é, mas quando o talento atinge determinado patamar, o jogador quase que até a guarda-redes poderá jogar. Lembro-me de Paulo Sousa pelo Sporting ter chegado a jogar nessa posição contra o Boavista.

      FG será portanto o substituto natural de AS, mas julgo que a amiga terá compreendido muito bem o meu objectivo ao escrever este texto, depois de ter tido a oportunidade de ler o que disse Nuno Félix: algo de estranho parecer estar a passar-se com JJ...

      SL

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    2. Caro Álamo,"se bem me lembro",Paulo Sousa jogou no Bessa,a portero,pelo Benfica.

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    3. A memória do caro Vitorino Amnésico é melhor do que a minha. Efectivamente, Paulo Sousa contra o Boavista defendeu a baliza do Benfica. Foi na época de 1992/93. O meu obrigado pela correcção e as minhas desculpas pelo lapso.

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  2. Então?
    O Mestre da Táctica, e alter-ego de BdC, não tem olhos para ver? Se calhar não. Também não viu o Bernardo Silva...
    Será que Geraldes vai seguir o mesmo caminho de Bernardo e sair por 15 Milhões?
    Chamem o Mendes.

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    1. Pois, percebi perfeitamente! Só não percebo o que vem o "anónimo das 15:32" fazer a este blog. O BS e o Mendes alimentam blogs diferentes deste...

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  3. Estamos todos de acordo, mas para que JJ coloque Geraldes a jogar é necessário dizer-se que foi ele quem o descobriu, que o treinou e que o tornou jogador completo. Se assim não for JJ continuará a apostar neste talento na equipa B, vendo os jogos no banco ou da bancada...
    JP

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  4. É preciso ter calma,JJ já se referiu a este caso dizendo que há processos tacticos que o jogador precisa de enraizar,acredito que é uma questão de tempo até que o Diamante F.geraldes agarre um lugar no 11 do SCP.SL

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    1. Tudo tem o seu tempo, é certo! Mas para fazer o que JJ está a fazer, deixava o rapaz continuar no Moreirense, caro Tiago Silva.

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  5. Quem sabe se Jesus não estará a pensar para a posição que João Mário ocupava a época passada!

    José Dias

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    1. E depois o que fará de Gelson Martins, caro José Dias?! Acho que andarão por ali "invenções" a mais!...

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  6. Por muito que queiramos, o Francisco Geraldes não tem as mesmas caracteristicas que o Adrien tem.Acho que ele rende mais encostado á linha-tipo J.Mario ou Bryan Ruiz-do que a 8.Tem muita fantasia nos pés e a 8 pede-se mais trabalho e mais dureza do que propriamente fantasia e técnica.Acho que JJ está a trabalhar Palhinha/William para colmatarem essa posição sempre que o Adrien estiver indisponivel.
    È a minha opinião,por muito que gostasse de ver o Xico como o novo Adrien.
    Na próxima época,será tão importante manter os jogadores indispensáveis como acertar nas aquisições.Pede-se que as mesmas sejam cirurgicas,sem "apostas" mas com certezas.

    SL

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    1. Cada um de nós terá a sua opinião, naturalmente respeitável e legítima, caro Balakov. Para mim Geraldes é um 10 puro e muito singular, dado que quase consegue ser ambidextro e nunca jogará mal seja qual for a posição em que o coloquem. Mas no sistema de jogo idealizado por JJ não caberá um 10, mas sim um jogador como Adrien, que é 6, 8, 10 e qualquer outra coisa que o JJ lhe pedir. Ora perante a indisponibilidade de Adrien, o que fez JJ?? Entendeu pedir a WC que fizesse o lugar, com os resultados que todos vimos contra o Estoril: William nem foi Adrien, nem foi William, foi uma coisa que andou por ali a tentar fazer o melhor que pôde e soube! E tudo porquê: porque JJ ainda não experimentou aquela que parece a muita gente a melhor solução! Só isso caríssimo Balakov, com grande pena minha e de milhares de sportinguistas...

      SL

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  7. É incompreensível o que JJ está a fazer a Geraldes.
    Se era para o mandar para a bancada, porque não o deixaram ficar em Moreira de Cónegos, onde continuaria a ganhar experiência e a crescer?
    Receio de que, mais tarde, a evolução de Geraldes venha a ficar ligado à mão "de outro", Inácio, no caso, o que inevitavelmente ofuscará o brilho do "mestre"?

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    1. Com grande pena minha sou obrigado a concordar com o amigo Liondamaia!...

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    2. Se o deixava em Moreira, criticavam porque não estava no Sporting
      Se está no Sporting e não joga criticam porque não o deixaram ficar no Moreira
      Se o colocar a jogar e perder vão criticar porque o está a colocar a jogar, se ainda agora chegou
      O plantel são vinte e muitos jogadores, chegar e jogar de imediato não é para todos
      Espero que haja jogos em que o possa colocar a jogar e ainda espero mais, que o Francisco entenda essa oportunidade e a agarre com todas as suas forças
      Acredito que JJ está a fazer a melhor gestão possível do plantel, assim como acredito, se houvesse um pouco de sorte em alguns jogos, que jogamos suficiente para ganhar e as vitorias dão dinâmica, muita coisa seria e estaria a ser discutida de forma diferente

      ZZZ

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  8. Álamo, eu olhei para carinha do moço e já nem me apeteceu ler o que escreveu. Pode estar 100% certo, mas este amigo, para mim, é do lote de fabrico do Pedrinho imbecil. Este é um dos que foi embora de assessorias do governo por ter mentido quanto às qualificações. Mais um que se não fosse os seus amigos não tinha onde cair morto, que se limitou a amassar um conjunto de opiniões que vários adeptos têm e a escrevinhar estas linhas, sem que ninguém perceba bem porque alguém lhe deu um espaço para escrever sobre o que quer que seja, quanto mais sobre o Sporting... Se é que foi ele que escreveu, porque honestamente desconfio...

    Esta gente cansa-me...

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  9. Mas tu apoias o candidato que quer manter JJ à frente da equipa.
    É ou não é verdade?
    Explica lá isso s.f.f.

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    1. Ó "anónimo das 18:20" em primeiro lugar não deve tratar por tu quem não conhece! Em segundo lugar apoio e critico quem eu entendo e uma coisa não tem a ver com outra: o apoio e a crítica, se construtiva, não são incompatíveis, do meu ponto de vista. O seu ponto de vista pouco ou nada me interessa!...

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  10. Grande rasganço ao mestre da treta...

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