Decisão corajosa e acertada, em previsível acontecimento...

Dez anos depois da sua inauguração, as adversas condições climatéricas que hoje vão assolando o país, determinaram o emergir das vicissitudes de toda a complexa rede de improviso, superficialidade e compadrio a que obedeceu o projecto, construção e concumitantes supervisionamento e inspecção do estádio da Luz e, importará dizê-lo por corresponder à verdade, outros estádios construídos sob o guarda-chuva do Euro2004. Cedo ou tarde, aconteceria. Nada que não constituísse uma crónica previsível e... anunciada!

 

Lã de vidro

Lã de rocha

     

À semelhança do que acontece com a criminosa utilização do amianto, na cobertura de muitas escolas por esse país fora, para só falar no domínio público, a decisão sobre a utilização da lã de vidro (areia como base) que hoje vimos espalhada pelo relvado da Luz e, salvo melhor opinião, não lã de rocha (rochas várias como base) como a estação de televisão SIC logo adiantou, deveria ter sido tomada segundo rigorosos critérios que apenas tivessem em conta a saúde dos espectadores, atletas, técnicos e todo o extenso rol de frequentadores dos estádios e nunca outros factores economicistas que acabaram por determiná-la.

Andou bem, muito bem mesmo, Marco Ferreira, ao decidir não dar início ao jogo. Com todo ambiente do interior do estádio infestado de biliões de partículas deste perigoso material, todos os presentes e muito em particular os atletas e árbitros, pelo esforço físico e particular sublimação da função respiratória, estariam a ser colocados perante a possibilidade de lesões sérias a nível ocular, gástrico, cutâneo e, muito em particular, pulmonar.

Claro que assistiremos de imediato à utilização do bode espiatório do mau tempo, mas o cerne da questão estará sempre na utilização, na construção da cobertura do estádio, de materiais absolutamente desaconselháveis e que qualquer inspecção minimamente insuspeita e competente, deveria ter liminarmente proibido. Veremos se a UEFA será sensível aos argumentos benfiquistas e se não estará em causa a final da Champions.

A meu ver, o adiamento do jogo para a próxima 3ª feira às 20.15, no mesmo estádio, reduzirá naturalmente a perigosidade hoje verificada. Mas, não tapemos o sol com a peneira, não a eliminará completamente. E eu sei do que falo, por corresponder a uma matéria fortemente ligada à minha formação académica e profissional. Mas outros valores mais altos, que a saúde das pessoas que se possam vir a deslocar ao estádio, se levantam. E, estamos em Portugal...

Não terá vindo grande mal ao mundo, para além da decepção dos adeptos. Era apenas e tão só, um jogo de futebol. A tragédia terá estado mais nas palavras alarmistas de Mário Figueiredo, que na subversão das estratégias dos treinadores de cada uma das equipas, que terão de voltar a ser reinventadas.

Curiosa será agora, a antecipação sobre a quem serão atribuídos os bilhetes de ingresso na próxima 3ª feira. A fazer fé na proverbial "organização à portuguesa", temo que dificilmente será pacífica. Hoje já tivemos o "pequeno exemplo", com a saída dos adeptos leoninos do estádio, uma hora depois de ser anunciado o adiamento. A "tragédia" que foi admitida para os outros, nunca seria tragédia para os leões. Coisas da policia lisboeta e da gente daquele bairro!...

Leoninamente, 
Até à próxima