Segundo Zidane, o que faltará a Jorge Jesus?!...

GELSON, O MELHOR SOLISTA DA LIGA

«Gelson Martins não foi apenas o melhor jogador da primeira metade da Liga 2016/17: se excluirmos Luís Figo e Cristiano Ronaldo, é bem provável que, em mais de duas décadas, o campeonato não tenha tido um projecto de jogador português tão prometedor como se apresenta hoje o número 77 do Sporting. A primeira parte do enunciado pode não ser totalmente consensual, mas é a mais fácil de aclarar. Pizzi, Fejsa, Adrien Silva, Óliver, André Silva e Grimaldo (até se lesionar) estão, todos eles, a realizar uma época de nível formidável, mas Gelson tem estado uns furos acima de qualquer um deles. A segunda parte da formulação é, obviamente, mais atrevida e arriscada, até porque haverá sempre quem nos recorde, por exemplo, os inícios de carreira de Simão Sabrosa e Ricardo Quaresma. Claro que comparar talento é sempre uma tarefa complexa e capaz de, em muitos casos, levar a conclusões perversas ou, pelo menos, parciais. E é a consciência do risco que obriga a levar em conta que Gelson tem 21 anos e que tanto Simão como Quaresma tinham apenas 19 quando se transferiram para o Barcelona. Poder-se-á dizer que dois anos a menos fazem, nesta fase das respectivas carreiras, muita diferença e que a qualquer um deles teria corrido melhor a aventura na Catalunha se lá tivessem chegado com outra tarimba. É verdade, mas por outro lado olha-se para o futebol maturado de Gelson e para a forma como escuta e absorve as indicações do treinador ou dos companheiros mais velhos e não é difícil conferir que há ali algo de muito especial a distingui-lo, uma maturescência precoce que normalmente acaba por ajudar a diferenciar os jogadores verdadeiramente invulgares. "Trabalho, seriedade e respeito. Se tens estas três coisas, serás alguém na vida", explicou Zinedine Zidane numa entrevista recente. Gelson tem tudo isso e muito mais. Foi, de resto, já essa percepção que nos levou a colocá-lo, logo no início da época passada, muito acima do nível do seu colega Matheus. Havia, na altura, quem valorizasse mais o malabarismo do brasileiro, mas logo aí era possível perceber que Gelson já entendia o jogo enquanto Matheus só percebia da bola. E é também por isso que Gelson parece hoje mais do que preparado para jogar em qualquer equipa de ponta, enquanto Matheus vai precisar de continuar a crescer, provavelmente no Belenenses. 

Para ser inteiramente justo importa ainda esclarecer que Bernardo Silva não chegou a entrar nesta comparação dos genuínos eleitos porque verdadeiramente nunca chegou a jogar no campeonato português. Incapaz de nascer dez vezes, foi expelido do Benfica para o Mónaco sem que lhe fosse dada uma oportunidade na Luz. Saiu com 19 anos e hoje, aos 22, já somou 116 jogos e marcou 22 golos pelo Monaco, sendo um jogador que ainda tem na versatilidade uma vantagem sobre Matheus (desde logo porque é capaz de assumir três ou quatro posições distintas no campo e sempre com alto rendimento). E quem sabe se a aposta de Jesus em Gelson (e também em Rúben Semedo) não foi, pelo menos em parte, um acto de contrição de um treinador que, até aí, só parecia disposto a apostar na formação caso o seu plantel fosse afectado por uma praga de peste bubónica… Ainda bem que mudou de opinião. Caso contrário não teria hoje à sua disposição um jogador que tem um peso distintivo e que faz transladar grande parte da gravidade do jogo para a zona onde ele atua.

Gelson é uma daquelas aves raras que martelam com gosto as calamidades dos adversários. É um agitador nato, um transgressor capaz de inventar coisas inusitadas naquele jeito desafectado e natural que só ele parece ter. Dá ideia de jogar sempre à velocidade máxima, com a precisão máxima e um vigor impressionante. E gosta de se exibir nas melhores passerelles (mostrou-o em Madrid e em Dortmund), onde muitos candidatos a craques ficam tolhidos. Depois, é ainda capaz de oferecer à sua equipa estilo, ambição e bom gosto. Com ele, o Sporting tem o toque, as combinações e a música. Ainda lhe custa encontrar a baliza, é verdade. De facto, falta-lhe clarividência na hora do remate, mas, como dizia Ninette de Valois, a irlandesa que fundou o The Royal Ballet, de Londres, "não se pode criar um génio – o máximo que dá para fazer é nutri-lo". Ora, o génio de Gelson está lá e agora só é preciso alimentá-lo e fazê-lo crescer para que os golos também medrem.

Duarte e Palhinha 

estão prontos

A metamorfose tardia que parece atingir Jorge Jesus faz sentido até porque o Sporting tem sob contrato alguns jovens de elevado potencial. Entre eles estão o central Domingos Duarte e o médio defensivo João Palhinha, cedidos ao Belenenses, mas com grandes probabilidades de regressarem a Alvalade já este mês, principalmente o segundo. Curiosamente, têm a mesma idade (21 anos) e a mesma estatura (1,90). E ganham imenso na comparação, por exemplo, com Douglas e Petrovic. Mas entre o vasto lote de emprestados destaca-se ainda Francisco Geraldes (igualmente com 21 anos), um médio centro de muita qualidade que em Moreira de Cónegos vem jogando no apoio ao avançado. Um destaque positivo merece-o ainda André Geraldes, lateral-direito que o Sporting mantém a rodar no Setúbal, onde Ryan Gauld começa finalmente a sair do anonimato. Tobias Figueiredo (Nacional) e Iuri Medeiros têm estado abaixo das exp

ectativas...»

(Bruno Prata, Ludopédio, in Record)

Navegando sobre vagas alterosas numa estranha mas real dicotomia, Bruno Prata acaba por produzir uma crónica agradável, bem estruturada, bem trabalhada, mordaz, mas, a meu ver... terrivelmente coerente.

Segundo Zidane, o que faltará a Jorge Jesus?!...

Leoninamente,

Até à próxima