Derrotar os impossíveis !!!...

 

 

"... A minha vida foi sempre a ajudar no que era possível, mas o atletismo português nunca esteve tão mal. Não há dinheiro, só há para o futebol. Há pessoas que acham que eu não gosto de futebol, mas gosto. [...]  A primeira coisa que me tramou foi quando o Sporting fez um estádio sem pista de atletismo. Foi a primeira machadada que me deram.

[...] Um dia vieram perguntar-me se queria ver as maquetes. Fui lá e estavam seis ou sete. Perguntei: “Qual é a que tem pista de atletismo?” E responderam: “Não há.” Ia-me zangando a sério. Como é possível? Treinava todos os dias, de manhã e à tarde, falava com toda a gente...

[...] O Sporting era campeão de atletismo em pista, além de também ser em corta-mato. O clube era conhecido em toda a parte do Mundo porque os seus atletas bateram recordes nacionais, da Europa, do Mundo e até olímpicos em toda a parte. Não por causa dos jogadores de futebol...

[... ] Fiquei muito desgostoso, porque tinha uma obra. Já tínhamos batido recordes no_Japão, nos EUA, em_Inglaterra, em Itália, em_Espanha. A minha ida a 12 Jogos Olímpicos foi muito importante._Fui convidado para o curso de professores de atletismo de França e de Espanha. Outra machadada foi transformarem o futebol num desporto nocturno, o que foi um grande disparate. Antes as pessoas vinham da província ver os jogos. Acabava às cinco da tarde e iam para casa...

 

[...]  Demorou 39 anos o que toda a gente dizia ser impossível. Chorei que nem uma Madalena no dia em que aconteceu. Toda a gente dizia que era impossível e eu derrotei os impossíveis ...".

(Moniz Pereira, excerto de entrevista ao CM)

O homem que "derrotou os impossíveis", vive triste e decepcionado o ocaso de uma vida dedicada aos amores da sua vida: o Sporting e o atletismo! E tem razão! Roubaram-lhe a sua fábrica de campeões! Transformaram em pó o melhor e mais completo estádio olímpico deste pobre país!...

 

No meio da histérica loucura colectiva do "roquetismo", só me lembro de uma única voz que afinou pelo diapasão de Moniz Pereira. Foi ele Tomaz Aires, que defendeu a remodelação de Alvalade, em vez do salto para o abismo que nos destruiu a saúde e os sentimentos.

 

Já não há mais nada a fazer. O tempo não volta para trás. Mas a entrevista de Moniz Pereira deveria servir de reflexão para o novo dirigismo do Sporting Clube de Portugal. Todos os seus esforços, mais do que apontarem quase só no sentido da recuperação do futebol, que não se discute pela bandeira maior que representa no Clube, deveriam ter em conta três coisas, que representariam o amenizar de todo o mal que foi feito e o regresso à glória de tempos passados: rápida e urgentemente, recuperar o futebol das tardes de Domingo, construir ao lado do estádio José Alvalade o pavilhão João Rocha e avançar para a construção de uma pista de atletismo de última geração, que só poderá ter um nome: professor Moniz Pereira! E que ninguém venha falar de impossíveis ao homem que provou à saciedade que podem ser derrotados e a todos nós que vibrámos com as vitórias do passado e vivemos com a saudade da sua lembrança!...

 

Leoninamente,

Até à próxima