sábado, 18 de agosto de 2012

Entre a dignidade, a honra e a falta de valores!...


Tenho-me mantido sereno, contido e em profunda reflexão, sobre o triste incidente protagonizado por Luisão em Dusseldorf. Pelo respeito que tenho ao Desporto em geral, à grande instituição Benfica em particular e a todos os verdadeiros benfiquistas.  Àqueles muitos, de quem sou amigo, aos que respeito, considero e admiro e a todos aqueles que no anonimato comungam comigo ideais e valores eternos. Nada disso me impede de ter a minha opinião perfeitamente formada. Mas preferi a reserva e a contenção.
Há muito que admiro Miguel Lourenço Pereira, autor de um dos melhores blogues de intervenção na área desportiva, escrito em língua portuguesa, o "Em Jogo". Hoje deparei com mais um dos excelentes trabalhos com que regularmente nos presenteia. É sobre Luisão e o Benfica. E apesar de aqui deixar o caminho até ele, a riqueza do seu texto é de tal ordem, que com a devida vénia, sinto-me honrado por aqui o colocar na íntegra. Para reflexão de todos os desportistas, de todos os benfiquistas, de todos os sportinguistas, de todos os portistas... de todos os adeptos dos mais humildes clubes! A dignidade e a honra jamais terão preço:
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LUISÃO,                                                            Sexta-feira, 17 de Agosto de 2012
O BENFICA E A
FALTA DE VALORES

No episódio da silly-season protagonizado por Luisão o que mais preocupa nem é sequer o gesto do defesa brasileiro. Nem a atitude exagerada do árbitro alemão. O mais triste é constatar que o clube que já representou Portugal ao mais alto nível caiu numa crise profunda de valores. Este incidente não só deixa a nu a falta de moral do clube encarnado como abre um perigoso precedente para o futuro imediato.

Na família benfiquista o episódio de Luisão transformou-se agora numa conspiração internacional liderada desde Berlim pelo governo alemão contra o Benfica e o futebol em Portugal. Seria talvez o cumulo do absurdo se não fosse provavelmente apenas mais um dos muitos comentários que se seguirão a ouvir sobre este triste caso desde a Luz. Pragal Colaço, homem de confiança da direcção, presença assídua em tertúlias do canal oficial do Benfica, advogado conhecido por achar que a violência é o caminho que os encarnados têm de seguir para recuperar a hegemonia do futebol português, não surpreende com as suas declarações. Mas deixa em evidência a direcção sem norte nem sul de um clube que foi um símbolo de moralidade durante largos anos.
O árbitro do Fortuna Dusseldorf - Benfica, o alemão Christian Fischer, não caiu sozinho. Não foi empurrado pelo ar nem tropeçou na própria sombra. Luisão, capitão ou não, não pode actuar como actuou. Seja isso uma agressão, um encosto premeditado, um choque de peito. O jogador - um internacional com uma carreira de mais de uma década - devia saber que o árbitro é uma figura sagrada no universo desportivo. E no árbitro não se toca. De nenhuma forma. Muito menos com o peito, muito menos com a arrogância de quem vem reclamar razão num lance em que o seu colega de equipa fica muito mal na fotografia. Luisão devia sabê-lo. Esteve no Mundial de 2002, o mesmo em que João Vieira Pinto mostrou aos portugueses o que não fazer a um árbitro num jogo oficial. Pagou por isso. Portugal também. Mas se Luisão depois de tanto anos como jogador não sabe que não pode tratar o árbitro de um jogo, oficial ou não, como um colega de rua, então o Benfica devia sabê-lo. Esse é o grande problema.
Não me admira que na Alemanha estejam estupefactos com este caso.
Com a actuação do benfiquista, com a reacção algo exagerada do árbitro mas, sobretudo, com a actuação do clube.
O Benfica, sob o mandato de Luis Filipe Vieira, tem vindo progressivamente a afastar-se da imagem do clube que foi. Vencer a todo o custo, seja a sustentabilidade financeira ou moral da instituição, tornou-se na palavra de ordem. Foi assim nos últimos anos com queixas de vários clubes à actuação de jogadores, técnicos e directivos dentro e fora do relvado. Foi assim no ano em que se sagrou campeão com Jorge Jesus ao leme, uma equipa que começou o ano a jogar um futebol fantástico e que acabou a temporada asfixiado física e psicologicamente, e a pedir a hora. Foi assim quando impediu o FC Porto de celebrar um titulo apagando as luzes de um estádio que já iluminou o futebol português. E tem sido na forma como tem dado aos jogadores carta branca para agir no relvado com total impunidade moral.
O Benfica que se fez grande era um clube onde não havia espaço para atitudes como a de Luisão.
Antes de qualquer sanção a UEFA, FPF ou FIFA, devia ter sido o próprio clube a recriminar pública e internamente o seu capitão. Há acções que não se podem permitir a ninguém. Devia ter sido o clube a dar o exemplo moral, castigando Luisão com a perda da braçadeira, com uma suspensão interna ou uma multa pecuniária. Qualquer um desses gestos teria sido suficiente para demonstrar uma autoridade moral de um clube campeão que sabe estar no mundo. Não seria uma decisão consensual nem fácil mas as decisões correctas nunca o são.
O que fez o clube foi remar a favor da corrente mas rumo a um precipício. Destroçou, um pouco mais, o escudo que representa ao tratar o árbitro como um actor de comédia, um agente ao serviço de outros interesses, um símbolo do anti-benfiquismo. Ao transformar o agressor em vitima, em herói de resistência, capaz de unir um balneário com um gesto que merecia reprovação de todo o plantel. Agiu no sentido de desculpabilizar e com isso acabou de assumir a culpa de ser uma nau sem capitão, à deriva. Um clube mais pequeno.

Sob a gestão da FPF parece evidente que Luisão não receberá nenhum tipo de sanção desportiva. A justiça desportiva portuguesa não é algo propriamente de que um cidadão se possa fiar. Mas mesmo que o central fosse suspenso, de alguma forma, a atitude do clube já está retratada para a posteridade. Os adeptos e associados do clube que ainda é aquele que mais títulos de campeão nacional ostenta, mandou uma mensagem clara e directa. Contra ventos e marés, custe o que custar, pisando o que seja preciso pisar, o Benfica carrega contra tudo e contra todos. Pode servir para ganhar um votos em Novembro, mas também servirá para que alguém no futuro olhe para trás e diga que os valores deixaram de vestir de encarnado há muito tempo.

Miguel Lourenço Pereira às 00:29
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Leoninamente,
Até à próxima

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