A inércia da mente !!!...

                             

O insucesso da delegação portuguesa nos Jogos Olímpicos, ainda que seja em parte, uma natural consequência do escasso apoio financeiro oficial e de muitas outras menos naturais consequências intimamente ligadas a este estranho povo que "nem se governa nem se deixa governar", penso que derivará de uma razão fundamental, indissociável do motor de toda a realização humana: a mente.

Quase todos, senão mesmo todos, os grandes sucessos desportivos, resultaram do primado da intervenção da mente sobre os músculos. O mais rápido, o mais alto e o mais forte, não resultam apenas das condições prestadas a quem o consegue, nem dos cada vez mais sofisticados métodos de preparação e das mais ou menos elaboradas tácticas engendradas pelos técnicos. Um vencedor poderá sê-lo por isso tudo, mas só conseguirá a vitória quando a sua mente estiver treinada, convicta e absolutamente segura disso, vivendo toda a sua preparação numa eterna insatisfação perante os resultados que sucessivamente vai alcançando.

Lembro-me do que era há um bom par de anos o râguebi português, antes da década fabulosa de Tomaz Morais. Lembro-me do que era o Chelsea F.C., antes da chegada de José Mourinho. E lembro-me sobretudo do que era a selecção holandesa antes de Rinus Michels fazer dela a fabulosa "laranja mecânica" de 1974.

A insatisfação de uma mente preparada para aceitar apenas a vitória, é o único e verdadeiro motor que conheço para o sucesso. A contemporização, a desculpa estéril da conveniência, o conformismo desculpabilizador, a satisfação e glorificação da mediocridade, a subordinação da ambição a todas e quaisquer envolventes do fenómeno desportivo, jamais conduzirão ao sucesso. Será difícil estabelecer um vocábulo adequado a este estado e eu confesso que ainda não o terei conseguido e para que possa prosseguir o meu pensamento, chamar-lhe-ei de inércia da mente.

Há muitos, muitos anos que se terá instalado no Sporting Clube de Portugal a cultura da inércia da mente. O resultado desse terrível e destruidor vírus?!... Dezoito anos da amargo jejum, interrompidos por dois títulos milagrosos ou circunstanciais e por nova recidiva que já vai em dez anos. E os efeitos dessa nefasta e terrível doença, desgraçadamente, tem vindo a ser alargados a todas as modalidades que, colocando o clube no topo do ecletismo nacional, europeu e mundial, não contrariam e antes confirmam a patologia da modalidade rainha.

Quando Ricardo Sá Pinto, de pára-quedas, foi colocado no comando do futebol de Alvalade, acreditei num milagre e na rápida exconjuração da inércia da mente. E até à desgraçada tarde do Jamor, alimentei em mim esse poderoso benefício da dúvida. Com o espírito mais triste que a noite que sucedeu a essa tarde fatídica, no meu regresso a casa, colocaram-se-me tantas e tão fortes dúvidas que três meses depois ainda por cá bailam. E ainda que os factos me convençam muito mais que as palavras, alguma importância delas somos obrigados a retirar.

As declarações de Ricardo Sá Pinto, no final do jogo de ontem, que aqui poderão ser recordadas, serão porventura sintomáticas de que a inércia da mente já terá tomado conta dele. Mas o contágio alargou-se. Se não, reparem nesta outra afirmação, de Carriço, que também parece ter deixado inertizar a mente. E este quase insulto de Jeffrén, que naturalmente acabaria por desencadear outro insulto de um adepto sportinguista, porventura deselegante, sim senhor, mas carregado de simbolismo e merecimento.

Claro que este grande amor que o formidável universo sportinguista dedica ao seu glorioso clube, vai continuar a dar tempo. Claro que irá continuar a compreender os "batatais" de Huelva que não deixaram o Sporting ser feliz, apesar de quase todos reconhecerem muito bem quem foram os batatas. Claro que todos acreditaremos até morrer, que um dia "o sol brilhará para todos nós". Mas enquanto o "status quo" desta pobre e franciscana inércia da mente não for erradicado, abrupta ou progressivamente de Alvalade - à bruta mesmo é que eu gostava -, os 10 caminharão "alegremente" para os 18, se é que não conseguiremos bater mesmo esse doloroso e traumático record.

Tenho aqui gritado, na convicção profunda de que se trata de uma questão de vida ou morte, que TEREMOS DE SER CAMPEÕES ESTA ÉPOCA, recusando a inércia da mente que quase vejo generalizada e fortemente instalada. Mas temo que a minha voz me doa antes que alguém a ouça!!!...

Leoninamente,

Até à próxima