sábado, 4 de janeiro de 2014

O clubismo, o carácter, os afectos, a dignidade ou... nada disso!...



"Primeiro foi André Villas-Boas a dizer que, se um dia regressasse a Portugal, não faria sentido treinar o Benfica ou o Sporting. Depois foi Cristiano Ronaldo a explicar que, na sua galeria de troféus, a grande lacuna é hoje o título de campeão português pelos leões. Falam de barriga cheia? Admitamos que sim, se quisermos mesmos ser cínicos. Por outro lado, nem Adrien nem William Carvalho têm os currículos ou sequer as contas bancárias atestados/as e ambos também já haviam sugerido, cada um à sua maneira, que dificilmente os atrairia jogar num rival directo do Sporting, o clube que um dia representou o limite das suas ambições. 

Eu, que aprendi a gostar de acreditar, vejo aqui (aqui e não só) crescentes sinais de que o clubismo está de regresso. E, como também gosto de perceber o futebol à luz da História e dos ciclos da nossa psique colectiva, vejo nesse regresso uma humildade e uma emoção que, além de gratidão, expressa uma certa sensibilidade para com o estado do país, para com os desafios por que passam as suas famílias e para com os sonhos de justiça e de bondade (mesmo sem milhões, isto é) que, por esta altura, povoam tantos pais e mães portugueses. 

Os cínicos da ética queirosiana hão de chamar-me esotérico, como um dia eu próprio chamei aos tipos como aquele em que a idade me vem tornando. Não me importo. Feliz ou infelizmente, sou ateu, não acredito nos astros e continuo a rir-me do poder da atracção. Mas, em 2014, vou ter em vista o lado decente do Homem. E o clubismo, tendo zonas cinzentas, continua fundamentalmente mais decente e belo, do que o mercado e as suas oportunidades.".

Permitir-me-ia corrigir algo no discurso de Joel Neto. Apenas para referir que, não deixando de reconhecer traços comuns entre as palavras do adepto que mora em André Villas-Boas e os sentimentos expressos por Cristiano Ronaldo, Adrien Silva e William Carvalho, haverá sempre um factor incontornável que jamais poderá ser menorizado na afirmação de clubismo: a determinante simbiose entre o carácter do sujeito e os afectos que transporta em si e lhe estarão, sempre, subjacentes.

Se a esse inalienável "pormaior", não correspondesse um peso decisivo na definição de clubismo, como entender as juras de amor eterno de um qualquer João Moutinho, Simão Sabrosa, Carlos Martins e tantos outros merecedores do nosso repúdio, e o seu contrário absoluto, consubstanciado nas personalizadas e dignas posturas de Miguel Lopes, André Cruz, Alberto Acosta, Juan Seminário e tantos outros, merecedores das nossas reverência, homenagem e orgulho?!...

Leoninamente,
Até à próxima

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