Jardim é diferente

 

 

Penso que qualquer adepto sportinguista, perante o desempenho que a equipa principal do Sporting Clube de Portugal vem demonstrando desde o primeiro jogo desta pré-época, já não terá dúvidas sobre a marca que Leonardo Jardim está a deixar em cada um dos componentes do grupo que lidera e, reflexamente, no trabalho colectivo responsável, dinâmico, solto, alegre e descomplexado a que agradavelmente vimos assistindo.

 

Timidamente e sempre com o grande temor de decepções passadas, tenho refreado os meus aplausos ao máximo e recusado entregar medalhas seja a quem for. Mas hoje li uma notável crónica de quem, por dever de ofício, terá seguido reserva semelhante, ainda que o coração lhe pedisse para expressar o mesmo que eu, com dificuldade, tenho vindo a refrear.

 

José Ribeiro, subchefe de redacção do jornal Record, terá entendido, perante os factos incontornáveis que a generalidade da crítica já não se atreve a negar, que a sua reserva já não faria sentido e que era chegada a hora de premiar os seus leitores com a expressão real e objectiva do seu pensamento.

 

Deixo-vos com esse seu pensamento, que eu não me atreveria a expressar melhor, porque o aplauso, quando merecido, não deve ser regateado:

 

Jardim é diferente

Há um ano, mais ou menos por esta altura, escrevi que o Sporting tinha equipa de grande a jogar à pequeno. E que tal contradição podia dar muito mau resultado. Era apenas uma opinião, que se tornou numa evidência poucas semanas depois. Nesse tempo, Sá Pinto dava prioridade à segurança, tinha um meio-campo recuado e a equipa “batia” bolas na frente, arriscando pouco no jogo envolvente, por forma a não se expor ao adversário. Havia Insúa, Izmailov, Elias, Capel ou Wolfswinkel. Gente que sabia jogar a bola, se bem orientada. Resta Capel.

O primeiro grande contraste entre o Sporting actual (viu-se com a Real Sociedad e ontem, com o Nacional) e o que esteve na origem da pior classificação da história reside precisamente no meio-campo. Leonardo Jardim tem o trio (um mais dois) dez metros à frente, quando comparamos essa estrutura com a dupla defensiva que Sá Pinto colocava à entrada da área. Jardim alarga e estica o campo com os extremos, por contraste com Sá Pinto, que fazia campo pequeno mesmo em posse de bola. E, não esquecer, Jardim estimula as trocas rápidas de bola a toda a largura no meio-campo ofensivo. Corre maiores riscos, claro, provavelmente verá a equipa perder muitas bolas, pelo menos nesta fase inicial da temporada. Mas quando o carrossel funciona, esta equipa, com mais fracos recursos individuais, cresce e torna-se grande. Teve essa dimensão em muitos momentos da segunda parte frente aos bascos; mostrou os “dentes” ao Nacional, mesmo só marcando um golo (podia ter feito 3 ou 4). É assim que uma equipa cresce e reforça a ambição.

Nos dias que correm, a julgar por algumas escolhas, vários dirigentes parecem ter os treinadores em fraca conta. Colocam no mesmo saco os bons e os curiosos, olham para o campo e não entendem o que distingue os primeiros dos segundos. Inácio e Bruno de Carvalho merecem, para já, esse crédito: perceberam que Leonardo Jardim era diferente. Para melhor.
(José Ribeiro, Contas feitas - sexta-feira, 2 agosto de 20130)

Leoninamente,
Até à próxima

P.S. - Jardim é tão diferente, que não me atrevo a dizer onde estaria hoje, se Bruno de Carvalho...