sábado, 29 de outubro de 2011

Prisma, futebol, ontem e hoje !!!...

As palavras são um brinquedo. Alguém o disse já. A nossa querida Rosa é praticante e outros o serão também. Mas foi ela e a sua poesia, que me abriram a janela dessa brincadeira e me acordaram para o prisma. Sim, porque essa palavra, por maioria de razão, também serve para brincar.
Como Keating, em Clube dos Poetas Mortos, na importância de analisar uma situação, ou a vida, ou os sentimentos, ou as coisas, de diferentes formas ou visões, ou seja, sob outro ângulo, outro prisma. Como um recreio de crianças, onde forma, visão, ângulo, conceito, perspectiva, geometria, óptica, brincam em balbúrdia com prisma, o padrinho do jogo. Como eu hoje gostaria de tentar, fazendo colidir o futebol com a máquina do tempo, previamente engatada numa mudança de inversão de marcha.
Ontem o futebol era domingo, terra batida, calções largos e abaixo do joelho e a bola era couro duro, gasto pelo chão agreste, disputas e pontapés de couro também duro e servia quase para um campeonato. Era visto e apreciado com fervor e paixão apenas pelos privilegiados da casa e por meia dúzia de adeptos adversários que se aventuravam nas estradas e comboios do tempo. Ouvido à distância pela rádio, em magotes à volta de um caixote, que nas tardes de domingo deixava ouvir as vozes cristalinas e que todos conheciam, de “relatadores” como Artur Agostinho e Amadeu José de Freitas e comentadores como Alves dos Santos. E discutido e lido com calor e paixão às segundas e terças-feiras, à mesa de um café ou na taberna, e em “A Bola” ou “Record”, ao tempo credíveis, isentos e exemplos de jornalismo desportivo. Ontem o futebol era Sporting e “os cinco violinos” e pouco mais!... Eusébio viria muito mais tarde e Calabote houve apenas um. Os imitadores também viriam mais tarde, com as mesmas ou outras cores.
Hoje o futebol é como o Natal, é quando “uns homens” quiserem, não tem dia marcado. É mais televisão, relvados a fazerem lembrar panos de bilhar e equipamentos “prêt-à-porter”. As bolas são sempre novas e às dúzias e repostas diligentemente – às vezes a diligência depende da estratégia caseira - em jogo por adolescentes e são macias e de design sofisticado e o “marketing” manda que algumas sejam enviadas para as bancadas e as outras hão-de servir apenas para treinar. E são pontapeadas por couro macio, confortável e à medida do pé e duma policromia que os clubes, com todas as suas normas regulamentares, não controlam, porque valores mais altos se levantam. E é visto nas bancadas, por alguns milhares da casa e por menos milhares com as cores adversárias, mas os milhões, de todas as cores, ficam no sofá, com o plasma na frente, durante os sete dias da semana. E ouvido em rádios do tamanho de uma caixinha de fósforos, com um fiozinho que leva, em silêncio, o som aos ouvidos e onde já não se ouve o nosso querido Artur e os locutores de serviço “cantam” todos a mesma música, de cor e da cor, sem isenção, sem profissionalismo, sem dizerem o que se passa nos relvados, mas o que lhes vem à cabeça ou lhes encomendam as subserviências.
Já não há “cinco violinos”, nem Eusébio, e os árbitros são todos “calabotes” e jamais “daltónicos”: usam todos reluzentes apitos dourados e exibem um cronómetro em ouro e de marca celebrizada pelo custo, em cada pulso, que a sua corporação faz questão de lhes fazer chegar, de proveniência insuspeita. A doença que assola as rádios contagiou os jornais, que de três passaram a sete edições semanais, baixando as audiências, a qualidade e a isenção, exibindo hoje descaradas posições monocromáticas capazes de fazer virar na tumba os pais do jornalismo desportivo. Também já não há tabernas e as discussões das segundas e terças nos cafés, imitaram no calendário o futebol que antes lhes servia de tema e este foi substituído pela crise económica global e pelas divergências pessoais sobre o comprimento do nariz dos “pinóquios” que enxameiam a cena política. Agora as discussões futebolísticas mudaram de palco e acontecem, noite dentro, no pouco tempo que sobra da azáfama e das dificuldades quotidianas, na blogosfera e redes sociais.
O prisma – de novo o brinquedo! – ou a sua ausência, fazem-me acreditar que no futebol, apenas permaneceram imutáveis duas coisas. Uma a sua essência, a raiz de uma ideia que arrastou multidões e se globalizou, se universalizou: o futebol em si, como desporto, como arte. A outra, mais abrangente, mais mística, mais apaixonante, mais agregadora e de grandeza ímpar:

o Sporting Clube de Portugal!!!...


Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Mais um excelente artigo, enquanto isso os nossos meninos (iniciados) somam e seguem: Real Sport Clube (Massamá) 0 / Sporting Clube de Portugal 5

    ResponderEliminar
  2. Ai Pedro, entre uma coisa razoável e a excelência, vai um mundo de diferenças!... Bondade sua que eu agradeço. A ideia bailou e depois todos nós temos momentos bons e outros que nem tanto. Desta vez foi assim, assim...
    Como os nossos meninos em Massamá (0-5) e ontem à noite os maiorzinhos em Aveiro (0-2)!...
    Há que carregar baterias para os dias menos bons...
    Um abraço

    ResponderEliminar