HÁ QUANTAS ÉPOCAS A LIGA PORTUGUESA É MESMO UMA FARSA?
«O futebol português, entre a sua fantástica capacidade para produzir talentos e a sua não menos fantástica apetência para colocar sob suspeita as fundações em que assenta o sucesso desportivo, já desperdiçou várias oportunidades para limpar tudo o que tinha de ser limpo — ao nível de comportamentos, processos e protagonistas menos recomendáveis — para poder ser observado, cá dentro e lá fora, como um verdadeiro ‘fenómeno’, sem sombras e sem a sensação de que muito daquilo que é alcançado resulta de manobras de bastidores, manigâncias várias e o jogo propriamente dito não passa de um ‘fait-divers’, um passatempo em que a acção dos jogadores e dos treinadores não tem praticamente influência alguma, porque o que pesa efectivamente — a sensação que se transmite — é tudo aquilo que é pré-fabricado na arena dos bastidores.
O Porto carrega sobre os ombros a acusação de que, entre os méritos próprios das conquistas, resultantes de boas escolhas, boas contratações, bons intérpretes, o volte-face conseguido na história do futebol nacional teve por base uma espécie de ‘jogo’ (quase sempre) invisível. Essa acusação foi promovida, essencialmente, por responsáveis do Benfica.
Agora temos o inverso: são essencialmente responsáveis do Porto a quererem demonstrar que o actual e mais recente ciclo hegemónico do Benfica assenta, não tanto nos méritos das boas escolhas, das boas contratações e dos bons intérpretes, mas em tudo aquilo que é forjado fora das quatro linhas.
São os clubes (o Sporting também entra nisto, com toda a força, tentando fazer crer que não consegue chegar ao título há 15 épocas, porque as ‘forças externas’ o têm impedido…) a dar conta de que o futebol português é um embuste, uma farsa, um teatro de actores e marionetas, numa troca constante de acusações para as quais o grau de consequências penais tem sido — apesar do ruído — muito baixo. Quem tem assistido, ano após ano, época após época, a tudo o que tem sido dito pelos protagonistas do futebol em Portugal, pode ficar surpreendido com o que se está passar?!…
Volta a falar-se agora do Apito Dourado e fazem-se comparações sobre a forma como foi tratado, na altura, o processo, e este que acaba de nascer e promete fazer correr muita tinta. Há algo, contudo, que interessa reter: as escutas do Apito Dourado, então tornadas públicas, resultaram de um processo de investigação oficial e não de uma denúncia do Benfica. Discute-se ainda na praça pública a questão da legalidade em torno da publicitação dessas escutas e a não aceitação como prova, na produção da sentença. Neste caso (ainda) não há — que se saiba — factos apurados resultantes de investigação, mas de uma denúncia do Porto, assente em trocas de emails que, a serem verdadeiros e não havendo truncagens, e considerando as mais recentes revelações (de terça-feira passada), comprometem o Benfica. O que se discute, agora, é a forma como o Porto chegou aos emails. Se houve crime informático ele tem de ser punido, mas isso não anula nem o conteúdo dos emails nem o imperativo da investigação. Pelo passado, pelo presente e pelo futuro.
Esta é, pois, mais uma oportunidade para limpar tudo o que tem de ser limpo. Estejam onde estiverem os culpados, sejam eles quem forem, é preciso investigar tudo o que precisa de ser investigado. E é neste plano, sinceramente, que apresento desde já as minhas mais sinceras dúvidas. O País e a sua máquina judicial e judiciária estão preparados para uma investigação tão profunda quanto aquela que é exigível perante os indícios de tantos ilícitos? Alguém acredita nisso?
Quem quer afinal a Verdade Desportiva? Os clubes e os seus adeptos e associados estão interessados numa limpeza, doa a quem doer? Ou preferem validar os processos de aquisição de poder — sejam eles quais forem — para ganhar a qualquer preço?
Neste processo de desminagem do futebol em Portugal (sim, as minas estão espalhadas por todo o território) teria de haver uma espécie de compromisso nacional.
Daqueles que gostam verdadeiramente do País e daqueles que gostam verdadeiramente de futebol.
Independentemente do princípio da separação de poderes, a vontade política é muito importante nestes processos. Mas… como?, se os deputados parecem ser os primeiros a não ter noção de nada, deixando-se capturar pelos clubes dos quais são adeptos?…
Temo, portanto, que não se passe a fase da espuma e do ruído, como sempre. Há incómodo? Sem dúvida. Há sinais de que existe um modus operandi absolutamente miserável, que coloca em xeque o comportamento de muitos protagonistas, atrás do pano? Sem dúvida.
Tudo isto me leva a crer aquilo que penso há muitos anos: é preciso construir um novo sistema de organização do futebol em Portugal, com uma nova ordem jurídica, que ajude a separar o trigo do joio. Isto assim não pode continuar!
JARDIM DAS ESTRELAS - Tudo muito miserável
Não me digam que é saudável e normal receber árbitros em casa, ou coagi-los à porta dos balneários ou em centros de treino ou utilizar influências, simpáticas ou antipáticas, para se alcançar o objectivo: reunir todas as condições para se ganhar (mesmo que seja a qualquer preço).
Um ‘Adão’ ou um ‘Abel’ não têm grandes diferenças: arrastam com eles métodos de persuasão miseráveis.
À bazófia o que é da bazófia. À designação de crime aquilo que é efectivamente crime.
Há muita gente a aproveitar-se da força social dos clubes (dentro e fora deles) para fazer as suas vidinhas. Com mais ou menos benefícios. Os clubes aproveitam-se disso para capturar, condicionar, baralhar.
Não me digam que é saudável e normal pedir a influência dos clubes (neste caso, do Benfica) para intercederem em matéria de classificações dos árbitros.
Por isso, sempre fui contra os ‘vouchers’. Por isso, sempre fui contra ajuntamentos de jornalistas junto de acções de cortesia promovidas pelos clubes.
Por isso, insisti muito que a FPF não desse cobertura a crimes de fraude fiscal. Porque entendo que a FPF e os seus dirigentes máximos têm de estar acima de qualquer suspeita. Para poderem intervir em momentos como estes. É preciso achar quem cumpra o papel regulador. O problema é que ninguém cumpre essa função reguladora (veja-se o caso do Banco de Portugal), porque — no movimento associativo, a partir do regime jurídico — as normas e os regulamentos não cultivam essa pedagogia. No futebol, os clubes não podem ser os ‘legisladores’ para não acontecerem coisas tão ridículas quanto esta da aprovação de uma norma para penalizar os cigarros electrónicos.
Não sei é quem está disponível para reformar a sério, porque o que interessa agora é colocar nos dois pratos da balança o peso das culpas.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Provavelmente uma das melhores crónicas da carreira de Rui Santos!...
Até à próxima
Finalmente um jornalista a " chamar os nomes...pelos bois" ( não foi engano, foi de propósito)...
ResponderEliminarMas este artigo " vem provar que ficará tudo na mesma...
Há demasiada gente e instituições "capturadas" pelos DDT's...
É ainda por cima vem aí eleições...
Há muito "tacho" a defender...
SL
Ámen, amigo Max.
EliminarSL
Em tese está tudo muito bem , malhou no benfica e no porto mas curiosamente deixou de fora o seu clube do coraçao. Portanto se houvesse uma regeneração ele tambem deveria ir na enchurrada
ResponderEliminarO "anónimo das 09:13" talvez pretendesse que num blog sportinguista fosse feita a apologia de algo contrário à sua essência, que um grande jornalista abdicasse dos seus princípios, valores e afectos para colocar no altar o crime, o compadrio, a corrupção, prosseguidas por aqueles que nunca hesitaram em escolher os meios mais adequados, mesmo que ilegítimos, para alcançarem o único objectivo que perseguem: vitórias e títulos a qualquer preço!...
EliminarSe o que pretende o anónimo for isso também, então será melhor procurar outro local, que o que falta por aí serão blogs que lhe servirão como uma luva.
Mas para não ir daqui com uma mão à frente e outra atrás, sempre lhe direi que existe uma regra gramatical que nos ensina que as palavras começadas por "en", devem escrever-se com "x", com apenas três excepções: encher, cuja raiz é cheio; enchouriçar que nasce em chouriço; e encharcar que deriva de charco!...
Já não irá entrar na procissão do "santo espírito da cartilha" tão pobre como quando aqui entrou. E seja feliz e confiante, porque dos pobres de espírito será o reino dos céus!...
Rui Santos escreveu um conjunto de verdades, sem dúvida.
ResponderEliminarO problema é que o colinho há muito vem sendo denunciado, sobretudo pelo Sporting, e o que Rui Santos fez ao longo de todo este tempo foi chutar para canto essas acusações, preferindo elogiar a estrutura corrupta dos lampiões e dizer que tudo o que foi ganho nestes ultimos anos nasceu do trabalho da tal estrutura.
Este jornalista faz-me lembrar o sons o que treina lá para os lados da Luz.
Rui Santos diz-nos que não tinha conhecimento de nada...Tretas!
Bom rapaz!
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=U0dKf7Q8A-c
"Homem pequenino, velhaco ou dançarino"
TU és alto, mais és mais filho da puta, ou sacanóide"
Com as "calças de pai anónimo", pareces um homem!...
EliminarMas o Rui Santos não disse nenhuma mentira...
EliminarO que "deu dimensão" ao Rui Vitória...foi "a estrutura e-mailaida" dos lampiões...
Aliás, até mesmo o JJ que considero melhor treinador que o RV "beneficiou" muito do "trabalho" dessa "estrutura"...
SL
Excepções? Ou respeitando o acordo ortográfico exceções
ResponderEliminarÉs um iliterato, npi6! Ou amblíope em fase avançada e irrecuperável! Quando entras em Leoninamente, deverias tomar atenção sobre o aviso que há anos está escarrapachado no cimo da página, à esquerda e em tons escarlates tão da tua aparente predilecção!...
EliminarNenhum cidadão português está obrigado a respeitar o NAO. Percebeste, morcão?! É uma questão de dignidade! Mas sabes lá tu o que é isso!...
Olha ó Rui... Estamos de acordo... O teu texto é correto... e bem sei que não é a tua função - ou será? - mas que tal seres tu o primeiro a estar disponível para 'reformar a sério'??? É que quando a poeira assentar, e vai assentar, ou, como tu dizes, não estivéssemos em Portugal..., serás também tu, o primeiro, a falar da organização, dos méritos e das qualidades dos..., prevaricadores... Ora, quando se valoriza, independentemente, e esquecendo, o que está por trás..., digo eu, estamos a ratificar esse modus operandi...
ResponderEliminarSAUDAÇÕES LEONINAS
Concordo com o amigo ZE! Rui Santos por vezes comete o pecado que o amigo aponta! Infelizmente, serei o primeiro a lamentá-lo!...
EliminarSL
Estava a perguntar se não era excepções e não escepções. Percebo que aturar todo o tipo de insultos leva a que a primeira reacção seja de agressão perante quem não se conhece. Venho a este blog mais ao menos a 3 anos e sempre gostei do que aqui li. Nunca tinha comentado pelo menos que me lembre e de facto o comentário não tinha grande interesse. Independentemente disso não mereço ser insultado. Continuarei a vir visitar o blog mas a partir de hoje com um sentimento de desconfiança e magoa perante alguém que tão facilmente dúvida da dignidade de outrem sem qualquer razão para isso. Quanto ao meu número de sócio é o 59.636 José Duarte poderia também indicar o da minha filha mas não vejo em que é que isso adiante com os meus melhores cumprimentos José Duarte
ResponderEliminarQuero apresentar as minhas desculpas a "npi6". O seu comentário das 15:20 deixou-me intrigado e voltei a percorrer o texto de Rui Santos, apenas para confirmar que não ter ele utilizado a palavra "excepção", dado que no remate do postal eu não a tinha utilizado, retirando qualquer sentido ao seu reparo. Mas de repente pensei na possibilidade de o seu reparo se referir a algum comentário e de imediato tive o cuidado de analisar todos e, efectivamente, deparei com o motivo do seu reparo. Obviamente que por lapso e ao correr das teclas, que cometi esse erro, já reparado. Mas do incidente ficou a sensação de ter sido injusto consigo e aqui estou, porque o sentimento de orgulho utilizo-o para coisas mais sérias e importantes e nunca seria capaz de apenas por orgulho, ficar com a minha consciência a acusar-me de não ter sido correcto para consigo. Volto a renovar o meu sincero pedido de desculpas e permita-me a esperança de o julgar capaz de me perdoar e apagar para sempre "o sentimento de desconfiança e mágoa" que ficou em si e que diz, com toda a legitimidade, eu ter causado. Volte sempre, caro "npi6" e comente sempre que achar justificação para isso. Esqueça o meu gesto de que, com a mais natural humildade, me penitencio. SL
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