A partir de amanhã já o começaremos a perceber!...

Lucky Vietto, o leão da Balnearia

«Foi em Balnearia, exígua povoação na província de Córdoba, que nasceu Luciano Vietto, reforço do Sporting para a nova temporada. Lucky, como é conhecido, cedo se enfeitiçou pela bola de futebol, e das peladas nas ruas íngremes à canchita do Independiente local foi um pequeno passo. Seguiram-se as fintas e os golos pelos diablitos que o metamorfosearam num filho pródigo de Balnearia, uma ligação que se mantém estreita, já que os seus jogos, independentemente do clube que representa, são seguidos com orgulho e exaltação.

A primeira grande oportunidade para cumprir o sonho de ser futebolista profissional ocorreu aos 9 anos. Após ter sido observado por olheiros do Estudiantes, rumou sozinho a La Plata para viver na afamada Pensão do Pincha. As saudades de casa extinguiam-se com a bola colada aos pés em busca da próxima diatribe futebolística. Até que, aos 15 anos, foi dispensado. A quimera do pibe de Balnearia parecia diluir-se. Faltava, contudo, o soco que o deixou próximo do nocaute: foi treinar à experiência ao Rosário Central, mas os responsáveis pelas categorias inferiores não lhe patentearam aptidões para abonar a sua aquisição. Devastado e angustiado, regressou a casa, com a certeza que queria abandonar o futebol.

Por isso, seguindo o conselho do progenitor, preparou-se para trabalhar num concessionário de carros. Até que se cruzou com Jorge Cysterpiller, um agente que o convenceu a ir treinar-se à experiência no Racing Club. Em Avellaneda, a setecentos quilómetros de Balnearia, o menino voltou a sonhar, e como um meteoro viu os sonhos transformarem-se em realidade. As prestações superlativas nas categorias inferiores valeram-lhe a alcunha de Saviolita e conduziram-no, com apenas 18 anos, à primeira equipa da Academia, ao serviço da qual se estreou sob o comando técnico de Cholo Simeone. De época para época, o seu rendimento foi disparando. Passou de jóquer ofensivo a titular; de titular a indiscutível; e de indiscutível a primeira figura namorada por inúmeros emblemas europeus. Pretendido por Benfica e FC Porto, acabou por se transferir, em Agosto de 2014, para o Villarreal, a troco de 5,5 milhões de euros. Para trás, 18 golos em 70 jogos na divisão maior do futebol argentino.

A adaptação ao futebol europeu foi insigne. Em apenas um exercício, assinou 20 tentos e 8 assistências em 44 partidas entre La Liga e Liga Europa, o que fez com que a sua cotação disparasse. O reencontro com Cholo Simeone, que o desejava ardentemente no Atlético Madrid, confirmou-se, em Julho de 2015, por 20 milhões de euros. Só que Vietto, mesmo sendo um dos meninos-bonitos do treinador, nunca se adaptou ao Cholismo. Insatisfeito com a utilização intermitente, passou os últimos três anos em empréstimos que não se revelaram bem-sucedidos: primeiro, ao Sevilha, onde o seu enorme talento reapareceu apenas a espaços; depois, a Valência e ao Newcastle, este, principalmente, o mais nefasto, fruto da sua total inadaptação ao ideário futebolístico de uma equipa divorciada da bola.

Aos 25 anos, o Sporting e o campeonato português são o espaço ideal para relançar uma carreira que teve um exórdio auspicioso. Capaz de actuar a toda a largura do ataque, destaca-se pela mobilidade, agilidade, velocidade, criatividade e virtuosismo técnico que imprime às suas acções, o que lhe permite criar desequilíbrios no um contra um em espaços curtos e largos. Sagaz na tomada de decisões, é dotado de bons predicados no passe e nos cruzamentos, o que lhe permite realizar assistências para situações de finalização, mas sobressai pelo oportunismo e pela enorme facilidade no remate, de dentro ou de fora da área, com ambos os pés: o direito é o que melhor define. A pré-época servirá para aquilatar como se integrará no modelo de jogo de Marcel Keizer, e qual será o seu espaço preferencial na estrutura. Apesar de mais talhado para desempenhar o papel de segundo-avançado, apresenta características diferentes de Bruno Fernandes (que é médio), o que poderá levar o treinador holandês a utilizá-lo a partir de um dos corredores laterais – principalmente, o esquerdo – em direcção ao corredor central. Outra opção será a de desempenhar o papel de referência ofensiva, mas, à partida, apesar da perspicácia que evidencia no ataque à profundidade, parece ser a mais improvável.»

(Rui Malheiro, Futebol Total, in Record)

Mais do que a natural reflexão a que nos conduz esta apreciação de Rui Malheiro sobre as potencialidades de Lucky Vietto, aquilo que mais me seduz na chegada deste malabarista argentino, será a dupla que poderá vir a formar com Bruno Fernandes se, como continuo a acreditar, o melhor jogador da nossa Liga em duas épocas consecutivas, permanecer em Alvalade...

A partir de amanhã já o começaremos a perceber!...

Leoninamente,

Até à próxima