quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Tenho um orgulho maior que o mundo em ser do Sporting!!!...


Um leão tem de morrer com dignidade, a lutar!... 


«Início dos anos 70, Parque Nacional de Kafue, Zâmbia (antiga Rodésia do Norte). Eu e o meu grande amigo desses tempos, “Quico”, jovens adultos, aguardávamos pela chegada de um renomado caçador, médico-cirurgião em Angola, que vinha em busca do último dos Big Five que lhe faltava na sua colecção e no seu enorme e formidável salão de caça. Iniciáticos, lá acompanhámos o exímio caçador na senda desse grandioso ungulado, uma espécie que ao tempo abundava em grandes manadas por todo o território. A história seria mais uma, idêntica a muitas narrativas sobre o fascínio que a África quente e selvagem exerce sobre o europeu, não fosse o imprevisto e extraordinário episódio que ocorreu nessa fantástica aventura.
“Quico” e o médico indo à frente, caminhavam atentos pela picada quando ao abrir da curva se depararam a vinte metros com um imponente leão de grande juba côr de fogo, postado e anichado, exactamente no meio do caminho. Estacámos, electrizados por tamanha magnificência. O leão ergueu a sua enorme cabeça e imperturbável, rugiu, avançando vagarosamente, como que rastejando, arrastando as patas traseiras. Avançou mais uns metros, parando a curta distância, emitindo um rugido assustador como eu nunca tinha ouvido!
Armas em riste, preparados para o que desse e viesse. O médico, com uma calma extraordinária, disse-nos: -“ ele não vai avançar mais!...”.
A verdade é que foram momentos de grande tensão. Mário, um homem de um sangue frio incrível, olhou para nós e com um sorriso, exclamou calmamente: - “ele tem a coluna vertebral fracturada!”.
O médico apontou ao leão pela derradeira vez, para o tiro de misericórdia, mas “Quico”, serenamente, com a sua mão esquerda baixou-lhe o cano da espingarda – “Dr., não pode fazê-lo! Avancemos para o búfalo e deixe que os guias se encarreguem do ritual e o enterrem à beira do caminho, onde o capim está sêco. Peço-lhe, Dr.!”
Mário continuou, não proferindo mais nenhuma palavra até ao jantar, à noite, no acampamento. Depois, à beira da fogueira, entre um “curvoisier” e duas larachas, perguntou a “Quico” o porquê da sua atitude, da sua quase súplica. Afinal estávamos em África, em plena selva, onde a Natureza dita, mais do que nunca, a sua lei.
- “Um leão tem de morrer com dignidade, a lutar! Sabe, Dr., eu sou do Sporting!»

Na altura, “Quico” Vasconcellos e Sá era um jovem como eu..
Um grande abraço, Quico!
Fico feliz por saber que estás vivo e pujante!

PS – Passaram décadas. Tempos fantásticos que vão e não voltam mais. Por um incrível acaso fui alertado por amigos para o facto de haver eventualmente por aqui um Vasconcellos e Sá do qual perdi o rasto há largos anos. Quico, se me leres, pergunta por mim no mesmo café-restaurante onde meninos e moços nos encontrávamos assiduamente com as nossas namoradas. Quero entregar-te o livro das minhas memórias de onde extraí este pedaço fabuloso da minha história passada em África e dar-te aquele abraço que não pude dar-te na altura em que deixei precipitadamente Lusaka. É só perguntares ao balcão ou ao gerente, por mim. Mais uma vez, um grande abraço!


Entendi ser meu dever de sportinguista não permitir que se confinasse à estreiteza de uma caixa de comentários, que Leoninamente teve o privilégio de acolher, este sublime texto de Aníbal Caeiro.

Tenho um orgulho maior que o mundo em ser do Sporting!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

9 comentários:

  1. Apesar de ser benfiquista confesso que fiquei sensibilizado por este trecho da vida de tres pessoas bem formadas. Grande atitude a de perdoar a morte a um animal ferido. Se conhecesse esse sr Sa dava-lhe os parabens pelo seu nobre gesto

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  2. Onde poderei comprar este livro?

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  3. O Quico pelos vistos era um grande sportinguista mas este Caeiro não se sabe. Ele só conta está apaixonante estória mas não revele o seu clube do coração. Ainda assim foi comovente de a ler. Ainda um dia temos que organizar um convívio aqui com o pessoal do leoninamente. Onde claro deveriam estas estórias serem aprofundadas

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  4. Não ae abate facilmente um Leão...
    Este episódio trouxe- me à memória um facto passado no norte de Moçambique no distante ano de 1966...
    Um leão entrou dentro do " campo de minas" que circundava o acampamento militar...
    Provocou o rebentamento de duas minas anti- pessoais...
    Durante grande parte da noite os seus urros provocaram- nos " arrepios na espinha"...
    De manhã estava morto perto, mas ba sua luta contra a morte...tinha literalnente desfeito a vegetação que estava à sua volta e ao fim de várias horas ali estava sem vida...mas mesmo assim " metia respeito"...
    É dificil... muito dificil " acabar" com um Leão...

    SL

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  5. È o nosso ADN que alimenta o nosso desporto e em particular o futebol.Desde a selecções ao clube que está sempre na luta apesar dos gamanços das ultimas décadas.Um clube que continua a alimentar as nossas ligas com dinheiro e jogadores.Tudo porque os seus adeptos acreditam sempre,no seu clube e no lado bom e justo das pessoas nos cargos de responsabilidade.Numa sociedade corrupta,lampiã,suja,mentirosa essas qualidades tornam se em fragilidades e somos rotulados de ingénuos muito rapidamente..e já passaram 40 anos!

    Já agora,só a titulo de curiosidade,mais alguem gostaria de ver o Leão da foto,numa sala com o observador que deu nota muito boa ao J.Sousa?Ou só seu eu?;)

    SL

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  6. Amigo Balakov...
    O observador do tal sujeito (que só vê o que "lhe interessa")numa sala ...só com o Leão da foto...?

    Só de fraldas...!!

    SL

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  7. Impressionaram-me todas as atitudes dos intervenientes.
    África é única!
    Eu nasci lá. Ó Maximino, rugidos só do Leão. Urros são os elefantes.
    Desculpa lá esta correcção, mas sou obrigado a fazê-la.
    Bom Ano a todos!

    SL
    Jubas

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    Respostas
    1. Tem toda a razão amigo Jubas...e fex muito bem em corrigir...
      Normalmente uso o termo correcto "rugido"...nem sei porque saiu urro...
      Mas na verdade um rugido "dorido" de um Leão...é qualquer coisa que nos põe os "cabelos em pé..."

      Eu não nasci em África, mas confesso que os 19 meses que passei no "meio selvagem" do Cabo Delgado e do Niassa, foram suficientes para me deixar "apaixonado" por aquela Terra até ao fim dos meus dias...

      Abr e SL

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  8. Fez e não "fex" é claro...
    Escrever num teclado de um smartphone com um x e o z lado a lado...nem sempre é fácil...
    O que vale é que quem por aqui passa é gente "que entende estas gralhas"...
    Acontece a qualquer um...

    SL

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