quinta-feira, 9 de junho de 2016

O que seria do futebol sem maus sentimentos?!...


A VINGANÇA SERVE-SE GELADA

«Depois de 50 minutos em desvantagem, Jordão marcava o golo da igualdade e a Selecção aguentava até ao prolongamento. Jordão marca de novo. Eu tinha 14 anos e estava, nesse dia de férias, em casa dos meus avós. A minha avó limpava a mesa com um oleado, mesmo à minha frente, com uma regularidade alemã. Era a primeira vez que via a Selecção numa competição internacional. E íamos à final. E íamos derrotar a França na sua própria casa. O balde de água fria veio com o segundo golo de Domergue. O de água gelada com o de Michel Platini, no último minuto. Foi a última vez que chorei em público. O fim da minha infância.

Em minha casa, um grupo numeroso de amigos, quase todos ainda do tempo do liceu, enchia a sala. Os aperitivos e a cerveja iam deixando pegadas e a minha avó não estava lá para tratar do assunto. Meias-finais de novo, França de novo. Desta vez inaugurámos nós o marcador, através de Nuno Gomes, num remate antológico. Thierry Henry igualou. Mais uma vez, prolongamento. Abel Xavier tocou com a mão na bola para impedir um segundo golo, o árbitro marcou canto mas acabou por dar ouvidos ao assistente e houve penalidade. O golo de ouro de Zidane encerrava o assunto. 30 anos, já era pai e não chorei. Devo-o a Nuno Gomes, Abel Xavier e Paulo Bento, que, com o seu mau perder, substituíram a tristeza pela vergonha. O meu desejo para este Europeu? Defrontar a França na final, porque, se cada um ficar em primeiro no seu grupo, só aí nos poderemos encontrar. Vencer na sua própria casa no último minuto e chorar de felicidade. O que seria do futebol sem maus sentimentos?»


Sempre desejei ouvir um dia alguém entendido na "coisa" subscrever aquilo que desde menino, me lembro de interiorizar - a calar ensinou-me a universidade da vida! -, sempre que o meu Sporting defrontava um certo clube, independentemente da modalidade e competição que estivessem em jogo!...

Desde menino que combato os "maus sentimentos" que Daniel Oliveira entende como o "sal do futebol" e que eu entendo deverem ser extensíveis até ao "chinquilho"! Mas tem sido uma luta titânica, pense embora inglória. Ainda hoje eu alimento e sou feliz com esses avassaladores sentimentos de má índole que transporto dentro de mim desde criança: ganhar-lhes sempre e se possível no último minuto e com um penálti roubado! E sempre que acontecerem 7-1, então os orgasmos viram múltiplos!...

Com a nossa selecção apenas senti o mesmo que com "meu grande amor", no saudoso ano de 1966! Fora disso, fui-me deixando curtir como as azeitonas, pelas sucessivas vagas de seleccionadores, que pouco ou nada têm diferido uns dos outros no que toca a isenção e verticalidade, de costas voltadas para a mulher de César: nem são sérios, nem alguma vez tiveram a preocupação de o parecer! Com o devido respeito, continuo a pensar assim! De todos!...

Nesta condição, apreciei o artigo de Daniel Oliveira, na exacta medida em que acabou por afirmar o que desde menino penso:

O que seria do futebol sem maus sentimentos?!...

Leoninamente,

Até à próxima

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