O ocaso
"Antes de Paulo Fonseca ter sido despedido, quase todos os comentadores portistas diziam que tal seria impensável (depois, claro, passou a ser “previsível). Bastava conhecer a teimosia do presidente e recordar a sua insistência em Vítor Pereira para o saber. Não são os adeptos, os jornalistas e os jogadores que mandam. Não são sequer os factos. É o presidente. Verdade? Sim, era. Mas já não é. Porque teimoso é quem pode, não é quem quer.
Há diversas formas de usar o poder. Mas o poder molda mais as pessoas do que as pessoas o moldam a ele. Claro que Pinto da Costa fez do Porto o que ele é. E fez do seu poder o que ele foi. Mas bastou que as coisas deixassem de resultar para que essa forma de exercer o poder se tornasse impossível. Pinto da Costa podia estar-se nas tintas para os jornalistas, adeptos e jogadores, porque a todos dava vitórias. E esse poder que ele próprio construiu moldou a sua forma de liderar e até a sua personalidade. Mesmo quando perdia, todos sabiam que era passageiro. Mas agora estamos a assistir ao fim de um ciclo. E é ele, e não mais um mau treinador (houve outros) que explica o estado do Porto. Já se sentia o ano passado, em que o Porto ganhou o campeonato, por sorte, de ultimo minuto. O FCP voltará a ganhar e a perder. Mas a “Era do Porto” está a chegar ao fim.
A partida de Pinto da Costa, que a idade tornou inevitável, sem ter feito a sucessão enquanto mandava, retira-lhe o maior dos trunfos: o poder sobre o futuro. Da instituição que dirige e daqueles que dela alimentam as suas ambições. Pinto da Costa podia não dar ouvidos à raiva dos adeptos e aos conselhos dos jornalistas. Estava no trono e tinha uma corte fiel. Agora só tem admiradores. Não o atacarão publicamente. Mas também não lhe obedecerão cegamente. E é por já não ser senhor absoluto que tem, como qualquer simples dirigente desportivo, de ceder aos humores populares. O talento deu-lhe vitórias. As vitórias deram-lhe poder. O poder deu-lhe uma teimosa altivez. Está a chegar ao fim do seu reinado e, não tendo preparado a sucessão para garantir uma continuidade sem sobressaltos, tudo lhe escapa das mãos. O poder, as vitórias e, por fim, até a altivez. Do pó viemos e ao pó voltamos. Todos.".
(Daniel Oliveira, Verde na Bola, in Record)
(Daniel Oliveira, Verde na Bola, in Record)
Tantos "bitaites", tantos comentários e tantas análises, no meio da habitual presunção e água benta, com ou sem camisola, que a "crise dos andrades" nos tem vindo a proporcionar!
Mas foi Daniel Oliveira, a sua lucidez e simplicidade de análise, que me ditaram o mais forte aplauso e rendição incondicional. Neste seu texto, está tudo, absolutamente tudo o que envolve o "fim de ciclo dos andrades". Nas Antas, como em qualquer outro lugar do mundo, "Do pó viemos e ao pó voltamos. Todos."!...
Leoninamente,
Até á próxima
A isso é que ninguém foge...nem o bufas...!
ResponderEliminarÉ claro que ninguém sabe o momento da sua morte...
É até claro que eu não desejo a morte do bufas...mas é melhor ele ir pondo as barbas de molho...
Porque uma manhã destas...vai "acordar" morto...!!
Sim, amigo Max, ele que não pense que, pelas suas "notáveis" qualidades, vai ficar eternamente para semente. Mas por incrível que pareça, esse será sempre o grande defeito dos génios, sejam eles do bem ou do mal, como bem sabemos e julgo que ninguèm terá dúvidas, para além do Ti Herculano e todos os outros tios...
EliminarSL