sexta-feira, 7 de março de 2014

Entre o efémero e o ocaso, do pó viemos e ao pó voltamos!...



O ocaso


"Antes de Paulo Fonseca ter sido despedido, quase todos os comentadores portistas diziam que tal seria impensável (depois, claro, passou a ser “previsível). Bastava conhecer a teimosia do presidente e recordar a sua insistência em Vítor Pereira para o saber. Não são os adeptos, os jornalistas e os jogadores que mandam. Não são sequer os factos. É o presidente. Verdade? Sim, era. Mas já não é. Porque teimoso é quem pode, não é quem quer.

Há diversas formas de usar o poder. Mas o poder molda mais as pessoas do que as pessoas o moldam a ele. Claro que Pinto da Costa fez do Porto o que ele é. E fez do seu poder o que ele foi. Mas bastou que as coisas deixassem de resultar para que essa forma de exercer o poder se tornasse impossível. Pinto da Costa podia estar-se nas tintas para os jornalistas, adeptos e jogadores, porque a todos dava vitórias. E esse poder que ele próprio construiu moldou a sua forma de liderar e até a sua personalidade. Mesmo quando perdia, todos sabiam que era passageiro. Mas agora estamos a assistir ao fim de um ciclo. E é ele, e não mais um mau treinador (houve outros) que explica o estado do Porto. Já se sentia o ano passado, em que o Porto ganhou o campeonato, por sorte, de ultimo minuto. O FCP voltará a ganhar e a perder. Mas a “Era do Porto” está a chegar ao fim.

A partida de Pinto da Costa, que a idade tornou inevitável, sem ter feito a sucessão enquanto mandava, retira-lhe o maior dos trunfos: o poder sobre o futuro. Da instituição que dirige e daqueles que dela alimentam as suas ambições. Pinto da Costa podia não dar ouvidos à raiva dos adeptos e aos conselhos dos jornalistas. Estava no trono e tinha uma corte fiel. Agora só tem admiradores. Não o atacarão publicamente. Mas também não lhe obedecerão cegamente. E é por já não ser senhor absoluto que tem, como qualquer simples dirigente desportivo, de ceder aos humores populares. O talento deu-lhe vitórias. As vitórias deram-lhe poder. O poder deu-lhe uma teimosa altivez. Está a chegar ao fim do seu reinado e, não tendo preparado a sucessão para garantir uma continuidade sem sobressaltos, tudo lhe escapa das mãos. O poder, as vitórias e, por fim, até a altivez. Do pó viemos e ao pó voltamos. Todos.".
(Daniel Oliveira, Verde na Bola, in Record)

Tantos "bitaites", tantos comentários e tantas análises, no meio da habitual presunção e água benta, com ou sem camisola, que a "crise dos andrades" nos tem vindo a proporcionar!

Mas foi Daniel Oliveira, a sua lucidez e simplicidade de análise, que me ditaram o mais forte aplauso e rendição incondicional. Neste seu texto, está tudo, absolutamente tudo o que envolve o "fim de ciclo dos andrades". Nas Antas, como em qualquer outro lugar do mundo, "Do pó viemos e ao pó voltamos. Todos."!...

Leoninamente, 
Até á próxima

2 comentários:

  1. A isso é que ninguém foge...nem o bufas...!

    É claro que ninguém sabe o momento da sua morte...
    É até claro que eu não desejo a morte do bufas...mas é melhor ele ir pondo as barbas de molho...
    Porque uma manhã destas...vai "acordar" morto...!!



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    1. Sim, amigo Max, ele que não pense que, pelas suas "notáveis" qualidades, vai ficar eternamente para semente. Mas por incrível que pareça, esse será sempre o grande defeito dos génios, sejam eles do bem ou do mal, como bem sabemos e julgo que ninguèm terá dúvidas, para além do Ti Herculano e todos os outros tios...

      SL

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