Quando um homem e uma mulher, que constituiram família com amor e respeito mútuo, que viram nascer e crescer os filhos e que construiram e consolidaram um património material e social comum, constatam o aparecimento de nuvens carregadas que prenunciam os esfriamento da sua relação e um inevitável fim do seu matrimónio, conversam civilizadamente e sobrevem o divórcio. É a lei da vida e um lugar comum na sociedade de hoje.
Mas este desfecho, pode ser também o epílogo de muitas outras relações entre um homem e uma mulher, com percursos completamente diferentes, com razões de base não obrigatoriamente coincidentes e com decisões que se afastam completamente da civilidade. Continua a ser a lei da vida e o nosso mundo está repleto de exemplos desta natureza.
As pequenas e grandes instituições da mais variada índole, que suportam as sociedades e as nações deste mundo global que nos envolve, sendo sempre resultado de um casamento quase perfeito entre um ideal que as faz nascer e um percurso que, mesmo sendo sucessivamente vivificados com a sementeira de novos objectivos, acaba inexoravelmente por sofrer a erosão natural do tempo e terminar em divórcio ou extinção pura e simples.
A história centenária do Sporting Clube de Portugal foi o resultado de um feliz e prolífero casamento, entre um ideal sublime e a prossecução de objectivos gloriosos, num percurso que enobrece os seus fautores e orgulha os seguidores que, hoje por hoje, constituem a grande nação sportinguista.
Mas como em todos os grandes impérios ao apogeu se seguiu a queda e em muitos e felizes casamentos a felicidade deu lugar ao divócio, no Sporting Clube de Portugal, ao apogeu alcançado nos tempos do melhor presidente da sua história, que foi o senhor João Rocha, seguiu-se um espaço temporal carregado de vicissitudes e fugazes e efémeras glórias que, não conduzindo a instituição para a queda que adversários e inimigos desejariam, a empurraram inexoravelmente para um doloroso e infeliz divórcio. Não com o passado que nos orgulha a todos e é o alimento da nossa eterna paixão. Mas com o passado recente, com esse espaço de tempo que nos trouxe desde o afastamento do nosso querido e saudoso presidente João Rocha, até aos tempos de hoje e que, simbolicamente, todos os sportinguistas apelidam de "era Roquette", se bem que tenha começado bem antes desse senhor entrar no clube e ainda não se saber muito bem se já terá terminado.
O nosso Sporting parece estar a acelerar o seu processo de divórcio com esse passado recente. Luis Duque afirmou ontem, de modo enfático e peremtório, que estamos a cortar com esse "sportinguezinho do passado", que não incomodava ninguém e era considerado por poucos como um grande. E adiantou ainda, que o Sporting quer levantar a cabeça e renascer. É isso, o nosso Sporting quer divorciar-se desse humilhante passado recente, quer construir uma nova vida, como avisadamente todos os recém-divorciados desejam construir, libertos do passado, libertos dos traumas que lhe trouxeram a infelicidade e a desilusão.
Pode o processo doer muito, pode até demorar mais do que aquilo que a nossa dor e desilusão desejariam, mas os nossos olhos não podem mais olhar para trás. O ontem é letra morta, temos que o enterrar definitivamente e bem fundo. Mas o amanhã, que todos nós o consigamos interiorizar, não está ali, à nossa frente, ao virar da esquina. Nem sequer ainda sabemos se o lider que escolhemos será capaz de levar essa missão a bom termo. Ou se seremos obrigados a escolher um outro, que corrija o nosso rumo e nos coloque com os dois pés no patamar que todos desejamos. De uma coisa estou certo, seja qual for o caminho que tenhamos que percorrer, estará recheado de pedras e escolhos e os nossos pés estão quase nus, os nossos sapatos estão esfarrapados. E não é com pateadas ou assobios que ajudaremos, antes dobraremos a nossa desdita. É cerrando os dentes, abafando a dor e caminhando todos para o mesmo lado!... Como leões autênticos que somos e queremos continuar a ser!... Para sempre, com o nosso Sporting!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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