segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Com este treinador o Sporting nunca irá a lado nenhum!...


Vão-se os anéis, ficam os dedos

«A tentação é grande, mas são precisamente as sentenças mais linguarudas, calamitosas e definitivas que, nos últimos dias, inundaram o espaço público e as redes sociais que me fazem ter ainda maior prudência na análise à forma como o Sporting geriu este mercado de transferências. Salta à vista que várias coisas não correram bem e que houve processos mal geridos. Mas aconselha o bom senso que se aguarde um pouco mais antes da ponderação definitiva – até por serem sempre possíveis novidades de última hora que este texto, obviamente, nunca poderia contemplar. Não é sequer ainda possível perceber nitidamente se o Sporting, à medida que foi descartando alguns dos seus melhores anéis (Bas Dost e Raphinha, mais do que Thierry Correia e Diaby), tem estado apenas a desentalar os dedos ou se, pelo contrário, o afogadilho e a urgência financeira já estão a fazer com que estropie as suas próprias falanginhas e falangetas.

Nos próximos dias, depois de serem conhecidas todas as nuances dos diversos negócios de compra e venda de jogadores, talvez já seja possível reflectir melhor se existiu ou não um plano minimamente congruente para equilibrar as finanças e para, em simultâneo, manter (ou até aumentar) a qualidade e a competitividade do plantel. Ou se, como dizem as críticas mais viperinas, houve apenas uma navegação à vista que nunca disfarçará a decadência. Em qualquer dos casos importa ter noção da dificuldade da empreitada, até porque a SAD leonina esteve sempre mais dependente da vontade do próprio mercado do que das acções próprias.

Mas, independentemente da prudência analítica, há já alguns sinais que se apresentam como inequívocos e sintomáticos. O primeiro é que Frederico Varandas conseguiu a almejada redução da folha salarial e um encaixe com vendas razoável. Uma e outra coisa eram imperiosas para que a SAD não ficasse numa situação financeira insustentável e demasiado exposta à banca e a investidores pouco recomendáveis. O relativo desafogo irá também permitir oferecer o contrato milionário prometido a Bruno Fernandes, cuja continuidade foi a única notícia verdadeiramente empolgante que os sportinguistas receberam do mercado nos últimos anos.

A contratação de Fernando, de apenas 20 anos, confirma a aposta em jovens de grande potencial, que já tinha ficado evidente nas aquisições de Doumbia e Gonzalo Plata, ainda na época passada, e Rosier e Rafael Camacho, já neste defeso. É também visível no facto de os dois guarda-redes que irão ser alternativas a Renan terem ambos 20 anos. Mas se este tipo de aposta até pode fazer todo o sentido (mesmo contendo riscos óbvios em termos de falta de maturidade), bem mais questionável será a circunstância de o brasileiro chegar a Alvalade por empréstimo. Até porque este artifício parece também ter sido utilizado para os reforços das restantes posições mais avançadas (o congolês Yannick Bolasie e o espanhol Jesé Rodriguez eram ontem os nomes mais falados). Ora, a aposta em futebolistas jovens revela não só a contenção no investimento, que é imposta pela realidade, mas também a perspectiva de futuro. Já a chegada de jogadores emprestados reflecte exactamente o contrário (até por serem mais velhos e com ordenados muito altos, mesmo que o Sporting só assuma uma parte).

Ora, esta duplicidade de procedimento parece ser mais resultado da iminência do fecho do mercado e de factores casuísticos do que de um plano estratégico e conexo. O que, de resto, já tinha ficado também evidente nas vendas: o mercado, mais do que o Sporting, é que decidiu quem saía. O futuro do Sporting passará sempre por se (re)afirmar como um clube formador (com tudo o que isso implica também na obrigatoriedade de possuir um scouting de excelência) e não tanto por se resignar a um papel de "barriga de aluguer". Mas quando se olha para a equipa de Sub23 percebe-se que alguma coisa está a ser bem feita…

VAR deve salvar o jogo, não o árbitro

Ponto prévio: sou e continuarei a ser um irremediável patrono do VAR. E continuarei a ficar enfastiado com a teoria de que esta ferramenta tecnológica devia ser atirada ao rio porque retira "paixão" ao jogo. Preferirei sempre mil vezes lidar com isso, com um belíssimo golo que foi anulado porque as ‘linhas’ provam que o marcador estava 15 centímetros fora-de-jogo, do que aceitar o desfecho fraudulento. Mas é também precisamente por isso que começo a ter muita dificuldade em aceitar que o VAR comece a ser principalmente usado para salvaguardar os árbitros (incluindo os incompetentes, que é o que incomoda mais) do que para beneficiar o jogo. E é isso que se sente quando, por exemplo, se estabelece no guião a que chamam Protocolo que uma bola na mão do atacante que está na área adversária é sempre falta e que pode não o ser quando é na mão do defesa. Uma incongruência bolchevista e sem sentido que só tem por objetivo disfarçar o despreparo de quem arbitra ou analisa as repetições em vídeo. A verdade é que o VAR tem ajudado a sancionar situações em que não há nada parecido com erros grosseiros (algumas delas só detetáveis com uma lupa) e depois fecha os olhos a lances em que até um míope põe as mãos na cabeça. E não se pense que me refiro apenas ao que se passou nesta jornada da Liga portuguesa, porque a situação mais escandalosa que vi até pode ter sido um forte pisão num pé de um jogador do City que o VAR da Premier League entendeu ser insuficiente para marcar penálti. Estas situações não se resolvem apenas com a melhoria da formação e das condições oferecidas aos árbitros. Resolvem-se com uma evolução do Protocolo e com uma melhor seleção de quem integra o VAR, até porque continuo convencido de que, mais tarde ou mais cedo, o árbitro que está no relvado deixará de ter a palavra final. Enquanto isso não acontece, convém, pelo menos, resolver uma situação: o sistema arbitral não pode continuar adulterado e mais propenso ao erro só porque aos piores juízes continua a ser oferecida a cadeira do VAR quando se jubilam ou são despromovidos.»
(Bruno Prata, Ludopédio, in Record)



Não me repugnará concordar com a generalidade do texto de Bruno Prata, especialmente no que ao Sporting se refere, apesar de em alguns pequenos pontos poder discordar. Porém, haverá uma questão em que terei de apontar o terrível pecado do silêncio ao jornalista, seja por comodismo, benevolência, falta de coragem ou sentido crítico, pouco importará, mas, a meu ver, sempre, sempre, condenável. Haverá momentos em que a abstenção, num jornalista, me parecerá sempre obscena!... 

Com este treinador o Sporting nunca irá a lado nenhum!...

Leoninamente,
Até á próxima

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