quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Cantemos todos o povo triste de quem somos!...




Vieira da Silva : canção para um povo triste



Letra e música: Vieira da Silva

In: um disco que a pide apreendeu... 1969

"Poetas da Música"

Canto o povo triste de quem sou
louco em cantar para esquecer
os sonhos tidos na manhã da vida
sol de madrugada livre no morrer

Canto a heroicidade conformada
de quem chorando se atreve a cantar
barco perdido na prisão das ondas
as velas rasgadas o leme a quebrar

Canto a solidão a ocidente
ligada à terra que nos viu nascer
a cobardia feita de orações
na doce esperança de poder morrer

Canto o desespero fatalista
de quem sofrendo se deixa ficar
olhos cansados enxada na mão
trabalhando a terra que lhe vão roubar

Canto o meu poema de revolta
ao povo morto que não quer gritar
que já são horas para ser feliz
que é chegado o dia de o medo acabar
Cinquenta anos se passaram desde que a polícia políca apreendeu esta "canção para um povo triste", do meu conterrâneo, amigo e camarada de concepção de mundo, Vieira da Silva!...

Parece que não terá passado tanto tempo, ou que Abril terá sido definitivamente arrancado do nosso calendário, quando assistimos à pronúncia em que o Tribunal da Relação de Lisboa, hoje mesmo, 'despronunciou', decalcando os velhos métodos do Tribunal da Boa Hora e com "a cobardia feita de orações... de um povo morto que não quer gritar", aqueles que, impunemente, se arrogam do direito de voltarem, de novo, a "sugar o sangue fresco da manada"!...

Cantemos todos o povo triste de quem somos!...

Leoninamente,
Até á próxima

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