Vieira da Silva : canção para um povo triste
Letra e música: Vieira da Silva
In: um disco que a pide apreendeu... 1969
"Poetas da Música"
Canto o povo triste de quem soulouco em cantar para esqueceros sonhos tidos na manhã da vidasol de madrugada livre no morrerCanto a heroicidade conformadade quem chorando se atreve a cantarbarco perdido na prisão das ondasas velas rasgadas o leme a quebrarCanto a solidão a ocidenteligada à terra que nos viu nascera cobardia feita de oraçõesna doce esperança de poder morrerCanto o desespero fatalistade quem sofrendo se deixa ficarolhos cansados enxada na mãotrabalhando a terra que lhe vão roubarCanto o meu poema de revoltaao povo morto que não quer gritarque já são horas para ser felizque é chegado o dia de o medo acabar
Cinquenta anos se passaram desde que a polícia políca apreendeu esta "canção para um povo triste", do meu conterrâneo, amigo e camarada de concepção de mundo, Vieira da Silva!...
Parece que não terá passado tanto tempo, ou que Abril terá sido definitivamente arrancado do nosso calendário, quando assistimos à pronúncia em que o Tribunal da Relação de Lisboa, hoje mesmo, 'despronunciou', decalcando os velhos métodos do Tribunal da Boa Hora e com "a cobardia feita de orações... de um povo morto que não quer gritar", aqueles que, impunemente, se arrogam do direito de voltarem, de novo, a "sugar o sangue fresco da manada"!...
Cantemos todos o povo triste de quem somos!...
Leoninamente,
Até á próxima
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