segunda-feira, 30 de abril de 2018

Mais vale tarde que nunca!...


O BENFICA PRESO POR ARAMES

«O jogo com o Tondela acabou por ser um retrato sintético da temporada do Benfica. Começámos a ganhar para, logo depois, a equipa soçobrar, parecer um conjunto banal, sem princípios rudimentares na organização defensiva e com défices de qualidade individual. No entanto, tal como aconteceu a partir de Guimarães, na segunda parte, o Benfica reergueu-se, apresentou um futebol dominante e podia ter chegado à vitória. Só que, no último fôlego, a equipa colapsou, trazendo à tona problemas de fundo, inscritos desde Agosto. No fundo, com o Tondela, como ao longo do ano, o Benfica foi-se aguentando preso por arames.

Permanece um mistério que um clube que podia conquistar um inédito penta, tenha feito uma fortuna em vendas e não tenha reinvestido quase nada. A baliza é o caso mais evidente, mas está longe de ser único. Depois de Oblak, Júlio César e Ederson, ter Varela como guarda-redes principal é estranho. Como é incompreensível que nunca houvesse uma alternativa a Pizzi (e que o jogador com perfil mais próximo, Horta, tenha sido emprestado ao Braga e agora vendido para os EUA). Na posição 6, Fejsa acabou por jogar quase sempre apenas porque fizemos poucos jogos (e, se tivéssemos tido muitos jogos, sem Fejsa, a equipa não iria longe). Já na defesa, a segunda unidade está a anos luz da primeira: quando falta um dos titulares nas laterais ou no centro da defesa, o cenário é deprimente.

A falta de ambição e as poupanças do Benfica vão sair bastante caras. Sem campeonato e com a Champions em risco, as receitas caem brutalmente, ao mesmo tempo que as necessidades de reforçar a equipa vão aumentar (à custa da dívida!). A aposta no Seixal faz todo o sentido, mas ninguém é campeão apenas com aposta na formação.

Depois há Jonas. Numa equipa com fragilidades no processo colectivo, a presença do brasileiro em campo ajuda a suprimir as debilidades, liga o jogo interior, oferece contundência atacante e maturidade emocional. Quando falta Jonas, o Benfica perde qualidade e os resultados revelam-no. Na próxima temporada, não esquecer, Jonas – provavelmente o melhor estrangeiro que equipou de vermelho – fará 35 anos.

Para o fim, o treinador. É fácil identificar os erros cometidos por Rui Vitória, mas foi também ele que teve o golpe de asa para alterar o sistema, que apostou em jovens e que soube gerir o balneário. O seu principal erro foi mesmo ter aceitado disputar o penta com este planeamento de temporada.

Nota: o Benfica tem-se insurgido – e bem – contra julgamentos baseados em informação libertada a conta-gotas e assente em violações de correspondência privada. Não escondo o incómodo com o que já se sabe, mas uma coisa são notícias, outra é o teor de uma eventual acusação. Por isso mesmo, foi com estupefacção que percebi que o Benfica promoveu activamente o conteúdo de uma denúncia anónima (como aquelas contra as quais se tem insurgido!) com acusações atentatórias do bom nome de pessoas concretas. Este passo (em falso) envergonha-me enquanto benfiquista e é, ao mesmo tempo, um tiro de pólvora seca e um precedente muito grave.»


Mais vale tarde que nunca!...


Leoninamente,
Até à próxima

4 comentários:

  1. Apesar deste mea culpa tenho em Pedro Adão e Silva o exemplo típico do lampião que se refugia no indesculpável argumento da irracionalidade do futebol para se esconder a cabeça na carapaça da vergonha. Por ser jornalista exigir-se-ia do mesmo outra isenção e decoro, mas principalmente sentido crítico para questionar os dirigentes do seu clube, algo que nunca li. Como disse inicialmente, Pedro Adão e Silva é lampião até à medula, e que também seja jornalista só prova que nenhuma profissão está livre de "ervas daninhas". SL

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    1. Ao que sei, PAS não será jornalista. Ter-se-à licenciado no ISCTE-IUL em Sociologia em 1997 e concluído em 2009 o doutoramento em Ciências Sociais e Políticas, no Instituto UNiversitário Europeu, em Florença. Terá dado aulas no ISEG e, no segundo semestre de 2010/2011, terá sido professor visitante no Departamento de Ciência Política da Universidade de Georgetown. É colunista do Expresso e Record e comentador político na TSF e na SIC-N. É desde 2007 professor no ISCTE-IUL.

      Sobre os restantes considerandos, estarei de acordo... SL

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    2. Obrigado, caro Alamo.
      Fico mais descansado. É importante que esta distinção seja feita em defesa do bom nome dos verdadeiros profissionais de jornalismo, que os há. SL

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  2. No meio do "estado lampiânico", ao que parece...ainda há benfiquistas "que resistem..."

    SL

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