A ARROGÂNCIA DE VIEIRA
«O meu primeiro texto no Record chamava-se «O sangue de Sérgio Conceição» e descrevia sem ter qualquer síndroma de bruxo ou sibila aquilo que viria a ser uma equipa de combate à imagem do seu líder, acreditando no seu potencial e mentalidade de campeão para conduzir o grupo. Escrevi-o antes do início da temporada, numa fase em que muitos comentadores torciam o nariz à possibilidade de ganhar a Liga, em virtude da ausência de aquisições e de algumas dúvidas sobre a sua capacidade de liderar um Porto que não ganhava nada há quatro anos. Mas o artigo desta semana ainda não é sobre ele por um motivo óbvio: como relembrou bem Pinto da Costa, houve quem já tivesse festejado um título na Madeira e depois teve o amargo de boca de o ver fugir por um canudo. Quando receberem o ceptro, cá estarei para escrever sobre os ganhadores.
Logo, estas linhas só podem ser para quem semeou uma fasquia alta, nunca outrora atingida pelo seu emblema, e, tudo o indica, pode acabar sem ir à Champions League se o Sporting for competente amanhã. Podem soltar-se os lenços brancos do costume contra Rui Vitória, um treinador sério e que já mostrou ter o dom de alquimista para fazer omeletes com ovos que não serão de classe A, mas o principal responsável pela desastrosa época do Benfica tem apenas um nome: Luis filipe Vieira. É clarinho como a água, mesmo para os adeptos mais fanáticos, que a soberba do tetra levou a um desinvestimento no plantel e na crença que o técnico bicampeão poderia uma vez mais dar a volta às coisas inventando novas soluções para os lugares de Ederson, Nélson Semedo, Lindelof e Mitroglou, sem contar que Pizzi não foi o motor que carburava a equipa como no ano transacto. O grupo tinha qualidade, mas houve erros de palmatória na construção do mesmo, por isso entendo que a actuação no mercado não deu todos os recursos possíveis à disposição de Rui Vitória.
E aqui reside uma das falácias do ano. Ora, se Domingos Soares Oliveira, tido como gestor credível, se desmultiplicou em diversas entrevistas a auto-elogiar-se dizendo que o Benfica tinha uma saúde financeira invejável, menos compreende o adepto qual a razão para se não terem contratado jogadores à altura desse objectivo que era o penta. Assim, tenho de tirar duas conclusões: 1- ou estava a mentir; 2- ou então Vieira fiava-se na dita estrutura, hoje emaranhada em inúmeros processos judiciais, para continuar os agora conhecidos planos de controlo total dos mecanismos do poder e da arbitragem do futebol português.
Porém, acima de tudo, o que perpassa de toda esta temporada foi uma enorme soberba do presidente encarnado que até numa entrevista à BTV sentenciou que o Sporting não ia ganhar nada – e pode ganhar dois troféus – e o Porto, em plena Luz, pode ter destroçado o tal sonho que tinha por desígnio. O fácil agora para Vieira é, como diria outro dirigente, a vassoura e o cheque. Despedir Rui Vitória e anunciar milhões para contratações calando assim a contestação que até já é personificada por um putativo candidato contra ele. Mas a verdade está no Talmude: «a arrogância é o reino – sem a coroa».
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record)
Todos os grandes impérios terão caído por razões tão próximas, que terá pleno cabimento interrogarmo-nos sobre o que tem levado o Homem a cometer sistematicamente os mesmos erros ao longo da História. A resposta estará exactamente na citação com que Rui Calafate encerra a sua excelente crónica de hoje.
Mas a terrível ironia do tema abordado por RC, resultará do facto de que o erro cometido pelo ainda presidente do Benfica não se circunscrever à sua sinistra figura, agora finalmente em vias de ser apanhado nas malhas do "império" que ela própria alegadamente terá tecido, antes ser um "estado de alma" partilhado por toda a "grande nação benfiquista", tão criticado e condenado por todas as "restantes nações" deste "desgraçado estado a que isto chegou"!...
Depois admiram-se os benfiquistas de os sportinguistas gritarem ao quatro ventos que, "não sendo o Sporting campeão, que seja qualquer outro excepto o Benfica"!...
"Quem semeia ventos, colhe tempestades"!...
Leoninamente,
Até à próxima
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