Quando Al Capone entra em cena
«Quinze dias depois já se percebe melhor a Operação CovidFree. Confrontado com uma investigação demasiado complexa – e longa – para a justiça portuguesa, agora que, segundo alguns ideólogos do processo penal resultadista, os chamados megaprocessos têm os dias contados, o Ministério Público abraçou o teorema de Al Capone.
Expliquemos: perante uma investigação difícil e complexa sobre o dinheiro do dono (chamemos-lhe assim) do Portimonense, que entra nos cofres do FCPorto, dos negócios em que as comissões correm para quem vende e quem compra, das sociedades-écran em paraísos fiscais, a justiça optou por um caminho aparentemente mais fácil.
Apanhando a traficância dos testes covid negativos à boleia daquele processo principal, através de uma informação que ali caiu, certificada formalmente por denúncia anónima mas, muito provavelmente, sacada de um espírito santo de orelha que caiu no colo dos investigadores por via um pouco mais tecnológica do que pela mesquinhez humana, estes fizeram as contas da simplicidade.
Os protagonistas são os mesmos do primeiro processo, a pena aplicável no caso dos testes Covid é mais alta dos que a dos crimes em causa no processo das negociatas, o bem jurídico violado é a própria saúde pública, portanto, mais capaz de recolher a censura social generalizada do que aquelas, a prova é, incomensuravelmente, mais fácil de fazer.
As peças do puzzle encaixam todas no teorema Al Capone e, na verdade, é de se lhes tirar o chapéu. Isto, claro, se a investigação não demorar os habituais seis ou sete anos da justiça portuguesa sempre que os visados são gente que se pode sentar à mesa de alguns polícias, procuradores ou juízes, seja em jantares de comissões de honra de recandidaturas à presidência de clubes ou almoçaradas comemorativas de um título qualquer no restaurante do Parlamento.
A finalizar, João Félix e Frederico Varandas. João Félix não foi tão decisivo como Suarez ou Oblak no título do Atlético de Madrid, é verdade. Mas o Atleti jamais seria campeão se Félix não tivesse sacado aquele passe genial que, aos 82 minutos, começou a reviravolta contra o Osassuna, na penúltima jornada. Classe, inspiração, talento. Os 120 milhões voaram para dentro da baliza adversária naquela bola. E o título para o Atlético.
O discurso vitorioso de Varandas, na câmara de Lisboa, é um grande momento de síntese sobre o que vai mal no futebol português. Só não terá gostado quem enfiou o gorro que aquelas palavras levavam.»
A julgar por alguns comentários que desgraçadamente chegaram a Leoninamente - uns publicados e outros a guilhotina viu-se obrigada a tratar-lhes da saúde! - parece que alguns sportinguistas também terão "enfiado o gorro que aquelas palavras levavam".
E há quem não tenha o mínimo de vergonha na tromba e se continue a afirmar sportinguista!...
Os sapos que um leão tem de engolir!...
Leoninamente,
Até à próxima