Com amargura na alma, não quero deixar de aqui prestar a minha homenagem a um grande amigo benfiquista que hoje acompanhei à última morada. Ainda não sei o que hei-de fazer para resolver a tremenda saudade que já sinto das eternas e sempre humoradas "trocas de galhardetes" de leão para águia, em que a poderosa e diáfana mão de uma amizade muito forte, jamais consentiu o mais leve toque de azedume. Sílvio Ramalheira partiu. Fiquei sem um amigo do peito, que sempre lembrarei até ao dia em que me encontrar com ele, esteja onde estiver. O Benfica ficou mais pobre, porque um adepto da sua dimensão, faz falta, muito falta ao emblema da sua vida. R.I.P. "manman"! Assim lhe chamavam carinhosamente os netos. Ela benfiquista como ele, ele sportinguista dos sete costados, que teve de ficar do outro lado do Atlântico, sem se despedir do seu ídolo, que juvenilmente afirmava apenas possuir um "defeito": ser benfiquista! Não era defeito Alex, porque no teu "manman", apenas existiam virtudes!
Mas a vida continua e entre o passo doloroso e cadenciado dos muitos amigos que acompanharam a sua última jornada, posso assegurar que os sportinguistas eram muitos. E entre eles, estava um ex-presidente de um clube de futebol de localidade próxima, a militar nas competições distritais e que simultaneamente presidiu durante largos anos ao núcleo sportinguista.
Entre dois sportinguistas que há muito se estimam, naturalmente se abordou o tema do momento no Sporting e aconteceu a troca de opiniões sobre as diferentes candidaturas e bem assim sobre as personalidades mais destacadas nos diversos orgãos a que cada uma delas concorre. E às minhas dúvidas sobre a personalidade e carácter do candidato na lista de Bruno de Carvalho à MAG, por via de comentários negativos que já por aí vão pululando, tive a surpresa de ouvir desse experiente dirigente e homem do futebol regional, uma história curiosa que entendo dever divulgar.
Há muitos anos, o clube desse amigo, no último jogo do campeonato, deslocou-se a Vila Nova de Poiares, onde a vitória lhes poderia dar o título. O ambiente no campo de futebol do Poiares, era intimidatório e ameaçador para a uma ou duas dúzias de adeptos visitantes. O jogo terminou com a vitória e o título para os visitantes, cujos adeptos receando represálias e violência física, se refugiaram no balneário da sua equipa. Eis senão quando, entra no balneário o Presidente da Câmara local em exercício, Jaime Marta Soares, perguntou pelo Presidente do clube visitante, afirmando-lhe, que sob sua honra e garantia, todos os adeptos poderiam regressar ao campo e em liberdade e alegria, festejar o título justamente alcançado, porque ele assumia essa responsabilidade. E assim aconteceu! Primeiro a medo e sempre acompanhados por Jaime Marta Soares, os adeptos visitantes e todo o plantel e corpos técnico, clínico e dirigente, voltaram ao rectângulo e festejaram devida e livremente, com alegria e júbilo, a vitória da sua equipa, de modo absolutamente diferente do que ainda há poucos dias vimos em Braga e Guimarães.
Disse-me esse amigo e grande sportinguista, cujo nome não divulgo porque conheço a sua simplicidade a aversão às bocas do mundo: "Meu amigo, senti nas suas palavras, um natural desconhecimento sobre a personalidade, a integridade e o carácter de Jaime Marta Soares, que passei a considerar como amigo, mais ainda quando depois soube ser sportinguista. Contei-lhe esta história verídica que aconteceu comigo, porque um homem que protagonizou o relato que lhe acabo de fazer, não é um homem qualquer! Não ligue ao que de mal dele disserem!...".
No meio de um dia de desgosto para mim, pela perda de uma amigo querido, tive a grata satisfação de ganhar a consideração por um homem cujo perfil aqui confesso, desconhecer quase por completo, mas que a partir de agora, jamais me envergonhará, se porventura vier a ser eleito para o cargo máximo da hierarquia leonina.
Leoninamente,
Até à próxima