Depois de escrever o artigo anterior, fui confrontado com um comentário de um amigo próximo, que me questionava sobre o tema central que abordei, defendendo que uma decisão desta natureza deveria resultar de uma abordagem suficientemente alargada, onde fosse dada a palavra a todos os que, seguramente, dominassem a matéria com o suficiente conhecimento e profundidade.
A reflexão que as palavras desse meu amigo quase me impuseram, obrigou-me a partir para uma busca diversificada de opiniões sobre esta candente e importante questão. Encontrei de tudo, desde a defesa acérrima, sustentada, inadiável e urgente implementação da medida, até à sua liminar condenação, sem excepção defendida pelos habituais beneficiários do "status quo" e da manutenção do regime de privilégios com que se habituaram a viver, no pântano do marasmo e da estagnação do futebol português.
Não encontrei sustentação para as teses destes últimos, para além do alerta bacoco de a medida poder conduzir ao desaparecimento de muitos clubes modestos da II Liga. Como se o desaparecimento de Boavista, Salgueiros, Farense, Campomaiorense, Alverca, Estrela da Amadora e muitos outros, tivesse, de perto ou de longe, alguma coisa a ver com a implementação das equipas B, no futebol profissional nacional. Pretendem esses arautos da desgraça, tapar o Sol com a peneira, esconder factos irrefutáveis que apenas podem estar ligados a dolorosas faltas de preparação para o dirigismo desportivo, sem perspectiva e visão de futuro e exibindo, estupidamente, (pre)conceitos megalómanos aliados a uma pobre, franciscana ou criminosa incapacidade de gestão. E entre "caudillos", "mecenas" e "velhos do Restelo", nada mais encontrei de argumentação sólida e consistente que possa constituir ponderação séria da via em debate.
Já nas múltiplas apreciações positivas a que tive oportunidade de aceder, pude constatar visão de futuro, perspectivas lúcidas e inteligentes sobre o futebol português e desinteressado apelo ao seu urgente e inadiável "aggiornamento".
Em excelente artigo, publicado no blog "Em jogo", da autoria de Miguel Lourenço Pereira em 15 do mês passado e que poderá aqui ser apreciado na íntegra, gostaria de destacar a introdução:
No meio do deserto de ideias em que vive o futebol português a hipotética ideia de ressuscitar as equipas B num formato distinto ao seu modelo original é uma lufada de ar fresco. Insuficiente, dentro de um contexto muito mais lato, mas um passo correcto para uma realidade indismentível e que exige uma resposta imediata por parte de clubes e organizações directivas. No entanto a forma como se arranca o ideário deixa no ar algumas dúvidas pertinentes sobre um outro - e tão grave problema - do futebol luso como é o eventual fim de muitos projectos desportivos que até hoje sobrevivem por um fio.
Introduzido o tema, MLP analisa depois a tentativa e o imediato fracasso do projecto de 1999, onde terá pontificado Jesualdo Ferreira como importante mentor, para defender a seguir:
Resgatar então o ideário das equipas B pode parecer um erro à primeira vista. Mas o contexto é outro. E a necessidade evidente.
Explicando de forma sucinta mas cabal e interessante, a ascensão meteórica e o posterior e vertiginoso declínio actual do futebol português, conclui:
Entre as decisões mais importantes para reverter o rumo a formação ocupa um papel fulcral num país sem rendimentos para competir com o poderio financeiro doutras ligas. As equipas B são uma das soluções possíveis. Não a única, não a mais importante mas, seguramente, uma das mais certeiras, especialmente com a confirmação da UEFA da utilização definitiva da regra 6+5.
Dirigindo depois a sua análise, para o esquema já alinhavado, da inclusão de seis equipas B na II Liga portuguesa (Liga Orangina), MLP, tece considerações importantes sobre as implicações - potenciais benefícios e prejuízos - que esta medida poderá vir a determinar. Mas remata com uma constatação clara e inequívoca:
Claro que a ideia no papel funciona sempre melhor do que na prática, especialmente se falamos num futebol como o português, cheio de ratoeiras, armadilhas e corrupção activa e passiva. O projecto tem todas as pernas para andar (o sucesso do Barça ou do Villareal B em Espanha e das equipas de reserva na Alemanha, Inglaterra e Holanda assim o diz) e pode ser uma alavanca económica e social para reinventar o futebol luso. Mas é apenas uma solução de base que necessita muito trabalho estrutural por trás e muita vontade para funcionar. As equipas B são parte de uma ponte para um futuro melhor mas a margem é longa e vai ser necessário muito mais cimento, pedra e alcatrão para chegar ao outro lado do rio...
Depois de ler esta extraordinária contribuição de Miguel Lourenço Pereira, em prol da "activação" imediata e urgente das equipas B no escalão profissional do futebol português, fica-me o consolo de pensar, que muito dificilmente a intuição que me colocou do lado dos defensores da ideia, poderá alguma vez estar errada. E ao conselho de ponderada reflexão, por parte do amigo de que vos falei, eu responderei agora, que as acções revolucionárias, pesem embora alguns sacrifícios no presente, transportam sempre uma esperança no futuro. E a vertiginosa decadência do futebol luso, não se compadece, nem se modifica com "cautelas e caldos de galinha"!... O rei vai nu e venham os trapos de onde vierem, haverá que pôr termo à descompostura. MLP afirma, contundente, que:
No fim de isto tudo está o futebol nacional como tal. A presença de equipas B dinamiza uma liga profissional abandonada, fomenta a formação, especialmente entre os grandes e sobretudo dá espaço e minutos para jogadores jovens começarem a ganhar o seu espaço. Se essa foi a bandeira do futebol luso até 2002 - e a base do seu sucesso - esse terá de ser o ponto de partida desta nova etapa... pode ser que a renovação geracional que se adivinha tão dificil se transforme num processo menos turbulento.
Pode ser!... E entre o fatalismo da inércia e a esperança da revolução, eu voto no futuro!!!...
Leoninamente,
Até à próxima