Pote como rosto do Sporting para o tri
«Tudo nele é mentira, expressa por presença, gestos, intenções e estilo, razão pela qual não convém atender aos olhos enganadores, que anunciam o contrário do que estão a pensar; parece discreto, inofensivo, frágil e preguiçoso mas, num dia normal, transforma-se em figura esmagadora, enquadrada por deslumbramento, agressividade, robustez e tremenda eficácia. Pote é um jogador superior, com a velocidade adequada às zonas que pisa e às necessidades de cada instante; a técnica maravilhosa para executar tudo aquilo que se propõe fazer; a visão de quem entende o futebol em toda a sua dimensão colectiva, e a habilidade para sair de apertos, recorrendo a truques nunca desprovidos de objectividade.
Com três títulos no bolso, em cinco épocas douradas de leão ao peito – às quais devemos acrescentar um ano incrível em Famalicão, onde foi uma espécie de Iniesta dos pobres – consolidou a dimensão de figura central da melhor equipa portuguesa. Entrou sem bater à porta e adquiriu o estatuto de ídolo absoluto do Sporting e vulto maior do futebol português.
Na estrela em que se tornou brilham as pontas de uma inteligência superior; do talento fora do comum, que acrescenta e multiplica qualidade à equipa; do instinto simplificador que lhe permite resolver as situações mais delicadas; da serena atitude de quem nunca se deixa afectar pela tensão e do espírito agitado com o qual evita o bocejo generalizado. É uma estrela que cumpre todos os requisitos emocionais que extravasam para os adeptos, mas também satisfaz a implacável ditadura da estatística: 237 jogos, 49 golos e 49 assistências. Há poucos como ele no futebol europeu: médio com instinto goleador e avançado com alma de centrocampista.
No fim de uma época difícil, marcada por lesão de longa duração, viveu o arranque esplendoroso e o final feliz, superando os espinhos do percurso. Pote ainda foi a tempo de deixar a impressão digital no grande feito que foi a conquista do bicampeonato, mais de sete décadas depois. No capítulo final da Liga, com o V. Guimarães, num estádio a rebentar pelas costuras, foi ele quem o fez explodir, lançando a glória com um golo que o identifica: remate pronto, inesperado, sem esforço, com fabulosa precisão, como se, antes da magistral conclusão, a baliza lhe tivesse pedido “passa”.
Na festa do título, do relvado de Alvalade à loucura do Marquês de Pombal, foi centro das celebrações, aproveitando o momento para mostrar dotes teatrais desconhecidos, levados a cabo com apurado sentido de humor, associado à influência no grupo e à perspectiva de um futuro que o terá como alavanca de qualquer projecto que venha a ser o da próxima época. Repetir e actualizar daquela forma a encenação de Ruben Amorim, em 2024, só está ao alcance de quem domina artes dramáticas de representação.
Pote tem agora vários desafios para vencer e obstáculos para superar: com a mais do que provável saída de Gyökeres, será dele o rosto verde e branco rumo ao tri; deve esperar ventos favoráveis para a consolidação de um lugar na Selecção Nacional e, por fim, forçar o mercado a reparar nele como merece, isto é, um dos melhores atacantes da Europa. Menos do que isso não vale a pena. Como disse um dia Manuel Alegre sobre assuntos mais importantes do que o futebol, “por vezes a grande aventura é ficar”. Assim ele tenha vontade de a viver.
Gyökeres para a eternidade
As marcas da sua passagem só têm comparação com os maiores da história
Gyökeres foi o furacão que arrasou o futebol português. Será ele a principal figura do bicampeonato, o primeiro nome de que nos recordaremos quando, daqui por dez ou vinte anos, abordarmos este momento histórico. Números tão arrasadores (101 jogos/96 golos), acrescidos das emoções geradas, dão-lhe a eternidade verde e branca.
Hjulmand foi o farol leonino
Rendeu o grande capitão que foi Coates e excedeu as melhores expectativas
Hjulmand foi o farol leonino. Uma liderança esmagadora, resultado de autoridade natural e não forçada, permitiu-lhe unir as pontas dispersas, ser referência, dentro e fora do campo, e congregar à sua volta os valores (comportamentais e tácticos) orientadores da luta pelo título. É um médio fantástico e um capitão promovido a general.
Trincão na melhor época de sempre
Foi estrela indiscutível da equipa, resistente aos altos e baixos da época
Trincão assinou época de ouro, a melhor de sempre em Portugal, talvez mesmo da carreira. A sua influência na equipa nem estará traduzida nos números, apesar dos 10 golos e 16 assistências, mas a sua prestação, em preponderância e regularidade (segredo dos talentos mais criativos), colocam-no entre as grandes estrelas sportinguistas.»
E venha o TRI!!!...
Leoninamente,
Até à próxima