Benfica e Porto de engano em engano
"Nestas colunas, tenho tentado alertar para a gravidade da situação que envolve a indústria do futebol profissional em Portugal e a emergência de algumas medidas a tomar, para o “barco” não ir ao fundo, sendo que, face ao autismo dos últimos anos e à reincidência nas apostas artificiais, muitos (clubes) não vão conseguir salvar-se. Isso se verá mais para diante e, como sempre tem acontecido, lá aparecerão nesse momento os “cronistas da corte”, sempre muito diligentes na bênção ao regime e, por isso, cúmplices do caos que se instalou, a dourar a pílula ou, em casos mais radicais de perda de memória, a cavalgar a nova onda...
Estamos no tempo das cambalhotas. Interessantes cambalhotas. O “furacão” que varreu Portugal e atingiu, drasticamente, o edifício-sede das personalidades e instituições que comandavam o país faz agora sentir os seus efeitos no futebol. Se, nesta fase, Benfica e FC Porto decidem juntar-se (unidos pelo futuro?!) é porque a noção da profundidade do buraco não permite mais jogos de faz-de-conta. Porque nestas alegadas “revoluções”, em que os propagandistas do regime não têm vergonha em proclamar, em nome da “revolução”, a alegada salvação do futebol português e da sua “credibilidade”, escondendo o essencial, talvez seja importante recordar que, entre outros factos e fenómenos, foi a estúpida guerra Norte-Sul, o discurso belicista de alas radicais dos respectivos exércitos, a gestão megalómana de heróis do nosso dirigismo, a colocar o futebol nacional neste estado de indigência.
Agora volta a falar-se da bondade do processo correspondente à centralização dos direitos televisivos. Não foi por acaso o ex-presidente da Liga que mais fez, em diversas sedes, numa luta difícil e de grande coragem, pela divulgação e amplificação de um tema que ninguém ousava discutir na praça pública, com medo de represálias e retaliações várias? Diabolizado até à medula, por ir contra os abusos de posição dominante, não foi Mário Figueiredo quem realizou o trabalho que outros já deveriam ter feito, perante uma situação de bloqueio, com graves consequências ao nível, até, da verdade desportiva?
Quando se chega a uma situação extrema e quase irreversível é porque os antecedentes e os fautores de crises sucessivas e sempre camufladas não foram capazes de patrocinar ou concretizar medidas que aliviassem os respectivos passivos e outras deformações sistémicas. Portanto, quando as trombetas da bola anunciam “uniões de facto” em nome de um futuro próspero é preciso contraditar a maioria silenciosa. O objectivo é comercial mas não é sério. E, de resto, não se pode perder de vista que algumas das soluções já anunciadas para financiamento da Liga não cabem nos actuais estatutos, pelo que não se deve “saltar o muro” antes de estar concluída a revisão estatutária. Isto para dizer que, em tese, a “união” de Benfica e FC Porto pode ser muito bonita, em nome de uma coexistência institucional há muito reclamada (contudo, parcial, pelo que perde valor), mas a Liga não deve tornar-se no protectorado do FC Porto e do Benfica. Todos os clubes da 1.ª Liga são iguais. Têm direito a 2 votos. Todos os clubes da 2.ª Liga são iguais. Têm direito a um voto. Nem nos actuais estatutos nem desejavelmente nos próximos estatutos há distinção entre clubes fortes e clubes fracos e entre clubes menos ricos e clubes pobres ou falidos. Quando se escreve, sem desmentido, que Benfica e FC Porto garantem financeiramente a salvação dos campeonatos de futebol em Portugal, é preciso determinar o que isso quer dizer na prática. Sem sofismas ou silêncios de conveniência. E é nesse sentido que chamo a atenção de Luís Duque. Já que aceitou o presente envenenado, não deve deixar a passar a ideia de que, por causa das dificuldades financeiras, a Liga não tem outra solução senão transformar-se num protectorado do Benfica e FC Porto, com o amplo patrocínio da FPF e de Fernando Gomes. Quando se diz, vendendo como generosa ideia, que o Benfica está disposto a abdicar de dinheiro de receitas de televisão e de transferências para injectar na Liga, isso é feito apenas por altruísmo? Os sócios do Benfica estão de acordo? A Liga pode colocar-se nesta situação de mendicante à porta do metro? Cuidado, pois, com a publicidade enganosa...".
(Rui Santos, Pressão Alta in Record)
Trouxe aqui ontem "as trombetas da bola"! Uma capa que jamais julgaria ser possível um jornal desportivo publicar em Portugal! Mas foi possível! A troco de quê?! Sei mas não digo. Que cada um pense o que quiser!...
Há pouco mais de uma hora Rui Santos publicou mais uma das suas crónicas Pressão Alta, que me fez afundar na cadeira! Está tudo doido no futebol português!...
Ao que se vê, os sócios do Benfica estão narcotizados! E lá vão, pelo seu próprio pé, caminhando alegres e satisfeitos em direcção a Sodoma!...
Leoninamente,
Até à próxima