Onde estará o talento, nos pés ou na cabeça?!... |
"... Olhando para estas equipas vemos de facto o que querem e o que pretendem. Para isso contam com jogadores bem constituídos, cabelo curto e aspecto normal, sem tatuagens, anéis, brincos ou outros artefactos, apenas focados em dar o seu melhor em termos individuais para servir o colectivo.".
Este trecho da crónica de Júlio Magalhães, despertou-me o desejo de abordar uma matéria que há muito me baila no espírito. Melindrosa, porque colide irremediavelmente com o direito de cada um a construir a imagem que de si próprio apresenta ao mundo que o envolve. Mas que jamais retirará aos alvos dessa mesma imagem o direito, que também lhes assiste, de gostar ou não! Sendo no entanto insofismável que, à margem da relação que possa existir entre quem recebe a imagem e quem a produz, a dispersão da atenção do produtor por campos absolutamente à margem do essencial, nunca será, em meu entender, recomendável.
Comungo com Júlio Magalhães o culto da "normalidade do aspecto exterior" que as figuras públicas, no caso vertente, os jogadores de futebol, deveriam cultivar. Sempre que vejo um jogador de futebol, carregado de tatuagens por todo o corpo, com arrepiantes cortes de cabelo e adornado por uma parafernália de "anéis, brincos e outros artefactos", penso que o espalhafato da sua imagem sempre terá resultado de uma inevitável manifestação de deficiências individuais próprias, sejam elas de carácter técnico/desportivo, ou da humildade de ascendência, ou de limitações do meio em que se desenvolveram e fizeram homens e, concomitantemente, dos reduzidos índices educacionais e culturais que lhes foi permitido absorver. Por outras palavras, porventura de extrema dureza mas de irrefutabilidade garantida, por detrás de todo o caricato de uma imagem, estará sempre uma pobreza qualquer.
Júlio Magalhães fala e bem, de que nas grandes equipas de top mundial, como o Bayern e o Borussia, não se assiste ao culto do acessório. Os seus jogadores apenas estão focados no essencial: a sua prestação desportiva, tanto individual quanto colectiva. Bem que eu desejaria poder assistir no Sporting Clube de Portugal, ao abandono de práticas deprimentes e ridículas do acessório, centrado na imagem que cada um de si próprio exibe e ao culto do verdadeiramente essencial, focado no rendimento máximo que cada um possa conseguir em favor do colectivo. Infelizmente, ainda vamos sendo confrontados com alguns exemplos de uma menoridade incompatível com a grandeza do Clube e os objectivos verdadeiramente importantes que deveriam nortear de forma séria e equilibrada a carreira de profissionais de futebol.
E quanto mais exemplos espalhafatosos conseguirmos reunir mais fácil se tornará interpretar e concluir da relação entre o fenómeno e a origem e suporte dos seus autores. Dificilmente assistiremos nas equipas alemãs, suecas, dinamarquesas, holandesas, norueguesas, inglesas e mesmo russas, a casos de puro exibicionismo e ostentação de imagens radicais por parte de futebolistas oriundos desses mesmos países. Os raros exemplos que eventualmente possamos colher nas equipas dessas diferentes realidades civilizacionais, terão marca registada de África e em particular do Magreb, do Sul de Europa e da América Latina. Porque será?! Porque será que os protagonistas nunca interiorizaram que ao adoptarem tais comportamentos estarão a passar um atestado terceiro-mundista a si próprios e às suas origens?! Ou estaremos perante uma violenta crise de identidade?!...
Leoninamente,
Até à próxima