É do conhecimento de todo o formidável universo sportinguista, a fétida linha editorial do jornal Record, muito particularmente desde que os seus proprietários entenderam trocar o básico mimetismo batesiano do anterior director, pelo pornográfico, manhoso e pérfido descaramento provocatório do actual.
Lá saberão eles as linhas com que se cosem, sendo que aos sportinguistas assistirá o pleno direito de ostracizar o jornal das formas que julguem mais adequadas.
Por mim, as edições em papel foram há muito liminarmente eliminadas da minha lista de compras, tendo passado a apreciar o trabalho dos bons jornalistas e cronistas que, felizmente, ainda constam dos seus quadros, através das edições online, mesmo depois de instituída a "barragem" que significaram os "Conteúdos Exclusivos Premium". Nessa condição, o jornal vem arrecadando as migalhas que lhes pago para o respectivo acesso, enquanto a mim me cabe o direito de regularmente lhes minar os objectivos, com as frequentes publicações que aqui faculto, a todos os sportinguistas que não podem ou não querem fazer o que eu faço.
Sporting na vanguarda
Talvez não haja ainda a noção do que se está a passar no futebol em Portugal, mas a verdade é que o sistema sobre o qual assentou a organização da bola indígena nas últimas décadas está a mudar. Por isso, há nervosismo. Por isso, estão a ficar muito bem delineadas as fronteiras entre aqueles que querem manter o “status quo” – porque beneficiaram com ele – e os que, cansados de serem gozados e roubados, pretendem novo paradigma.
É um caminho árduo e difícil porque, por exemplo, na arbitragem, o modelo que (des)regula o futebol, desde que se transformou em “indústria”, tem o alto patrocínio da FIFA e da UEFA, cujos organismos tornaram as federações (de cada país) suas escravas. A FPF, por isso, faz pouco, a não ser “manter as aparências”.
O Benfica deu o pontapé de saída. O desmantelamento do sistema, tal e qual como se aguentou durante anos, começou com o convencimento – da parte de Luís Filipe Vieira – de que o Benfica teria de aproveitar a sua enorme “força social” para se afastar dos mecanismos que estiveram na base da edificação de um “novo império”. Durante os primeiros anos da sua presidência, Vieira estava convencido da “amizade segura” de Joaquim Oliveira, quiçá a figura com maior responsabilidade na consolidação de um sistema que alavancou as vitórias do FC Porto. Teve de se sentir enganado e prejudicado muitas vezes para aceitar a constatação. E foi por isso, através desta sumária razão, que nasceu a Benfica TV e a vontade de não continuar a promover um determinado poder, através das renovações contratuais com a PPTV/Olivedesportos.
Este passo correspondeu ao momento da “revolução” e é bom que se tenha a noção da importância histórica desta decisão, porque foi ela que permitiu o (actual) PREC futebolístico.
Como em todas as revoluções, há sempre um tempo de avaliação dos danos. Vivemos esse tempo. Joaquim Oliveira sofreu um grande revés, perdeu parte significativa do poder, mas – apesar de nada ser como dantes – continua activo e a tentar fazer valer as suas influências.
Não é por acaso que Joaquim Oliveira e Pinto da Costa sempre se mantiveram juntos e unidos e não é por acaso que o “FC Porto de Pinto da Costa” nunca se envolveu em nada de substancial que permitisse a evolução da indústria do futebol em Portugal.
O que se está a passar com a Liga de Mário Figueiredo, e a pressão da sua destituição como presidente, é a prova de que essas influências ainda se fazem sentir. Principalmente junto daqueles que beneficiaram, durante anos, dessas influências. É bom ter a noção de que a sobrevivência de uma esmagadora maioria dos chamados “clubes profissionais” fez-se através das verbas relativas aos direitos televisivos e a pagamentos adiantados (cerca de 70% das equipas que participam na principal prova do futebol português estão dependentes do dinheiro das transmissões televisivas). Com isso condicionaram-se decisões e muitos tiveram de se remeter ao silêncio. Foi assim que o famigerado “sistema” se manteve intacto durante anos e anos.
O presidente da FPF está a evidenciar um sentido táctico notável. Joga em todos os tabuleiros. Guindou-se a uma posição de relevo com o alto patrocínio de Joaquim Oliveira e, agora, chegado aonde queria, falta-lhe dar a estocada final: acabar com a Liga. Acabar com a Liga (e com a visão reformista de Mário Figueiredo) é a manifestação e a consolidação de um poder e, ao mesmo tempo, a vingança de alguns dos seus apoiantes.
Estamos, pois, em pleno PREC e o contributo dado, agora, pelo Sporting, com um conjunto de reformas que visam transformar a face do futebol em Portugal, sempre muito pouco atreito à mudança, enquadram-se nesse movimento de transformação.
A arbitragem é o sector mais sensível e aquele em que vai ser mais difícil mexer. Veja-se a reacção de Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, ao pacote de medidas apresentadas por Bruno de Carvalho: “Ideias do Sporting não melhoram nada”.
Percebe-se a afirmação: Vítor Pereira tem, hoje, um poder no futebol português que mais ninguém tem: gerir as nomeações a seu bel-prazer. Sem ter de se justificar. Sem ter de explicar critérios. Nada.
É neste sentido que, não deixando de criticar os excessos, às vezes próximos de fórmulas antigas, saúdo o papel vanguardista de Bruno Carvalho. Algumas das suas propostas não são novas, mas é bom que faça valer a sua força para tentar tirar o futebol português do marasmo. Mas, ao comprar uma “guerra”, terá de estar vigilante.
... E em Portugal?
A demissão de Sandro Rosell da presidência do Barcelona, justificada pelas ameaças que ele e a família vinham sendo sujeitos desde que foi tornado público o facto de alegadamente se ter apropriado de uma quantia muito significativa relacionada com a transferência de Neymar para o clube da Catalunha, vem lançar luz sobre as operações de transferência dos jogadores de futebol e a falta de transparência dos respectivos movimentos financeiros. Tudo começou com uma queixa de um sócio em tribunal e o acolhimento de um juiz.
Este é o nó górdio do futebol-indústria. A presunção de inocência existe, mas esta é uma temática que precisaria de mais e melhor investigação... também em Portugal.
“Fiuzada”
O presidente do Gil Vicente, António Fiúsa, começou por se confessar indignado com o facto de não ter sido informado oficialmente da marcação do jogo com o Benfica, da Taça da Liga, para o Estádio do Restelo. Tinha razão. Protestou. Entretanto, recebeu um pedido de desculpas por parte do Benfica e acalmou. Sabia, certamente, o presidente gilista que o regulamento da Taça da Liga (artigo 9, ponto 7) lhe conferia a possibilidade de jogar no seu estádio. Não o fez, porquê? Não seriam apenas vantagens? Perdeu a razão, sobretudo porque não soube defender os interesses do clube a que preside.
Não me irei deter na análise dos dois últimos temas. Tive o cuidado de publicar em negrito as ideias centrais de Rui Santos nas respectivas matérias, que naturalmente subscrevo e que o seu autor teve a arte e o engenho de deixar, a meu ver, absolutamente transparentes.
Já quanto ao tema mais importante do seu notável texto, o amor que uma vida inteira dediquei ao Sporting Clube de Portugal, obriga-me a deixar um alerta sério, a muitos e muitos sportinguistas que se presumem mais sportinguistas que todos os outros, aliando a essa "virtude" uma outra, em que colocam no patamar mais alto a sua própria inteligência, que também, pobre e infelizmente, supõem singular.
Diz Ruis Santos e, sob pena de me acharem repetitivo ou maçador, volto a citar:
"... É neste sentido que, não deixando de criticar os excessos, às vezes próximos de fórmulas antigas, saúdo o papel vanguardista de Bruno Carvalho. Algumas das suas propostas não são novas, mas é bom que faça valer a sua força para tentar tirar o futebol português do marasmo. Mas, ao comprar uma “guerra”, terá de estar vigilante."
Destaco a palavra VIGILANTE, para justificar o alerta que dirijo a muitos autores de blogs sportinguistas, perguntando-lhes se, enquanto vão massajando o próprio umbigo, com anúncios espalhafatosos de um, dois, três, quatro ou mesmo cinco milhares de visitas diárias, já alguma vez pararam para pensar, de forma fria e lúcida, se todos esses milhares de visitas corresponderão exclusivamente a leitores sportinguistas? E se o rótulo que, de forma narcisista e petulante, colocam nos seus escritos, terá alguma coisa a ver com estar VIGILANTE? Que raio de sportinguismo será o de muitos desses sportinguistas, cujos "ódios de estimação internos" se sobrepõem ao amor que o Clube lhes deveria merecer e trocam a VIGILÂNCIA de que fala e bem Rui Santos, pela masturbação quase diária e consequentes e malfadadas ejaculações precoces? E quando se aperceberão de que porventura se estarão a transformar em "cavalos de Troia" da grande Causa Leonina? Ou a preparar-lhe o ventre para violento "haraquiri" ?!...
Leoninamente,
Até á próxima