O REGRESSO À TERRA
«Os jogos da Liga dos Campeões têm um efeito nivelador sobre o campeonato interno. Na montra europeia, os jogadores dos nossos grandes transcendem-se. Por mais que o treinador queira motivar os seus jogadores para o próximo embate na Liga portuguesa, os músculos não respondem da mesma maneira, em especial o cérebro, pai de todos os movimentos coordenados. Mas esta regra tem excepções. Também os jogos europeus perante adversários mais fracos levam os jogadores a tirar o pé das bolas divididas. Com adversários menos mediáticos, mesmo com estádio cheio, o jogador começa a pensar no dia seguinte e assim coloca a vitória em risco. Esta reflexão surgiu enquanto via a última meia hora do Sporting, no jogo de ontem.
Que falta fez Jesus no banco nesse prolongado espaço de apagão colectivo face a uns polacos quase incipientes. O Legia carregava e o Sporting apático, refastelado no 2-0. Correu-se perigo em Alvalade, pela decisão de correr pouco. Faltaram os gritos de Jesus.
Já em Leicester o Porto correu muito e mal. A equipa não sai do meio da ponte entre o exagero da exaltação da posse de bola, cultivado por Lopetegui, e a ideia do futebol de Espírito Santo, que ainda ninguém percebeu qual é. O que se lamenta é ver jovens de elevadíssimo potencial, como André Silva e Otávio, em risco de crise de identidade, devido a um futebol que ainda não sabe o que fazer pelos flancos.
Hoje joga o Benfica, perante 70 mil italianos, ao vivo, e dezenas de milhões, na TV. Ninguém vai poder desligar os motores em campo, com todos os holofotes europeus ligados.
Depois, no próximo fim de semana, se verá que marcas europeias ficam nas pernas e na cabeça dos jogadores, no duro regresso à terra da liga interna.»
(Octávio Ribeiro, De o lhos na bola, in Record)
Por alguma inconfessável razão que agora não virá ao caso, Octávio Ribeiro entendeu desancar os leões que ontem em Alvalade, aparentemente, e depois de sentirem a vitória assegurada, terão tirado o pé do acelerador. E terá ido até mais longe, ao jurar que terão faltado os gritos de JJ, vindos do banco onde não pôde sentar-se. Pois a meu ver e a julgar pelas declarações do técnico leonino no final do jogo, ao contrário do que OR pretendeu fazer crer, terá havido em Alvalade uma estratégia concertada, bem concebida pelo técnico e exemplarmente executada pelos seus pupilos. Se não, atentemos no calendário com que nos próximos tempos os leões se verão confrontados:
01 de Outubro V.Guimarães-Sporting
18 de Outubro Sporting-Dortmund
22 de Outubro Sporting-Tondela
28 de Outubro Nacional-Sporting
02 de Novembro Dortmund-Sporting
06 de Novembro Sporting-Arouca
22 de Novembro Sporting-Real Madrid
26 de Novembro Boavista Sporting
01 de Dezembro Famalicão-Sporting (T. Portugal)
03 de Dezembro Sporting-V.Setúbal
07 de Dezembro Legia-Sporting
11 de Dezembro (?) Benfica-Sporting
18 de Dezembro (?) Sporting-Braga
21 de Dezembro (?) Belenenses-Sporting
Face a este quadro, não andarei muito longe da verdade na convicção de que os erros estratégicos - do técnico e dos jogadores - cometidos em Vila do Conde, terão sido suficientemente escalpelizados no balneário, para que de algum modo possam vir a ser repetidos. E ontem em Alvalade, mesmo com JJ sentado algures no recato de um qualquer camarote menos exposto à devassa jornalística, creio ter visto em Adrien Silva e Bryan Ruiz a extensão em campo do seu técnico e a implementação rigorosa da estratégia antes delineada. Após o intervalo do jogo de ontem, a equipa terá mudado o "chip" para Guimarães, na certeza de que será lá que será chamada a um último esfroço antes do interregno das selecções.
Depois iniciar-se-à um novo ciclo de grau de dificuldade semelhante, que terá o seu início a 18 de Outubro na recepção ao Borússia e que só terminará em Arouca a 6 de Novembro, com grau de dificuldade semelhante e a requerer uma gestão de esforço muito parecida.
É desta simbiose perfeita entre a ambição e a estratégia do técnico e a sua transplantação para o terreno de jogo por parte de todo o plantel, que resultará o êxito de um colectivo que tem declarado, sem tergiversações, querer ser campeão!...
E isto, nem OR nem qualquer outro analista, por mais inconfessáveis que sejam as sua razões, conseguirá desmontar!...
Leoninamente,
Até à próxima
P.S. - Por ter levado um merecido, amigo e leonino "calduço", de um sportinguista devidamente identificado, acrescentei os jogos de 3 de Dezembro até ao Natal, para que o quadro fique ainda mais... terrífico!...