terça-feira, 31 de março de 2020

Se eu fosse Presidente do Sporting, dava-lhe a mão!...


E agora, Rafael?

«Já escrevi no ‘CM’ sobre a triste saga do Rafael Leão, mas a excelente reportagem no Record de ontem levantou o véu sobre a trama que conduziu a este desfecho e justiça esta reprise. Se Rafael tivesse ficado no Sporting, era titularíssimo e tinha as portas abertas para a Selecção Nacional. A escolha dele conduziu-o a um obscuro Lille e a uma posição de subalternidade no decadente AC Milan.

De certeza que não era isto que ele queria, mas outros quiseram por ele, com os resultados que estão à vista. A ganância do lucro imediato, levou a que ninguém tivesse a clarividência de esclarecer o Rafael que a sua conduta pós-Alcochete, e a sua genuína disponibilidade para voltar ao Sporting, destruíam a justa causa de rescisão unilateral do seu contrato de trabalho com o clube, como o TAD veio a reconhecer.

Se o Tribunal da Relação confirmar este veredito, como se espera, dadas as circunstâncias, Rafael arrisca-se a ter um estatuto único no futebol: não joga para receber, joga para pagar. Alguém, de vistas curtas e impreparado, fez a cabeça do Rafael e destroçou-lhe um mais que merecido futuro promissor.

Eu aceito que os pais querem sempre o melhor para os filhos, mas a história do futebol está cheia de pais tiranos, que se intrometem e acabam por ser objectivamente lesivos para a carreira dos seus rebentos. Veja-se o caso do Zivkovic, cuja intransigência parental levou a que passasse de jogador importante do Benfica à situação de descartável sem jogar.

É difícil de prever como se vai resolver este imbróglio, mas uma coisa é certa, vai sobrar para o Rafael, metido em alhadas por que um jogador da sua qualidade,não tem que passar.

As questões contratuais e desportivas dos profissionais de futebol são crescentemente complexas e não podem ser deixadas ao voluntarismo familiar. Jorge Mendes é caro, mas defende competentemente os seus agenciados, como a recente transferência do Bruno Fernandes bem o demonstra.

Ao menos sirva este caso de lição para os muitos aspirantes a vedetas, mal aconselhados e que estragam carreiras por questões que não têm a ver com o seu talento desportivo.

Porque aqueles que tão mal aconselharam o Rafael Leão não o vão seguramente ressarcir.»
(Carlos Barbosa da Cruz, O Canto do Morais, in Record, hoje, às 18:11)

Só vejo uma forma de Rafael Leão poder regressar à "estaca zero" e voltar a sonhar com uma carreira de "gente decente", como se lhe augurava antes de fazer a merda que fez, consubstanciada em quatro pontos fundamentais:

1- Conseguir a rescisão amigável com o AC. Milão;
2 - Conseguir tocar o coração de Frederico Varandas;
3 - Regressar a casa, qual "filho pródigo", da parábola de Jesus Cristo, sem quaisquer direitos e com todos os deveres;
4 - Assinar um contrato de 10 anos com o Sporting, com salário igual ao mais baixo de todo o plantel profissional do Sporting.

Se eu fosse Presidente do Sporting, dava-lhe a mão!...

Leoninamente,
Até à próxima

Bem prega Frei Tomás!!!...


Viver acima das possibilidades


«No futebol fala-se de milhões como quem fala de tostões. São 5 para aqui; 10 para ali e 20 para acolá. Na hora de comprar, de seduzir este ou aquele jogador ou treinador; de aumentar o ânimo dos sócios e adeptos... de uma forma ou de outra, com maior ou menor dificuldade, aparece sempre qualquer coisa para enganar o parolo.

A crise que todos atravessamos devido a esta maldita pandemia exigirá um enorme esforço de trabalhadores e empresas. Mas o que não se compreende é que, no meio de tantos milhões que rodeiam o futebol – pelo menos a julgar pela forma fácil como se dizem e fazem as coisas – haja clubes que comecem já a olhar para esta catástrofe como uma oportunidade de baixar os custos das respectivas ‘empresas’. Então mas se há três semanas havia dinheiro para ‘mundos e fundos’, como é que agora os ordenados de Abril podem estar em causa?

Aceito que clubes e empresas comecem a pensar nos danos a longo prazo. Essa será, aliás, a acção mais responsável nesta altura. Mas Abril? A única explicação é que estamos a falar de clubes totalmente falidos bem antes de a Covid-19 ter entrado nas nossas vidas. E, usando uma expressão bem popular, "não há dinheiro, não há palhaços".

A crise que vivemos (e que vamos viver durante mais alguns meses) trará à tona o melhor e o pior das pessoas, empresas, instituições e clubes. Até agora, a resposta do futebol à tragédia tem sido globalmente exemplar. Temo é que, quando o dinheiro começar a falar mais alto, o vírus se transforme na ganância que há muitos (demasiados) anos consume o desporto. Desejo estar enganado. Para o bem de todos.»
(Alexandre Carvalho, Na Gaveta, in Record, hoje às 17:33)

Bem prega Frei Tomás!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

É preciso separar o trigo do jóio!...


Temos um problema com a DGS


«Nos últimos dias tornou-se público e notório: temos um problema com a Direcção-Geral da Saúde. Um problema de comunicação desastrada, um problema de números de infectados, um problema com a decifração e entendimento da estratégia para a protecção dos idosos dos lares, um problema para percebermos afinal o que deve, o que pode ou o que está a ser feito em relação aos testes. Temos defendido neste espaço a necessidade de se proteger a credibilidade da DGS, criticando autarcas que se insurgiram contra alguns dos seus dados ou lembrando que vivemos um problema novo para o qual não havia ordem de marcha. Continuamos a não ter razão para duvidar da honestidade ou do empenho de quem dirige a DGS. Mas não há forma de iludir a realidade: temos um problema que ou é resolvido a curto prazo ou as críticas vão crescer e a confiança ruir.

Não faz sentido que na sexta-feira a directora-geral reconheça “discrepâncias” no número de infectados e proponha “afinações” para, na segunda, apresentar números para o Porto que supostamente duplicaram porque tinham entrado no domingo na contabilidade nacional e não na concelhia. Não se entende como pode estar o número de doentes recuperados estagnado dias e dias a fio. Não se percebe como há municípios onde o número de casos congela ou regride de um dia para o outro. E não apenas porque os números em si são absurdos ou incompreensíveis; não se entende também pela gritante falta de explicações e de respostas – o PÚBLICO, por exemplo, pode fazer uma pergunta por semana nas conferências de imprensa diárias e não encontra respostas para questões de óbvio interesse público por parte da DGS.

Mais grave ainda foi nesta segunda-feira Graça Freitas ter dito sobre a aplicação de um cordão sanitário no Porto: “Provavelmente será hoje tomada uma decisão.” Uma decisão desta gravidade não se admite como cenário: toma-se (ou não se toma) e só depois se anuncia, até para evitar que todos os que têm mais recursos possam sair a correr da cidade e, como aconteceu em Milão, espalharem eventualmente o vírus pelo país.

Como há semanas disse o primeiro-ministro, não se mudam generais a meio da batalha. Não é isso que se pede. Pede-se sim que o Ministério da Saúde reforce a DGS com meios e competências para apurar números como é devido e comunicar com o país como é indispensável. A continuar assim, arriscamo-nos a confundir fragilidades com incompetência ou erros de método com mentiras. Um cenário terrível para o enorme desafio que, como país, temos pela frente.»
(Manuel Carvalho, director do Público, Editorial, em 31 de Março de 2020, às 07:17)

Uma grande verdade a que diz o director do Público, no seu Editorial de hoje: "a continuar assim, arriscamo-nos a confundir fragilidades com incompetência ou erros de método com mentiras"!...

De facto, para além dos assuntos que Manuel Carvalho, um profissional de informação com responsabilidades sagradas, particularmente num momento como o que estamos todos a viver, aponta no seu editorial, qualquer cidadão comum que se debruce, apenas, sobre a construção do Boletim diário sobre a Situação Epidemiológica no país, dará conta de que algo não irá bem na DGS, para além da matéria tratada pelo director do Público.

Dei-me ao trabalho de retirar do boletim os dados referentes aos "casos confirmados de covid-19 por concelho" e construir a lista abaixo:



Tendo em conta o facto de existirem em Portugal 308 concelhos, sendo 278 no continente, 11 na Madeira e 19 nos Açores, não constarão do boletim da DGS, que no total nos mostra apenas 135, os restantes 173 concelhos. Claro que nos deveríamos congratular com esse facto, pois seria indicador de em 173 concelhos do nosso país não haveria infectados com o coronavirus. Porém, quem acreditará que em concelhos com a dimensão de Castelo Branco, Covilhã, Lagos, Vila Real, Bragança, Miranda do Douro, Caldas da Rainha, Abrantes e os restantes 165 concelhos que não aparecem mencionados nos casos de cidadãos portugueses infectados, seja ZERO?!...

E porque será que Alcochete, de má memória recente para os sportinguistas e todos os desportistas em geral, que ainda prezam a sua dignidade, aparece por duas vezes no rol divulgado pela DGS?!  E porque será que entre um total de 7443 casos confirmados a nível nacional e a soma total de todos os concelhos divulgados pela DGS, existe um apavorador diferencial de 1782 negativo, de casos de cidadãos confirmados como tendo contraído o covid-19?!...

Nunca serei capaz de confundir a enorme e redentora floresta da DGS, liderada por uma enorme mulher de nome Graça Freitas, a quem estarei sempre grato por tudo o que têm feito em prol de todos nós, com as 'árvores de espinhos" que lhes deturpam e enxovalham a imagem e não merecem mais do que o nosso desprezo, pelo seu laxismo e pela sua incompetência...

Doutora Graça Freitas, quando passar esta terrível e traumatizante tempestade...

É preciso separar o trigo do jóio!...

Leoninamente,
Até à próxima

No horizonte, mais dias difíceis para todos!...



E ao "pequeno raio de animadora esperança" que ontem por aqui havíamos admitido, seguiu-se a dolorosa queda na realidade: nas últimas 24 horas o número de novos casos de infectados disparou para mais do dobro do dia anterior, destruindo todas as nossas expectativas e engolindo de sopetão todas as nossas melhores esperanças, obrigando-nos a um decepcionante e preocupante regresso à 'estaca zero'.

No horizonte, mais dias difíceis para todos!...

Leoninamente,
Até à próxima 

Só eu sei porque fico em casa (18)!!!...


Portugal tem 160 mortes e mais de 7400 pessoas infectadas (mais de mil num dia)


Até esta terça-feira foram registadas 160 mortes causadas por covid-19 (mais 20 do que na segunda-feira) e um total de 7443 pessoas infectadas, mais 1035 do que na segunda-feira. A taxa de crescimento de casos de infecção de segunda para terça-feira foi de 16%. 

Há ainda 4610 pessoas a aguardar resultados laboratoriais, 627 internadas e 188 nos cuidados intensivos (mais 24 do que na segunda-feira).

Na segunda-feira, o boletim epidemiológico revelava um total de 140 mortes e 6408 infectados - o que correspondia a uma taxa de crescimento de casos de infecção de 7,5%.

Só eu sei porque fico em casa (18)!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

E assim vai o nosso futebol!...


Uma pena que o dia nos traga pouco mais que estes dois "casos no futebol português!...

O primeiro será o caso dos "três tristes 'tigres'" que muito provavelmente terão protagonizado a séria possibilidade de destruição da carreira de um talento nascido na Academia Sporting. Muito difícil de prever se o egoísmo e ganância terão remédio no futuro.

No segundo caso, será a futuro a estar colocado em causa se os principais interessados continuarem à espera da incerteza...

E assim vai o nosso futebol!...

Leoninamente,
Até à próxima 

segunda-feira, 30 de março de 2020

Os testes não chegam para todos!...



Internamento urgente?! A prioridade nacional é o combate à covid19, e...

Os testes não chegam para todos!...

Leoninamente,
Até à próxima

Nós por cá: "o povo é sereno, é só fumaça"!...




Em Espanha já definiram uma data: ou as competições recomeçam até lá... ou são canceladas
Clubes têm reuniões diárias por videoconferência

«Em Espanha, como um pouco por todas as federações de cada país europeu, unem-se esforços para arranjar uma solução que permita terminar a temporada 2019/20. Todos os dias existem reuniões por videoconferência entre clubes da primeira e segunda divisão e o sindicato de futebolistas. Todos os clubes equacionam diferentes cenários sempre com a ideia de terminar época bem presente… mas há um limite: se até ao fim de semana de 17 de Junho a competição ainda não tiver sido retomada, o mais provável é que a temporada seja cancelada, o que provocará danos incontornáveis para certos clubes.

Arrancar no final de Abril ou principio de maio é uma ideia praticamente descartada. "Se até Junho o país inteiro não voltar a funcionar, o que menos importará será o futebol e a ruína será quase total”, explicou um dos presidentes, ao jornal ‘Marca’. Um dos piores cenários em cima da mesa é o de jogar o que falta em 4/5 semanas, o que obrigaria a que se jogassem três jornadas por semana. É uma opção dura mas, ao que tudo indica, todos os clubes estão de acordo.

Para já, todos os emblemas da Liga espanhola estão confiantes que será possível terminar a temporada, embora sem público nas bancadas. “É um risco desnecessário e haverá reviravoltas, não parece sensato. Embora quem trabalhe numa loja e toque em dinheiro ou mercadoria, estará na mesma situação", frisou outro presidente.

Mesmo que ainda não exista uma confirmação cientifica, os clubes profissionais do país vizinho estão ainda optimistas com a possibilidade do tempo quente fragilizar o vírus e a sua propagação, pensando mesmo esticar algumas jornadas até Julho de modo a que os interesses dos clubes sejam salvaguardados.»
(in Record, hoje às 18:54)


Nós por cá: "o povo é sereno, é só fumaça"!...

Leoninamente,
Até à próxima

Que os números sejam discutidos amanhã!...


Uma das informações que consta no boletim diário da Direcção Geral de Saúde (DGS) sobre a covid-19 em Portugal é o número de recuperados. Desde a passada quinta-feira até esta segunda-feira que são os mesmos 43. Porquê? A resposta é que muito provavelmente não serão 43. Com a prioridade dada à detecção de novos casos, é bem provável que os dois testes negativos exigidos para declarar oficialmente um doente como um caso recuperado, não estarão a ser realizados por uma questão de prioridade, pelo que poderá haver já muita gente em casa clinicamente recuperada e entre os mais de 6400 casos confirmados, os sobreviventes da covid-19 em Portugal serão muitos mais do que 43.

Neste último domingo, a ministra da Saúde comentou a estranha estabilidade no número de recuperados no boletim da DGS que se mantém em 43 há já vários dias e admitiu que os registos podem “estar a ser enviesados por algum atraso temporal”. Antes disso, na sexta-feira, a directora-geral da Saúde tinha afirmado que "ainda temos poucos recuperados porque leva muito tempo até à recuperação completa". As duas podem ter razão. Mas o que importa sublinhar é que muito provavelmente o número oficial não corresponde à realidade.

Seja como for, a grande preocupação de todos nós portugueses, deverá centrar-se, aqui e agora, sobretudo, no cumprimento, escrupuloso e prioritário, do seu comportamento cívico e solidário das severas mas importantes e imprescindíveis  restrições que visam o prosseguimento redentor deste aterrador surto infeccioso...

Que os números sejam discutidos amanhã!...

Leoninamente,
Até à próxima

Entre a crueza da Verdade e a piedade da mentira!...


Tempo de os políticos falarem verdade
Quando a questão se torna de vida ou de morte, não é boa ideia estar nas mãos dos fanfarrões

«No podcast que tenho andado a gravar para o PÚBLICO, "Agora, agora e mais agora", o mais recente episódio, cujo título é Make Aristotle Great Again, menciona uma distinção clássica de Aristóteles entre dois tipos de discurso que podemos entender, no seu sentido político, como dois tipos de mentira. O primeiro é o discurso do político que nunca diz a verdade toda. O outro é o discurso do político que mente desbragadamente.

Ao primeiro, Aristóteles chama o “eíron”, ou ironista. Ao segundo, ele chama de “aleízon”, ou fanfarrão. Ambos são maus para o corpo político da sociedade.

As eleições de 2016 nos EUA, por exemplo, opunham estes dois tipos de político. Hillary Clinton era a “eíron”, ou seja, a política que era tida por nunca dizer a verdade toda sobre as coisas e que por isso passava por insincera. O problema disto é que mesmo quando ela dizia a verdade era atacada também: por ser hipócrita, por ser arrogante, ou por qualquer outro pecado real ou imaginário. Depois de décadas em que os políticos ganhadores eram exactamente deste género passou-se para outro extremo em que eles nunca poderiam ganhar: a sonsice deles fez com que o público deixasse de confiar. Por outro lado, o político-fanfarrão, de que Trump é o maior exemplo, não tem nada a perder: pode mentir, ofender, insultar, ser boçal, egocêntrico ou descaradamente interesseiro, que os seus defensores nunca o criticarão por nada disso. Não é que ignorem que Trump seja mentiroso, pelo contrário; mas consideram-no genuíno na desfaçatez. É um autêntico mentiroso, e um mentiroso autêntico. E esse foi durante uns tempos um paradoxo ganhador.

Há sinais porém de que o tempo deste tipo de políticos pode vir a passar. Quando a realidade vogava em velocidade de cruzeiro, os políticos sonsos pareciam seguros, embora aborrecidos. No pós-crise, vários eleitorados lançaram-se na aventura dos políticos fanfarrões, mas agora que a pandemia do coronavirus assusta a valer há sinais de que se podem arrepender. Os Trumps e os Bolsonaros não são o tipo de líderes em que possamos confiar numa emergência. Numa pandemia, sempre é melhor ter como líder alguém que acredita na ciência e não em charlatanices, que diz a verdade em vez de mentir, que está disposto a ouvir os especialistas em vez de os desautorizar, que se preocupa com o bem comum em vez de se ocupar exclusivamente dos seus interesses. Quando a questão se torna de vida ou de morte, não é boa ideia estar nas mãos dos fanfarrões.

Quer isso dizer que estaremos condenados a voltar ao modelo anterior de política e de políticos? Esperemos que não.

Aristóteles não se limitou a descrever os dois tipos de discurso como o do “ironista” ou insincero, e o do “aleízon” ou fanfarrão. Fiel ao seu método de identificar e valorizar o meio onde estava a virtude, Aristóteles aponta-nos o caminho para um discurso que permitiria sarar as feridas de confiança política de que agora padecemos, e deu-lhe o nome de “parrhesia”, ou sinceridade. A “parrhesia” define-se como o falar franco, sincero, verdadeiro e sem entraves. Especialmente precioso em tempos como os que correm, em que a verdade pode salvar vidas.

Dizer verdade não impede um político de mobilizar, dar esperança e ganhar os cidadãos. Pelo contrário, por longo e árduo que seja o caminho, esta é agora a única forma de recuperar a confiança perdida pela política. Quando temos a vida em risco, somos capazes de aceitar sacrifícios em troca de nos dizerem a verdade, e só depois de nos terem dito a verdade acreditaremos na esperança.

É este o momento de os políticos decidirem que tipo de líderes querem ser. Nacionalmente, vimos nos últimos dias os efeitos que cada tipo de discurso pode ter. Quando António Costa declarou que até agora “nada tinha faltado” ao SNS e nada se previa que viesse a faltar, foi recebido com incredulidade e o consequente desânimo. Toda a gente sabe que já há faltas no SNS e é difícil acreditar que não venha a haver mais ainda, se se negar a realidade das faltas presentes. Mas quando, passados dias, António Costa reagiu às declarações do ministro das finanças neerlandês sobre os níveis de dívida de certos países da UE considerando-as “repugnantes”, a reacção colectiva foi de compreensão e apoio, para lá de considerações sobre a conveniência diplomática das declarações, precisamente porque elas foram vistas como um momento de um “falar franco e sem entraves” nos quais as pessoas podem acreditar.

A partir daqui ainda há muito caminho a fazer, e muito dele é mais feito de obstáculos do que de facilidades. No combate à epidemia, como no combate pela solidariedade europeia, não podemos iludir-nos quanto à dificuldade do que temos pela frente. Não basta afirmar o que queremos ou dizer o que nos estava preso na alma para que a quarentena seja mais curta ou os outros passem a concordar com as nossas propostas. Não precisamos que os políticos nos prometam o que não podem cumprir. Precisamos é que nos digam a verdade sobre o que querem conseguir.»
(Rui Tavares, historiador e fundador do Livre, in Público, hoje às 05:41)

Sobre as dificuldades que em qualquer momento se desenham no nosso horizonte, nenhum de nós terá dúvidas em escolher...

Entre a crueza da Verdade e a piedade da mentira!...

Leoninamente,
Até à próxima

Um pequeno raio de animadora esperança!...



Até esta segunda-feira foram registadas 140 mortes – mais 21 do que no domingo – e 6408 casos de infecção pelo novo coronavírus em Portugal (são mais 446 do que no dia anterior, o que corresponde a um aumento de 7,5% face a domingo), segundo os dados revelados pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) no boletim epidemiológico, actualizado diariamente. No domingo tinham sido registados 5962 casos de infecção e 119 óbitos.

A taxa de crescimento de casos de um dia para o outro foi a mais baixa desde o agravamento do surto. No dia 10 de Março, tinha sido registada uma variação de 5%; nesta segunda-feira, foi de 7,5%.

Pela primeira vez é registado um significativo decréscimo de agravamento do surto em dois dias consecutivos, pelo que será de aguardar com grande expectativa e redobrada esperança a evolução nas próximas 24 horas, para sabermos se a tendência se manterá ou se o decréscimo terá sido meramente episódico e circunstancial.

Um pequeno raio de animadora esperança!...

Leoninamente,
Até à próxima

Só eu sei porque fico em casa (17)!!!...


Segundo dados acabados de revelar pelo boletim diário pela Direcção Geral de Saúde (DGS), até esta segunda-feira, 30 de Março de 2020, foram registadas 140 mortes – mais 21 do que no domingo – e 6408 casos de infecção pelo novo coronavírus em Portugal (são mais 446 do que no dia anterior, o que corresponde a um aumento de 7,5% face a domingo). No domingo havia registo de 5962 casos de infecção e 119 mortes.

A taxa de crescimento de casos de um dia para o outro foi a mais baixa desde o agravamento do surto. No dia 10 de Março, tinha sido registada uma variação de 5%; nesta segunda-feira, foi de 7,5%.

Há 4845 pessoas a aguardar resultado laboratorial e continuam a ser 43 as pessoas que recuperaram. Há 571 pessoas internadas e 164 nos cuidados intensivos (mais 26 do que no domingo).

O Norte do país continua a ser a região com mais casos: são 3801 e 74 mortes; segue-se a região de Lisboa e Vale do Tejo com 1577 casos e 30 mortes. O Porto é o concelho com mais casos de infecção (941), seguido de Lisboa (633), Vila Nova de Gaia (344), Maia (313) e Matosinhos (295).


Só eu sei porque fico em casa (17)!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

Lá terão que recuar 10 anos no proclamado 'avanço'!...


Uma séria machadada - espera-se que definitiva -, no "campeão do xico-espertismo tuga", como a imagem acima demonstra à evidência, naquele que terá sido o último de uma série de dezenas praticados pelo mesmo clube de há longos anos a esta parte, sempre na mais completa impunidade!...

Sabe-se que terá havido uma boa mão-cheia de casos em que os jogadores contratados nunca terão chegado a envergar a camisola do clube contratante, nem sequer em apresentações oficiais, através do recurso abusivo a fotomontagens para 'papalvo ver'!...

Lá terão que recuar 10 anos no proclamado 'avanço'!...

Leoninamente,
Até à próxima

Do que formos capazes de fazer agora!!!...


O que sobra e o que resta…
Algumas das coisas que começarem a ser feitas agora ficarão para sempre. A solidariedade europeia, por exemplo. O que de bom ou de mau se fizer agora, ficará para depois. A dimensão do Estado, também.

«Salvar milhões de pessoas. Tratar dos doentes. Lutar contra o contágio. Conter a propagação. Liquidar o vírus. Impedir o seu regresso. Preparar meios para curar os infectados. Descobrir uma vacina. Fazer tudo isto nas melhores condições de equidade. Tratar todas as pessoas igualmente, sem favorecer classes sociais, raça, etnia, religião, origem, idade, sexo, crença ou partido. Esta é uma prioridade.

A outra prioridade é tratar do que vem a seguir. Da sociedade que se mantém de pé. Mas também daquela que fica de rastos. Ocupar-se das empresas, do emprego, do Estado, da educação, da segurança social e da justiça. Da economia que vai ser necessário reerguer. Das instituições a que vai ser preciso dar vida. Da democracia que vai sair ferida. Dos direitos individuais que vão ser diminuídos. Da tolerância que vai sair magoada. Da compaixão que vai ser pisada por muitos. Da informação que vai ser necessário salvar da morte iminente.

Fazer as duas coisas que parecem ou são contraditórias: este é o grande problema. Fazer com que os cientistas e os técnicos, sem se envolver em política, encontrem os remédios e tratem de quem necessita. Mas fazer também com que os políticos façam as leis necessárias, sem se envolver em ciência. Fazer ainda com que os serviços hospitalares e de saúde pública cumpram os seus deveres sem se envolver em ciência nem em política.

Vivemos tempos muito difíceis, inéditos para a maior parte da população, em que é frequente encontrar quem saiba tudo de tudo. Quem tenha soluções para a ciência, a administração, a economia, o emprego, a educação e tudo o resto. “Há que…”, “É só…”, “Basta…”, “O que é preciso é…” estão entre as expressões mais ouvidas nas televisões e mais lidas nos jornais! E o problema é que todos têm direito a tudo, às suas opiniões e às suas asneiras, mesmo erradas… Como todos têm o direito de viver com ansiedade, de ter medo, de imaginar soluções. Mesmo os tolos que dizem que o vírus é mortal para capitalismo e os idiotas que garantem que o vírus é o golpe de misericórdia no comunismo: todos têm direito à opinião. As asneiras e as parvoíces de muitos são a liberdade de todos. E isso é o que interessa.

É essencial tratar da doença. Encontrar as suas causas. Inventar a sua cura. Descobrir a vacina. O que se dispensa é quem aproveita para fazer contrabando de política, tão grave quanto os que fazem mercado negro de máscaras ou papel higiénico. Já se percebeu que há quem queira aproveitar para liquidar direitos dos trabalhadores, despedir precários, reformar efectivos, baixar salários, reduzir a segurança social, diminuir os impostos, tudo legalmente e de modo definitivo. Mas também já se percebeu que há quem queira liquidar a iniciativa privada, as empresas, as instituições particulares de solidariedade, o mercado, a liberdade de estabelecimento e de iniciativa.

Dar a prioridade às condições sociais e económicas, como muitos fazem, é ridículo. Ouvir um sermão esquerdista sobre a luta de classes e o sector público, a propósito do vírus, com o maior oportunismo sectário que se imagina, é convite a descrer nas capacidades de inteligência. Considerar que tem de se tratar da questão biológica e médica, sem atenção às condições sociais, económicas e políticas, é miopia indesculpável ou intenção eugenista inaceitável.

Quem tem duas assoalhadas, sem aquecimento, para seis pessoas, não tem as menores condições para “ficar em casa” e se salvar. Quem vive em lares miseráveis está condenado. Quem não tem meio de transporte seguro não tem acesso a alimentos frescos. Quem não tem instrução não percebe as recomendações. Quem vive nos arredores ou em isolamento não consegue chegar com segurança às instituições. Quem não tem emprego não consegue comprar pão. Quem é despedido não pode tratar da saúde dos seus. Quem tem pensões mínimas fica sem capacidade de acorrer ao que é necessário. Quem vive no limite da sobrevivência não chega ao que já é mais caro e inacessível. Quem não tem meios não pode contrariar os mercados negros que proliferam. Quem não tem wireless, telefones modernos, telemóveis à altura, iPad capazes, conhecimento informático avançado e assinaturas de redes, não tem meios para ser informado devidamente. Quem vive sozinho e tem problemas de deslocação fica nas margens da sociedade. Quem tem outras doenças e insuficiências vive em pânico.

É tão difícil combater ao mesmo tempo o vírus, a pobreza, o privilégio e o despotismo! É tão difícil tratar das duas coisas, do imediato e do futuro! Da saúde e da sociedade! Da vida e da democracia! É tão difícil tratar de tudo sem demagogia, sem oportunismo, sem aproveitamento político! É tão difícil deixar à ciência o que é da ciência, à política o que é da política, à cultura o que é da cultura e aos indivíduos o que é deles! É tão difícil impedir que a emergência se transforme em regra! Que a eficácia liquide a liberdade! Que a centralização de esforços se transfigure em sistema de vida! Que a vida e a saúde sejam cada vez mais o recurso colectivista e a mercadoria capitalista! Encarar estas dificuldades ou contradições é o princípio de uma sociedade decente.

Algumas das coisas que começarem a ser feitas agora ficarão para sempre. A solidariedade europeia, por exemplo. O que de bom ou de mau se fizer agora, ficará para depois. A dimensão do Estado, também. O necessário reforço do Estado na saúde pública e na ciência médica poderá, depois, transformar-se numa monstruosidade burocrática ou numa máquina lucrativa de mercadoria. Se a força do sistema nacional de saúde não for preservada, fácil será voltar ao seu declínio. Se muitos direitos individuais forem contidos agora, podemos ter a certeza de que, depois, será difícil voltar atrás. Se a comunicação social livre desaparecer agora, é certo e sabido que nunca mais voltará a ser o que foi nem o que deve ser. O que fizermos agora com a autoridade do Estado, a liberdade individual, a cooperação europeia ou o fecho de fronteiras nacionais é o que provavelmente ficará para depois.

Não é o vírus que fará o que quer que seja às sociedades. O destino será o que as pessoas quiserem fazer para lutar contra o vírus, pela saúde e pelo futuro. Haverá mais comunismo e mais despotismo se as pessoas quiserem. Haverá mais mercadoria e mais capitalismo se for isso que as sociedades desejam. Não é por causa do vírus que teremos, a seguir, mais liberdade, mais segurança, mais igualdade e mais decência. Se tivermos, é por causa de nós. Se não tivermos, é por nossa causa.»
(António Barreto, Opinião,Coronavírus, in Público, em 29 de Março de 2020, às 07:59)

Já alguém o afirmou que o cataclismo que sobre nós se abateu, será como "estar numa praia, à espera da chegada de um tsunami"! Julgo ser uma imagem que estará muito próxima de tudo aquilo que nos poderá acontecer, sem contudo deixar explícita a mais pequena réstia do que será...

António Barreto escolheu um outro caminho: alerta-nos a todos nós para o milhão de cenários que se nos poderão vir a colocar enquanto sociedade, depois da passagem do "tsunami", todos eles dependendo...

Do que formos capazes de fazer agora!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

domingo, 29 de março de 2020

Isso, que a cáfila chame bruxo ao homem!...


Presidentes da junta precisam-se!

«A junta da União de Freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente de Pereira Jusã, no concelho de Ovar, que se encontra desde o dia 18 em estado de calamidade, cancelou, no sábado, os eventos públicos. Não o fez até 9 de Abril, 1 de Maio ou 10 de Junho... fê-lo até final do ano. Quer isto dizer que Bruno Silva, o presidente da junta, é mais inteligente ou tem mais juízo na cabeça do que boa parte dos dirigentes desportivos, que à nora com o desconhecido vão alimentando teorias de reposição das competições, ainda com a conclusão a todo o custo da presente época atravessada na garganta. Apontam datas, definem hipóteses de curto e impossível prazo, e sonham com soluções ideais como se a covid-19 fosse uma mera incomodidade. Deviam olhar, por exemplo, para o pragmatismo de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, que deu um primeiro passo importante, cancelando todas as provas de futebol e futsal, nos escalões de formação. Não haverá campeões, nem subidas ou descidas. O comunicado da FPF coloca, aliás, o foco onde ele pertence: "a prioridade de pais, avós, filhos e netos deve ser a de se dedicarem à proteção uns dos outros".


Os devotos da utopia começam a ser cada vez menos, é verdade. Enquanto uns, como Bartomeu, no Barcelona, ou Cerezo, no Atlético de Madrid, se vão entretendo a reduzir os incomportáveis salários dos jogadores, como se só daí viesse a salvação, outros vêem mais longe. É o caso de Andrea Agnelli, presidente da Juventus, que tendo assegurado igualmente uma poupança – de 90 milhões de euros – na folha salarial, proferiu a frase que tudo define: "Os clubes enfrentam uma ameaça à sua existência". É disso que se trata.

Parece hoje consensual o cálculo dos especialistas de que só em Maio a Europa atingirá o "pico" ou o "planalto" da pandemia, o que significa que os casos positivos serão milhões e os mortos centenas de milhares. Acham que é exagero? Peguem amanhã nos dados do final de Março, ponham-lhes em cima 10 ou 15% de aumento em cada um dos 30 dias de Abril e terão, na brutalidade do acumulado, uma visão real do inferno. Mais: haverá talvez três meses – até Agosto – de curva descendente e com um total de vítimas também relevante. Por isso, não iremos de férias e as aulas dificilmente recomeçarão em Setembro. E em Outubro, alerta quem sabe, o coronavírus voltará. Querem recomeçar o futebol? Óptimo, é o que queremos todos. Mas trabalhem com os pés na terra e salvem os clubes, antecipem a realidade económica e a hecatombe social pós-vírus, e tomem nestes dias de chumbo as medidas difíceis para cá estarem depois.

O último parágrafo é de novo dedicado ao esgoto das redes sociais, onde se insultam os milionários do desporto por ganharem fortunas e darem apenas "uns trocos" para o combate à peste – e só Cristiano e Jorge Mendes já vão em 4 milhões de euros. É o habitual mundo ao contrário dessa cáfila: insurge-se contra quem é generoso e poupa os sovinas cuja solidariedade é zero.»
(Alexandre Pais, Outra vez Segunda-feira, in Record, hoje às 20:07)


Isso, que a "cáfila" chame bruxo ao homem!...

Leoninamente,
Até à próxima

Não seriam testes inúteis!!!...

in jornal Público


«O pangolim é o animal selvagem mais caçado do planeta e encontra-se em risco crítico de extinção. A hipótese, até agora incontestada na comunidade científica, é a de que os morcegos terão transmitido o vírus SARS-CoV-2 (responsável pela doença covid-19) aos pangolins e estes aos humanos. Vale a pena perceber em que contexto é que este animal, estranho e adorável, nos terá transmitido o vírus que parou o mundo. A contaminação ter-se-á dado num mercado de Wuhan, China, com uma área de animais selvagens que são pré-vendidos ainda com vida para serem recolhidos, já mortos e esquartejados, cerca de 15 minutos mais tarde. Nestes mercados, cada exemplar vivo de um pangolim pode custar 600 dólares e é apreciado por inteiro: primeiro ferve-se em água para lhe serem extraídas as escamas que, depois de tostadas, moídas e cozinhadas, são usadas na medicina tradicional chinesa para curar malária, surdez ou reumatismo. A carne, geralmente estufada com gengibre e citronela, confere status a quem a serve.

O negócio da caça furtiva de pangolins rende milhões de dólares, resultantes do abate e captura de toneladas de animais por ano. Mas, um olhar atento revela que o negócio é maioritariamente intermediado por comunidades pobres que encontram no tráfico de animais uma oportunidade de subsistência. Nos mercados de animais selvagens vivos, misturam-se de forma caótica seres capturados em ecossistemas muito diferentes entre si, o que, somado ao stress e baixo nível imunitário dos animais, cria o ambiente certo para a transmissão de vírus intraespécies. Seguem-se transmissões zoonóticas; os vírus passam dos animais para os humanos. E eis-nos aqui chegados.

Em resposta à crise da covid-19, o governo chinês emitiu uma “Proibição Abrangente do Comércio Ilegal de Animais Selvagens, Eliminando os Maus Hábitos do Consumo de Animais Selvagens e Protegendo a Saúde e a Segurança das Populações” – onde interdita todo o comércio e ingestão de animais selvagens não aquáticos. Mas é omisso relativamente à produção e/ou captura de animais selvagens para fins medicinais, comercialização de peles ou investigação. Ou seja, as escamas dos pangolins vão continuar a ser procuradas. Não questiono a eficácia do medicamento obtido através destas escamas, pergunto se não será hora de o sintetizar em laboratório, evitando a extinção de mais uma espécie animal.

Vazio fisiológico

Os pangolins têm um gosto pouco variado, alimentando-se apenas de térmitas e formigas, sendo capaz de as farejar até dois metros abaixo da terra, de as comer com uma língua do comprimento do seu próprio corpo, consumindo uma média de 70 mil formigas por ano. Em zonas da Ásia em que o pangolim entrou em extinção, as colónias de formigas-cortadeiras triplicaram, com consequências severas para a vegetação autóctone. São animais afáveis, que para protecção se limitam a soltar um cheiro nauseabundo e a enroscar-se em si próprios, ficando a parecer uma bola de escamas reluzentes. Sabendo do imenso fascínio que os humanos nutrem por bolas, é fácil perceber que na sua singularidade passiva, os pangolins se tenham tornado objecto de cobiça. Depois de séculos de predação, que aumentou exponencialmente ao longo do século XX, a existência dos pangolins é hoje assegurada na lei, mas são organizações no terreno que os protegem activamente da captura ilegal.

Na tradição chinesa existe a convicção de que é preciso preencher um vazio fisiológico, uma quebra na energia do corpo, que ocorre principalmente no Inverno, a que se dá o nome de jinbu. Acredita-se que este vazio seja preenchido com o consumo de animais selvagens, sendo o efeito mais tonificador se consumidos imediatamente depois de mortos. Pode não ser coincidência que tanto o surto de SARS (2002-2003) como o de covid-19 tenham eclodido durante o Inverno, estação em que o jinbu se faz mais sentir e cresce o consumo de animais selvagens.

Estas práticas, de perfil quase medieval, repetem-se um pouco por todo o mundo e exigem de nós gestos éticos e reparadores. Não basta declarar guerra ao vírus, como têm feito (quase) todos os dirigentes políticos mundiais, desconsiderando que esta pandemia, bem como todas as anteriores, são consequência directa da intrusão perigosa e dessensibilizada dos humanos nos ecossistemas terrestres. No interior destes desequilíbrios, os vírus encontram forma de saltar barreiras imunitárias e expandir-se. E se se trata agora de nos livrarmos de um deles, convém sabermos que a exposição foi nossa, reconhecendo a relação causal entre os nossos actos e a sua presença.

De qualquer modo, tratando-se então de uma guerra, talvez fizesse sentido desviar parte do orçamento gasto no sector militar para combater as causas últimas destes desequilíbrios sistémicos. Reforçar infraestruturas que permitem a saída da pobreza e investir em novas; promover a educação ambiental das populações para que estas possam fazer escolhas informadas; combater no terreno a caça furtiva e as causas que a possibilitam. Se travar esta guerra se resumir a investir milhões numa vacina, estaremos a curar uma pandemia sem cuidar de prevenir a próxima, que pode vir a ser mais letal e mais gráfica, nos sintomas e na morte. As nossas vidas podem vir a tornar-se num drible infernal de doenças endémicas.

A covid-19 parou o burburinho e a azáfama. O recolhimento a que nos obrigámos, #ficaemcasa, permite-nos olhar para o mundo (quase) sem nós. Durante este tempo de clausura chegam-nos ao telemóvel imagens e vídeos que nos fazem dar gargalhadas ou trazem lágrimas aos olhos. Chegam-nos mensagens com dados estatísticos, curvas em gráficos, que agora sabemos ler e que mostram como a terra e a atmosfera estão a recuperar sem o peso das nossas movimentações desconcertadas. O espaço telemediado que nos tem vindo a permitir estarmos próximos, espelha o quão juntos e a respirar o mesmo ar estamos na realidade. Talvez assim o conceito de casa comum se torne mais tangível para a larga maioria dos habitantes do planeta.

Mal se ache uma aberta vamos querer regressar às nossas vidas, e, para isso, voltar a confiar nas estruturas sociais e políticas existentes E aqui começa o problema. Tudo mudou dentro e fora de nós, mas as estruturas serão as mesmas. Vamos acordar para uma realidade que, perante desafios prementes, nos vai parecer um filme de época: esquerda e direita, democratas e republicanos, progressistas e conservadores – nada nos vai soar suficientemente moderno ou urgente.

Talvez por isso seja o momento – até porque pode não vir a existir outro – que a definição de políticas, em todas as áreas da acção humana, seja antecedida pela leitura diligente do relatório IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C, das Nações Unidas, onde se aponta uma janela de 12 anos para evitar um aquecimento terrestre superior a 1,5º – o que ainda assim só deixará 30% dos corais marinhos vivos. O relatório é rico em explicações e em cenários alternativos, ilustrados de forma clara. A evidência mais repetida ao longo das suas páginas é a de que quaisquer soluções dependerão da capacidade de operar de forma síncrona e orquestrada. Dependendo da vontade integrada dos humanos, 12 anos terão que ser suficientes. Este vírus obrigou-nos a tomar medidas globais que, num futuro (muito) próximo, vamos ter de adoptar voluntariamente. E nesse sentido pode ter a utilidade de um ensaio geral.

Regresso aos pangolins, deixando expresso o desejo de os saber crescidos e multiplicados, para grande terror das formigas-cortadeiras, mas para bem de todos nós. O espaço de reflexão sobre a relação dos humanos com os animais, tem de ser ampliado, discutindo mesmo se os animais podem continuar a ter um papel central na alimentação humana, tendo por ponto de partida o relatório das Nações Unidas. Na realidade, teremos de em breve chegar a um contrato com o planeta, de que o Green New Deal dos democratas americanos pode ser um primeiro esboço – ainda que este por enquanto não refira o contributo da produção de mamíferos na emissão de gases e na desflorestação. Sem um contrato, a falta de qualidade do espaço comum, provocada por um vírus, por poluição ou pelo aquecimento global, nas suas infinitas manifestações, vai comprometer qualquer ideia de salvação individual ou grupal. Os ricos e os muito ricos continuarão a ter ilusões de superioridade, mas o ar sobre a ilha remota que comprarem vai ser o mesmo. Sem um contrato sério com a Terra, resta-nos enriquecer e comprar assento numa nave de Elon Musk em direcção a Marte. Desejo sorte aos viajantes – vão precisar dela – mas não os invejo. Em Marte há metano no ar, faz muito frio (-127ºC com máxima de 20ºC) há violentas tempestades de poeira sobre extensas rochas de basalto negro e o pior, para pessoas muito ricas, é que não existe em Marte uma única planta, um único animal, nenhum oceano e nenhuma classe social inferior – nada que sugira ou assegure uma rica vida. Na verificável ausência de um planeta B, nenhuma solução passa hoje por regimes de excepção ou por formas declaradas de privilégio. E, felizmente, não existe fortuna capaz de comprar o oxigénio da terra toda.

Depois desta travagem brusca e niveladora, sucede-se a era pós-covid-19 – que pode bem vir a ser o princípio do fim do capitalismo tal como o conhecemos. Nessa era, d.C, tente-se perseguir, sempre que a hubris humana deixar, um belíssimo e muito antigo mandamento, uma regra de ouro, transversal a todas as religiões: fazer aos outros o que gostamos que nos façam a nós. Com uma adenda: que esta alteridade inclua os sistemas naturais. E talvez armados dessa nova postura, mais sensível, possamos começar a falar de humanismo. Até lá, ter cuidado, não morrer e não matar.»

E que tal testar as escamas de Trump e Bolsonaro, tostadas e moídas, na cura do coronavírus?! Decerto que haverá por aí "caçadores furtivos" interessados no negócio e, para além disso...

Não seriam testes inúteis!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

Talvez só lá pelo Natal!!!...

Humor do Público

Se calhar só depois de cumprirmos a sina maldita que persegue o Sporting!...

Talvez só lá pelo Natal!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

Só eu sei porque fico em casa (16)!!!...


Coronavírus: Número de mortos em Portugal sobe para 119 e casos confirmados ficam perto de 6 mil
Número de casos confirmados aumentou 15,3%


A covid-19 fez, até este domingo, 119 mortes em Portugal (mais 19 do que este sábado). Existem, até à data, 5962 casos confirmados de infecção com o novo coronavírus, mais 792 do que o último balanço​ — o que corresponde a uma taxa de crescimento de casos de 15,3% em relação a este sábado.

Estas informações estão presentes no boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde (DGS) que acaba de ser divulgado. Em relação a este sexta-feira e sábado, mantém-se o número de pessoas que recuperaram: são 43. Há 486 pessoas hospitalizadas (mais 68 do que neste sábado) e 138 internadas em unidades de cuidados intensivos (mais 49 do que neste sábado).

Atendendo a estes últimos números, em Portugal, a covid-19 tem uma taxa de letalidade de 2%. No caso da faixa etária dos maiores de 70 anos, a taxa de letalidade aumenta para 8,1%.

Mais de metade das mortes (70) foram registadas em pessoas com mais de 80 anos. Os novos dados indicam que das pessoas que morreram, 27 tinham entre os 70 e os 79 anos de idade, 15 entre os 60 e os 69 anos e cinco entre os 50 e os 59 anos. Há ainda a registar duas mortes em duas mulheres entre os 40 e os 49 anos.

A região Norte continua a registar o maior número de casos confirmados: são 3550 de um total de 5962 casos em Portugal. Além disso, é também a região portuguesa com mais mortes (61). A região de Lisboa e Vale do Tejo tem 1478 casos confirmados e 28 vítimas. A região Centro, a terceira mais afectada, contabiliza 709 casos de infecção e mantém as 28 mortes registadas no sábado.

Um total de 5508 pessoas aguardam resultados laboratoriais e 17.785 estão sob a vigilância das autoridades de saúde. Desde que os primeiros casos foram detectados em Portugal, a 2 de Março, 26.572 pessoas foram testadas e os resultados revelaram que não estavam infectadas com o novo coronavírus.

Só eu sei porque fico em casa (16)!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

Aqueles pobres coitados 'fundilhos europeus'!...


Somos um país desenvolvido
As coisas ainda vão piorar antes de melhorarem. Haverá um momento em que exigiremos mais e mais aos outros e menos a nós próprios. O apoio ao primeiro-ministro e ao Governo não vai manter-se aos níveis actuais. Esse é precisamente o teste que lhe cabe vencer.

1. Perdemos a noção do tempo. Não sabemos literalmente o que acontecerá amanhã. A crise pandémica no nosso país tem um mês. Parece-nos que se prolonga há uma eternidade. Vivemos num filme de ficção do qual nunca pensámos vir a ser actores. Ainda confiamos em quem tem como função liderar a resposta a esta tremenda crise. No Governo, nas instituições, no SNS, no supermercado, na farmácia. Temos consciência de que as coisas vão piorar. Quando o número de vítimas mortais já não for de 100, mas de 500. Quando a pandemia atingir níveis de infectados muito mais altos. Quando o confinamento se prolongar por meses. Manteremos a boa vontade e a disciplina? Continuaremos a confiar em quem nos tem de governar através desta tempestade? Manteremos a nossa humanidade? Não temos a resposta. Vivemos um dia de cada vez. Precisamos de ter consciência de que nos outros países europeus, no resto do mundo, rico ou pobre, as pessoas vivem a mesma circunstância. Muitas delas em mil vezes piores condições.

2. Há alguns sinais deste nosso novo modo de vida colectivo que nos dão razões de esperança. Percebemos no último mês por que é que Portugal integra o grupo de países classificados como desenvolvidos. As nossas instituições funcionam bem. O Estado dispõe da massa crítica suficiente para saber responder com o que de mais avançado existe em matéria de conhecimento, avaliação e resposta à pandemia. Os nossos laboratórios científicos podem não vir a descobrir a vacina, mas têm a capacidade suficiente para produzir testes. As empresas têm capacidade de desviar a sua produção para material médico sofisticado, como ventiladores. Como a maioria dos países europeus como nós.

Os principais órgãos de soberania – Presidente, Assembleia, Governo – conseguem funcionar em harmonia, contribuindo para manter a confiança dos cidadãos. A crítica é totalmente livre, o que aumenta a nossa capacidade de corrigir os erros o mais depressa possível. Finalmente, o debate público começa a fazer-se de forma mais serena e, consequentemente, mais útil. Passou a ideia de que o país tinha de estar preparado no primeiro dia da crise. Está a ser corrigida a crítica à lentidão de algumas das medidas do Governo. Podemos avaliar com precisão a capacidade de resposta dos vários serviços de saúde essenciais quando deixamos de ouvir queixas. Já ninguém se queixa da linha SNS24. O alarme sobre os lares foi útil e começa a perder intensidade. As insinuações ou as críticas bem-intencionadas sobre o rigor e a veracidade da informação diariamente fornecida pelas autoridades nacionais de saúde foram-se desfazendo perante a clareza e a inteligência de Graças Freitas ou de Marta Temido e dos seus secretários de Estado e da visível competência de quem dirige instituições públicas tão importantes como o Infarmed. Mantém-se o debate sobre o equipamento de protecção de médicos, enfermeiros e outro pessoal do SNS. E há alguns sinais preocupantes de “guerras” desnecessárias, como a da Ordem dos Enfermeiros contra os médicos, que teriam, alegadamente, primazia na realização de testes.

Mas podemos ir testando a evolução da situação justamente através desse debate constante, distinguindo quem é sério de quem gosta demasiado de protagonismo (também é isso que fazemos quando as coisas correm normalmente), não ouvindo apenas aqueles que denunciam a falta de equipamento, mas também os que contrariam esse receio. Já ouvimos os médicos que são os principais responsáveis pelo funcionamento de dois grandes hospitais de referência – o Curry Cabral e o Hospital de São João – garantir que o material não tem faltado. Mais tarde ou mais cedo, se a pandemia for relativamente contida, deixaremos de ouvir estas queixas. Ou poderemos voltar a ouvi-las se os piores cenários acabarem por acontecer. Como em Espanha ou na Itália.

3. Queremos tudo agora. É natural. Temos de fazer um esforço para compreender os limites. A questão dos testes é outra que gera uma enorme controvérsia. Compreende-se, quando ouvimos notícias de que alguns dos casos de maior sucesso no combate à pandemia, como a Coreia do Sul ou a Alemanha, recorreram a uma grande utilização de testes. Ficou-nos no ouvido a mais recente orientação da OMS: “Testem, testem, testem.”

Vale a pena ouvir com atenção as explicações que vão sendo dadas pelas autoridades de saúde sobre a situação e sobre a estratégia. A partir do momento em que não se podem testar dez milhões de portugueses, colocam-se imediatamente duas questões: a primeira é o número de testes disponíveis, que é finito; a segunda, que decorre desta, a definição de critérios. Portugal, como todos os outros países que dispõem de meios para o fazer, tem de ir aos mercados. A concorrência é forte e a produção limitada à escala mundial, porque ninguém, nem nós nem os outros, por mais ricos que sejam, se preparou antecipadamente para esta pandemia.

Há um exercício que a maioria das pessoas não pode fazer, mas que a imprensa pode – e deve – fazer: ler diariamente o maior número possível de grandes jornais estrangeiros que cobrem o mundo inteiro e que reflectem quotidianamente os dramas e as dificuldades dos seus próprios países. Percebemos imediatamente que as nossas dificuldades não são nem maiores nem menores dos que as dos países com os quais nos devemos comparar, estando em primeiro lugar os europeus.

Claro que as democracias ocidentais têm culturas diferentes. A iniciativa da sociedade civil é maior no mundo anglo-saxónico, habituado a não depender do Estado para tudo. No Reino Unido, responderam 405 mil voluntários a um apelo do Governo para conseguir 250 mil. Os britânicos ainda transmitem de pais para filhos a experiência dos anos da guerra, quando resistiram quase sozinhos à barbárie nazi. Outras democracias – como a nossa – tendem a esperar quase tudo do Estado, mesmo que adorem criticá-lo. A França tem uma cultura parecida, mas não a Suécia ou os Países Baixos, onde foram postas em prática estratégias idênticas às que o Reino Unido começou por adoptar e pelas quais o Governo britânico foi tão duramente criticado.

Em quase todos os nossos parceiros europeus, a ameaça de ruptura dos respectivos sistemas de saúde públicos existe, quando já não aconteceu. A capacidade de montar grandes hospitais de campanha é grande, tanto cá como lá, contrariando a ideia absolutamente nefasta de que só a China, com o seu regime autoritário, conseguiu construir hospitais numa semana. São imensos os recursos disponíveis nas nossas sociedades democráticas sem pôr em causa as liberdades fundamentais e o funcionamento das instituições. Mesmo que, nesta crise, como noutras de dimensão equivalente, o papel do Estado seja absolutamente fundamental – para salvar vidas, para manter o país a funcionar, para impedir a destruição do tecido económico e social.

4. As coisas ainda vão piorar antes de melhorarem. Haverá um momento em que exigiremos mais e mais aos outros e menos a nós próprios. O apoio ao primeiro-ministro e ao Governo não vai manter-se aos níveis actuais. Esse é precisamente o teste que lhe cabe vencer.

Entretanto, na frente europeia, que é a nossa principal circunstância, pode ser que os egoísmos nacionais que vieram ao de cima, alguns com uma virulência inusitada, acabem por dar lugar a um sentimento de verdadeira partilha de destino, que é essa a essência da integração europeia. Ninguém se salvará sozinho. E se até o Presidente Trump acabou por perceber que tinha de estender a mão a Xi ou dialogar com Macron, depois da fase do “vírus chinês” ou do perigo de contaminação vinda da Europa, talvez Mark Rutte consiga estender a mão a Giuseppe Conte ou a Pedro Sánchez. O que está em causa é o futuro da Europa, mas é também o futuro das suas democracias. A crise financeira deixou-nos uma vaga de populismos e nacionalismos que se tornaram um desafio às democracias liberais. Os Países Baixos não foram excepção. Pelo contrário, até foram precursores. Se a Europa servir de pouco aos povos europeus, Thierry Baudet ou Geert Wilders, a nova e a velha face da extrema-direita holandesa, já ganharam.»
(Teresa de Sousa, Análise Coronavírus, in jornal Público, hoje às 06:10)

Em tempo de isolamento, cada vez vai sendo mais agradável ouvir e ler que afinal seremos um "país desenvolvido" que caminha hoje no pelotão da frente dos que conseguiram aprender com a História e maior a nossa recusa em aceitar aquela maledicência tradicional que, sobrando ainda por aí em tantos becos e ruelas, parece a caminho de ser erradicada do nosso adn.

Teresa de Sousa de há muito que nos mostra um jornalismo sério que, sem chauvinismos tolos e despropositados, nos ensina a transformar a nossa proverbial 'má-língua', num sentimento de comedido orgulho daquilo que somos e fazemos. Uma seguidora convicta do exemplo que, felizmente, raro será o dia em que não nos chegue da mais alta figura política deste nosso 'cantinho europeu', o professor Marcelo Rebelo de Sousa!...

Não seremos afinal e, com orgulho, começamos a  recusar ser...

Aqueles pobres coitados 'fundilhos europeus'!...

Leoninamente,
Até à próxima