Maria José Morgado: “Em todo o mundo há histórias de hackers maus que se transformam em hackers bons”
A procuradora-geral adjunta falou do caso Rui Pinto em entrevista à RTP.
A procuradora-geral adjunta Maria José Morgado, no programa Grande Entrevista, da RTP, nesta quarta-feira, afirmou que o "caso Rui Pinto", o jovem português que denunciou alegados esquemas de evasão fiscal no futebol cometidos em vários países, conhecido como Football Leaks, a impressiona:
«... Não posso falar do caso concreto, só em tese geral. Mas devo dizer que este caso impressiona-me muito pessoalmente, porque ouvi a pessoa de que estamos a falar a dizer frases sobre a corrupção no futebol semelhantes àquelas que eu disse numa entrevista em 2002, ao Adelino Gomes, e que está publicada na [revista] Pública. [...]
Em 2002 eu disse ao Adelino Gomes que o futebol era um mundo de branqueamento de dinheiros sujos, com promiscuidades políticas indesejáveis, alargadas e muito difíceis de combater. Fez-me impressão, porque passaram 17 anos e aparece uma pessoa a dizer aquilo que eu tinha dito. Porque agora são todos paladinos contra a corrupção no futebol, contra as offshores. Toda a gente fala disso, já não vale a pena falar. Mas naquele tempo tive problemas sérios por ter falado disso. [...]
Volvidos 17 anos, por aquilo que se sabe do Footbal Leaks (e não estou a falar de nenhum clube nem de nenhuma pessoa, mas de um fenómeno), aparentemente no mundo do futebol é-se imune a qualquer espécie de escrutínio.[...]
Precisamos das pessoas que estão por dentro do extraordinário mundo do crime, dos criminosos que queiram colaborar connosco. E, em geral, nenhum criminoso colabora com a justiça por razões éticas. É por razões interesseiras, individualistas. Mas isso é humano, normal. Tem de haver uma legalidade para essa compensação, através da delação (ou colaboração) premiada.[...] Se for para defender outros valores superiores e se for escrutinável.[...]
Em todo o mundo há histórias de hackers que se transformam em hackers bons e colaboram com a justiça. O hacker mau pode transformar-se num hacker bom e trabalhar para a polícia. Tem um know-how que muitas vezes a polícia não consegue ter por si só...»
Depois da aprovação - por 591 votos a favor, 29 contra e 33 abstenções - da directiva sobre denunciantes, a primeira na UE, naquela que foi a última sessão plenária desta legislatura do Parnamento Europeu, com a qual a deputada europeia Ana Gomes já se havia congratulado e, embora desjando que se tivesse ido mais longe, ainda assim considerou muito positivo ter sido conseguido quando subsistia a dúvida sobre se tal seria conseguido ainda nesta legislatura, que se estará no bom caminho, surge agora a voz respeitada da procuradora Maria José Morgado a juntar-se aos que defendem para Rui Pinto, uma compensação pelo seu contributo para o esclarecimento da onda de crimes perpetrados nomeadamente no futebol.
Apertam-se as malhas, agora com a pressão europeia...
É que nós por cá, só a reboque!...
Leoninamente,
Até à próxima