A LIGA DAS COMISSÕES
«Depois de se conhecerem os valores de várias comissões que Sporting e Porto pagaram nos últimos anos pela transferência de jogadores, esta semana tornaram-se públicas, com algum pormenor, as verbas do Benfica que ‘voaram’ nestes mesmos negócios.
Na ‘Liga’ das comissões lê-se a informação que a SAD encarnada enviou à CMVM, a propósito da oferta pública de subscrição de 50 milhões de euros em obrigações, e os números tecnicamente ‘disfarçados’ nos relatórios e contas ganham uma dimensão bem diferente. Um simples exemplo: o guarda-redes Oblak, cujo passe pertencia na totalidade à SAD, tinha uma cláusula de rescisão no valor de 16 milhões de euros. O At. Madrid queria contratá-lo mas o Benfica, como foi público, não pretendia negociá-lo. O esloveno não se apresentou na Luz no início da época 14/15, como devia. Em vez disso fez testes médicos em Madrid e o Atlético informou que acionava a cláusula de rescisão, transferindo para a Luz os tais 16 milhões. Então, se o Benfica não queria vender e o Atlético pagou os 16 milhões sem negociar, como explicar os 6,5 milhões pagos pelo Benfica devido a "compromissos com terceiros, gastos com serviços de intermediação e valor líquido contabilístico do atleta à data da alienação", como é justificado de forma oficial?
Mas Oblak foi apenas um caso numa contabilidade que não tem em conta o custo de aquisição contra o preço de venda. Repare-se no de Markovic, cujo passe pertencia a 50 por cento ao Benfica: cláusula de rescisão de 25 milhões paga pelo Liverpool. O Benfica recebeu 12,5 milhões, ou seja, metade? Nada disso. Apenas 6,8. Cerca de metade de metade. 18,2 milhões ‘desapareceram’ ao abrigo da explicação acima referida. Rodrigo, com cláusula de 30 milhões, rendeu apenas 12,6. Nem dos 5 milhões de Cardozo para o Trabzonspor o Benfica recebeu, pelo menos, metade, mas apenas 2,07. Isto para não falar em Garay, cujos proveitos por uma venda de 6 milhões se resumiram a 317 mil euros! Podia ainda relatar o que sucedeu com João Cancelo, Melgarejo, André Gomes, Enzo Pérez, Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, Mora, Kardec ou Lima, mas não vale a pena. Já percebemos que existe enorme diferença entre valores de venda e encaixe real. Alguém considera isto razoável?»
(José Ribeiro, Contas Feitas, in Record)
Há muito que desejo que o jornalismo desportivo em Portugal percorra o caminho que José Ribeiro, corajosamente, entendeu percorrer na incómoda e arrasadora crónica "Contas Feitas" hoje publicada no jornal Record. Mas sobre aquela casa parece ter caído ultimamente o "manto diáfano e sagrado" de libertina vassalagem a "um só senhor, um só deus", que vai cobrindo, indiscriminadamente, todos os "vendilhões do templo" que, independentemente das suas convicções e afectos, quais prosélitos, vão espalhando por um desprezível prato de lentilhas, a doutrina do arcanjo celestial e "capo di tutti capi", que vai debitando do outro lado da rua e de forma que não envergonharia Joseph Goebbels, a "verdade vermelha" como... VERDADE ÚNICA!...
Poucos, muito poucos, terão a coragem de Rui Santos e, agora, José Ribeiro, porque demasiado fascinados e entretidos na tarefa de equilibrar e evitar qualquer derrame das galhetas da eucaristia quotidiana celebrada pelo celebrado e impune arcanjo.
O pior para o arcanjo e para a difusão de tão atribiliária e obscena doutrina, será que...
Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!...
Leoninamente,
Até à próxima