2. Cortar com o apoio às claques significa comprar uma ‘guerra’. Ninguém compra uma ‘guerra’, sobretudo com este grau de perigosidade, com efeitos na sua própria segurança e paz, por capricho ou arrogância.
3. Este tema das claques e do seu controlo tornou-se difícil e até dramático, porque os clubes de futebol, de uma maneira geral, demitiram-se do seu papel e, mais do que isso, foram durante anos colocando gasolina no fogo.
4. Figuras relevantes do dirigismo nacional, talvez para se sentirem mais protegidos, foram fazendo sucessivos pactos com o diabo. Alimentaram-lhe a gula, os vícios e a soberba.
5. As claques — e devemos dizer que há distinções a fazer entre elas — são, nos casos mais assanhados, digamos assim, a extensão e o resultado das capitulações dos dirigentes desportivos e dos clubes que, ciclicamente, representam.
6. Algumas claques são hoje, em Portugal, aquilo que os clubes quiseram que elas fossem. E, nesse aspecto, se existe um monstro e se ele cresceu, isso resulta do facto de ter sido alimentado.
7. A responsabilidade é um pouco de todos: dos clubes, dos presidentes e dirigentes, dos titulares de cargos relevantes na organização do futebol em Portugal, do Estado e da própria comunicação social.
8. As claques foram engordando e foram deixando crescer as unhas e a engrossar a voz porque foram percebendo que, para além do alimento que lhes era proporcionado, se havia alguma transgressão, nada lhes acontecia. Podiam continuar a injuriar e nalguns casos a assaltar, e nada de relevante lhes acontecia. A conta dos distúrbios ia sempre parar á tesouraria dos clubes.
9. Nada melhor do que isto: agir, muitas vezes vezes marginalmente, sem consequências. Quer dizer: as claques tinham um tratamento de excepção e ainda havia (e há) quem pague os desmandos causados nos estádios e nos pavilhões.
10. A situação que envolve os clubes ‘grandes’ é particularmente dramática e muito penalizador para o Estado, para as entidades que poderiam travar estes impulsos ditatoriais e próprios de um pais sem reguladores à altura da gravidade dos factos.
11. Nem a paixão clubística pode ser entendida como argumento para se justificar a ausência de tomadas de posição concertadas, em relação a uma matéria tão sensível, que condiciona o acesso aos estádios de futebol.
12. O Sporting teve o indecoroso ‘assalto a Alcochete’, mas temos exemplos no FC Porto e no Benfica, e mesmo ao nível de outros clubes de menor dimensão, em que as claques assumiram papéis de ‘forças armadas’, mais ou menos privadas, espécie de carrascos de uma moral que não têm.
13. Independentemente de todos os méritos que podemos identificar no percurso de Pinto da Costa enquanto presidente do FC Porto, também não é difícil de compreender que a sobrevivência do líder portista muito se deve ao facto de ter sido sempre super… protegido.
14. Não há almoços grátis. Quando se ganha uma coisa tão importante como a segurança e a imunidade, tem de se dar alguma coisa em troca. O que se deu em troca? PODER!
15. Ainda a época passada tivemos manifestações indiscutíveis de afirmação desse poder, no Dragão. Com a Direcção e o seu presidente completamente vergados a esse poder, e com o treinador Sérgio Conceição a ter de gerir o melhor possível uma situação explosiva.
No Benfica nunca se soube muito bem como lidar com claques e o Estado nunca soube muito bem como lidar com as dúvidas do Benfica. E ainda estamos, neste domínio, na fase do faz de conta.
16. Esta dádiva de poder é uma coisa muito simples de conceder. O problema são as consequências. Nalguns casos, será para toda a vida. Noutros casos, será para manter em lume brando. No caso do Sporting, ultrapassaram-se todas as marcas e, quando se tomaram algumas primeiras medidas para se emagrecer o ‘monstro’ e reduzir os seus vícios, gerou-se um fenómeno, natural, de resistência e de aumento de constestação. Aproveitado por alguns, com sede de outro tipo de poder.
17. É bom ter a noção de que, se Frederico Varandas perder esta batalha, os clubes de futebol, em Portugal, perderão a guerra. Porque ficarão ainda mais hipotecados… a outros poderes. E, em consequência, mais fracos e dependentes.
18. De outro modo: chegará o dia em que FC Porto e Benfica olharão para as claques como elas devem ser olhadas: sem subsverviências. Até lá, o caminho é espinhoso, mas será ainda mais espinhoso se as claques voltarem a tomar conta do Sporting.
19. Vieira precisa de ser ‘mais líder’ e ser ‘mais líder’ significa não estar tão dependente de Jorge Mendes e de figuras que continuam a manchar a imagem do Benfica. E, como vêm aí eleições, talvez fosse importante Vieira definir-se em relação às claques!
20. Frederico Varandas não tem recuo, mas talvez possa fazer alguma coisa para criar um novo conceito de claque. É preciso, como diz o outro, partir para outra.
JARDIM DAS ESTRELAS
** (2 estrelas)
"Grandes" a jogar futebol… pequeno
*****As equipas do Minho, SC Braga e V. Guimarães, arrancaram resultados diferentes nos seus compromissos, fora de casa, da Liga Europa, mas foram entre os representantes portugueses as únicas que apresentaram um futebol alegre e positivo.
**** O SC Braga juntou o útil ao agradável, vencendo e jogando bom futebol; o V. Guimarães ameaçou tornar-se na grande sensação da semana europeia .
*** Benfica e Sporting venceram mas jogaram… ‘pequeno’.
** Luís Filipe Vieira afirmava, há um ano: "Não sairei do Benfica sem ser campeão europeu’. Não se sabe quando é que LFV está a pensar em ‘passar a pasta’, mas não há sinais de um Benfica afirmativo e categórico, no espaço europeu.
*** Com Lage, que chegou a atingir níveis exibicionais muito interessantes, o Benfica perdeu dinâmicas essenciais e hoje a equipa já não consegue dominar sem ser dominada. Isto é, a equipa até pode conseguir estar momentaneamente por cima, mas perde o controlo sobre si própria com muita facilidade, como se viu com o Lyon.
*Anthony Lopes cometeu um erro que aliviou a pressão do Benfica. Acontece. É futebol, mas é preciso sublinhar na jogada o mérito de Pizzi (****).
***** Enquanto Lage parece perdido num labirinto mental difícil de decifrar, não conseguindo extrair da equipa do Benfica tudo aquilo que ela pode dar, Jorge Jesus, no Flamengo, optimiza o rendimento dos jogadores. Vieira deve estar confuso.
** FC Porto está sem brilho. Sérgio Conceição tem razão: falta algum prazer a jogar. Mas quando não há espaço para a criatividade, fica difícil ser-se criativo. Será cansaço de excesso de trabalho táctico?
*** Sporting nos ‘cuidados intensivos’: a vitória ao Rosenborg apenas lhe permite… respirar.»