Os piroasnos
«1. Decorria a primeira parte do jogo do Sporting contra o Arsenal e não havendo mesmo nada a festejar – o Sporting já estava a perder - da curva norte eclodiu um festival de tochas, fumos e foguetório.
2. A UEFA já tinha avisado que a reincidência no uso desses artefactos seria punida com severidade, mas, aparentemente, isso não demoveu os perpetradores. Fizeram-no, não desconhecendo as consequências e sabendo que iam prejudicar e muito o clube de que dizem ser adeptos.
3. Como é sabido, esta cultura de prevaricação é transversal aos grandes em Portugal, que já tiveram grandes dissabores com os exibicionismos pirotécnicos.
4. Sublinhe-se que, mais do que a violação primária das regras, o uso destes dispositivos, é perigoso para a integridade das pessoas, cria uma legítima sensação de insegurança, afasta os espectadores, é mau para os clubes e para o futebol em geral.
5. Procurei saber das razões desta obsessão pirotécnica. Já me disseram que por detrás desta prática, está uma afirmação identitária sobre quem é o ‘dono do jogo’ e que ao lançamento dos petardos, subjaz uma pulsão proprietária de quem, como dono, faz o que quer, não obstante as consequências. Não é inocentemente que as claques (todas) gritam que "o clube somos nós"!
6. Ninguém me tira a ideia que subsiste, no nosso país, um conjunto de históricas cumplicidades na introdução de toda esta parafernália nos estádios, e que uma fiscalização mais rigorosa permitirá um melhor resultado. Afinal há muitos campeonatos sem um único foguete.
7. Já percebemos que os apelos à contenção são, infelizmente, inúteis. Assim sendo, a erradicação destes desmandos passa pelo agravamento das penas e pela acção conjunta dos clubes, das forças policiais, da Liga e da Autoridade para a prevenção e o combate à violência no desporto.
8. Nada disto é novo, já morreram pessoas, já foi gente para o hospital com queimaduras, já se gastaram rios de dinheiro em multas, já nos desprestigiámos internacionalmente quanto baste, mas o mal persiste. É tempo de olhar para este flagelo com a seriedade e pertinácia que ele exige.
9. Se os clubes querem valorizar o espectáculo, vender caro a sua bilhética, modernizar os estádios, cativar as famílias, tornar cada jogo uma festa, não podem pactuar com estes comportamentos verdadeiramente cavernícolas, que são o oposto de tudo isso.
10. O Sporting já mostrou que não tem medo de enfrentar os interesses instalados e os poderes de facto. Se estes hooligans forem identificados como sócios do clube, não pode haver contemplações, porque destes, não precisamos.
PS: O Canto do Morais leva quase quinze anos de publicação no Record, o que fará dele a coluna de opinião mais antiga do jornal. Para o seu autor, que por isso, se sente uma pequena parte da família, o Record é uma companhia diária permanente, indispensável e fiel. Grandes 75 anos de pujança, rigor e seriedade. A todos, um abraço de parabéns.»
Rua!... Ontem já era tarde!!!...
Leoninamentente,
Até à próxima