O motor do novo Sporting«Se muitos lhe apontavam em jovem as dificuldades de um físico irreverente para futebolista (alto, pesado, pouco ágil), ele tratou de compensar com o primor dos factores tácticos (estudou, entendeu o jogo e interpretou a função que escolheu) e técnicos (evoluiu na articulação motora e na relação com a bola). Em momento algum, perante qualquer treinador, desenvolveu relação de amor à primeira vista. Muitos condenaram-no à vulgaridade e afastaram-no liminarmente de um nível que desse resposta às máximas exigências competitivas; outros olharam-no como caso mais ou menos perdido, sobre o qual preferiram adiar decisão definitiva quanto ao futuro, promovendo empréstimos a clubes com ambições moderadas (Moreirense e Belenenses) e a cedência a um concorrente directo (Sp. Braga), opção com sabor a despedida – ninguém no Sporting teve planos para ele como titular da equipa principal.
Neste percurso, João Palhinha aproveitou o tempo e os conselhos dos treinadores com quem se cruzou (Miguel Leal, Quim Machado, Sá Pinto, Rúben Amorim, Custódio e Artur Jorge); levou a cabo uma evolução física e biológica (tirou peso ao 1,90 m de altura e tornou-se um jogador mais solto) e foi adquirindo experiência longe de Alvalade, onde ainda se cruzou com Jorge Jesus. A partir de determinada altura tornou-se um jogador cujo físico evoluiu de problema a solução; apetrechou-se então com armas cada vez mais consistentes e viu crescer o estatuto à medida que a imensa qualidade futebolística veio à superfície, até dominar em pleno a tarefa que desempenha.
O ponto de situação de JP é fácil de definir: faz quase tudo bem e cada vez faz mais e melhor. É um médio que alargou influência e o raio de acção; aumentou eficácia nos duelos individuais, consumando a construção de um jogador inteligente, sóbrio e preciso; que zela pelo equilíbrio mas vai revelando armas para se tornar importante também nas acções de aproximação ao golo, virtude que lhe concede imagem temível quando aplicada ao jogo aéreo – é um perigo na área adversária e um seguro de vida quando chamado a defender. JP evoluiu muito na distribuição criteriosa e sem erros, confiança que lhe permitiu alargar influência através da clara melhoria no passe longo.
Um dos segredos para a afirmação de JP é, também, conhecer os seus limites, suprema prova de inteligência de quem os aceitou e jamais quis ultrapassá-los. Não nasceu com o dom de outros mas compensou com trabalho e dedicação de modo a superar o que a natureza lhe negou. Agora só tem de aproveitar a oportunidade e dar-lhe continuidade; agir como quem não procura álibis para dar por concluído o processo de afirmação; e enquadrar-se perante o reconhecimento exterior de modo a consolidar a autoridade e não entendê-la como sinal de uma plenitude prematura, logo incompleta.
Motor do novo Sporting, depois de ter assumido o controlo da equipa que melhor futebol praticou em Portugal na época passada (o Sp. Braga de Rúben Amorim), JP é a prova de que as grandes potências colectivas não têm, necessariamente, referências estruturais entre aqueles que se expressam e se tornam decisivos pelos golpes instantâneos de magia avulsa. Para quem tanto exigiu de si próprio e superou tamanhas dificuldades na construção do jogador em que se tornou; para quem conquistou um lugar ao sol no actual panorama nacional, ninguém acredita que vá dar por terminada a empreitada que aceitou levar a cabo. Agora que encontrou um treinador que confia em absoluto no seu potencial, é justo que usufrua do momento mais alto da carreira e com ele se fortaleça ainda mais. Nada que deva desviá-lo da missão principal que é continuar a evoluir para jogador indiscutível no Sporting e no futebol português.»
Rui Dias escreveu. E quando ele escreve...
Está tudo dito!!!...
Leoninamente,
Até à próxima