QUEM RI COM FONTELAS GOMES?
Quando Luís Filipe Vieira, há mais de dez anos, no arranque da sua caminhada presidencial, afirmou que era mais importante ter lugares na Liga do que contratar jogadores estava a valorizar algo que, no começo do século XXI, continua ser percepcionado pelos protagonistas do futebol, depois de tudo o que se disse e fez na parte final do século XX: o futebol fora das quatro linhas continua a ter um peso demolidor.
O presidente do Benfica falava assim porque um dos principais bastiões de poder achava-se na Liga e, nomeadamente, Valentim Loureiro foi um grande auxiliar e parceiro de Pinto da Costa no fenómeno de hegemonização do futebol português pelos azuis e brancos. Era o tempo em que a Liga tutelava a Arbitragem e a Disciplina e era o tempo em que a FPF tinha um papel quase figurativo. A Liga mandava e influenciava; a FPF assistia e sobrava para as ‘questões da Selecção Nacional’. Era a ‘rainha de Inglaterra’.
Entretanto, por via legislativa, a Liga deixou de tutelar a Arbitragem e a Disciplina e o cargo de presidente da FPF passou a ter uma importância acrescida. Fernando Gomes percebeu isso, com antecedência, e percebeu que a passagem pela Liga era importante para um trajecto que havis sido predefinido.
A perda de poder de Pinto da Costa tem a ver com esta questão formal, acentuada pelo facto de Fernando Gomes ter saído do Porto em divergência (até certo ponto camuflada) com o líder portista. Não é por acaso que Pinto da Costa, há não muito tempo, quando se referia a Fernando Gomes, o tratava por ‘Gomes da Silva’, em razão do seu nome completo: Fernando Soares Gomes da Silva.
A este facto agarrou-se o presidente do Benfica, entretanto mais amadurecido como dirigente desportivo e mais conhecedor das dinâmicas empreendidas fora das quatro linhas. Luís Filipe Vieira, que foi um combatente do ‘sistema’ (desenhado e controlado pelo Porto de Pinto da Costa), chegou a ir à ‘guerra’, deu e levou e, por causa daquilo que levou, deixou de reagir a tudo e arranjou outras técnicas de combate, mais subtis. Houve um encontro de interesses entre Fernando Gomes e Luís Filipe Vieira e isso nem deve ser especialmente qualificado ou valorado. Só tem de ser interpretado.
Fernando Gomes, em pouco mais de 5 anos, deixou de ser um discreto dirigente do Porto, com horror a protagonismos, para se transformar num ‘player’ importante do futebol português. Granjeando simpatias e criando condições excepcionais para não ser criticado pela ‘mui conservadora intelligentsia’ lisbonense. Este posicionamento revela tacticismo e sagacidade, os mesmos que o levaram a deixar cair Vítor Pereira e Herculano Lima na reconstituição do seu (novo) governo.
As ‘pastas’ da Disciplina e da Arbitragem são as mais sensíveis de qualquer governo do Futebol. E em ambas Fernando Gomes mexeu. O que significa alguma capacidade autocrítica ou, até, um inconfessado reconhecimento de derrota. Quais foram as soluções achadas? José Fontelas Gomes para a presidência do Conselho de Arbitragem e José Meirim para a presidência do Conselho de Disciplina.
Pela voz de Pedro Proença – curiosamente em casa de quem mais tem atacado os árbitros neste campeonato –, ficamos a saber que estão a ser preparadas alterações regulamentares, no sentido de castigar mais severamente os agentes desportivos que ponham em causa a imagem do futebol e dos seus protagonistas.
Meirim revelou-se sempre muito cáustico com omissões, dilações e vazios, sobretudo na capacidade de denunciar fragilidades do poder político, e tem agora o desafio e a responsabilidade de não omitir, não adiar e ser ‘denso’ e livre de clientelas (consegui-lo-á?!…) numa área tão fundamental como a Disciplina.
No caso da Arbitragem – de todas, a ‘pasta’ mais difícil de gerir – a surpresa para alguns tem a ver com o facto de José Fontelas Gomes, um ex-árbitro com um percurso modesto, consegue chegar à presidência do Conselho de Arbitragem, depois de uma passagem pela APAF. A explicação é relativamente simples: foi sempre uma espécie de ‘enfant gaté’ de Pedro Proença. E, sendo assim, como extensão das ideias e das ambições de Proença, José Fontelas Gomes – embora bem posicionado junto do Benfica – é a esperança de Sporting e Porto verem mitigado o efeito do consulado de Vítor Pereira na liderança da arbitragem.
E é aqui que pode estar a razão de tantos cuidados e silêncios: Fernando Gomes agarra-se; Pedro Proença pode estar a criar condições, com tempo, para ser o sucessor de Fernando Gomes. Pela ‘porta’ da Arbitragem. Talvez seja a razão pela qual Pinto da Costa afirmava há dias que "Vieira ganhou esta batalha mas ainda não ganhou a guerra". Será?
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Quando Luís Filipe Vieira, há mais de dez anos, no arranque da sua caminhada presidencial, afirmou que era mais importante ter lugares na Liga do que contratar jogadores estava a valorizar algo que, no começo do século XXI, continua ser percepcionado pelos protagonistas do futebol, depois de tudo o que se disse e fez na parte final do século XX: o futebol fora das quatro linhas continua a ter um peso demolidor.
O presidente do Benfica falava assim porque um dos principais bastiões de poder achava-se na Liga e, nomeadamente, Valentim Loureiro foi um grande auxiliar e parceiro de Pinto da Costa no fenómeno de hegemonização do futebol português pelos azuis e brancos. Era o tempo em que a Liga tutelava a Arbitragem e a Disciplina e era o tempo em que a FPF tinha um papel quase figurativo. A Liga mandava e influenciava; a FPF assistia e sobrava para as ‘questões da Selecção Nacional’. Era a ‘rainha de Inglaterra’.
Entretanto, por via legislativa, a Liga deixou de tutelar a Arbitragem e a Disciplina e o cargo de presidente da FPF passou a ter uma importância acrescida. Fernando Gomes percebeu isso, com antecedência, e percebeu que a passagem pela Liga era importante para um trajecto que havis sido predefinido.
A perda de poder de Pinto da Costa tem a ver com esta questão formal, acentuada pelo facto de Fernando Gomes ter saído do Porto em divergência (até certo ponto camuflada) com o líder portista. Não é por acaso que Pinto da Costa, há não muito tempo, quando se referia a Fernando Gomes, o tratava por ‘Gomes da Silva’, em razão do seu nome completo: Fernando Soares Gomes da Silva.
A este facto agarrou-se o presidente do Benfica, entretanto mais amadurecido como dirigente desportivo e mais conhecedor das dinâmicas empreendidas fora das quatro linhas. Luís Filipe Vieira, que foi um combatente do ‘sistema’ (desenhado e controlado pelo Porto de Pinto da Costa), chegou a ir à ‘guerra’, deu e levou e, por causa daquilo que levou, deixou de reagir a tudo e arranjou outras técnicas de combate, mais subtis. Houve um encontro de interesses entre Fernando Gomes e Luís Filipe Vieira e isso nem deve ser especialmente qualificado ou valorado. Só tem de ser interpretado.
Fernando Gomes, em pouco mais de 5 anos, deixou de ser um discreto dirigente do Porto, com horror a protagonismos, para se transformar num ‘player’ importante do futebol português. Granjeando simpatias e criando condições excepcionais para não ser criticado pela ‘mui conservadora intelligentsia’ lisbonense. Este posicionamento revela tacticismo e sagacidade, os mesmos que o levaram a deixar cair Vítor Pereira e Herculano Lima na reconstituição do seu (novo) governo.
As ‘pastas’ da Disciplina e da Arbitragem são as mais sensíveis de qualquer governo do Futebol. E em ambas Fernando Gomes mexeu. O que significa alguma capacidade autocrítica ou, até, um inconfessado reconhecimento de derrota. Quais foram as soluções achadas? José Fontelas Gomes para a presidência do Conselho de Arbitragem e José Meirim para a presidência do Conselho de Disciplina.
Pela voz de Pedro Proença – curiosamente em casa de quem mais tem atacado os árbitros neste campeonato –, ficamos a saber que estão a ser preparadas alterações regulamentares, no sentido de castigar mais severamente os agentes desportivos que ponham em causa a imagem do futebol e dos seus protagonistas.
Meirim revelou-se sempre muito cáustico com omissões, dilações e vazios, sobretudo na capacidade de denunciar fragilidades do poder político, e tem agora o desafio e a responsabilidade de não omitir, não adiar e ser ‘denso’ e livre de clientelas (consegui-lo-á?!…) numa área tão fundamental como a Disciplina.
No caso da Arbitragem – de todas, a ‘pasta’ mais difícil de gerir – a surpresa para alguns tem a ver com o facto de José Fontelas Gomes, um ex-árbitro com um percurso modesto, consegue chegar à presidência do Conselho de Arbitragem, depois de uma passagem pela APAF. A explicação é relativamente simples: foi sempre uma espécie de ‘enfant gaté’ de Pedro Proença. E, sendo assim, como extensão das ideias e das ambições de Proença, José Fontelas Gomes – embora bem posicionado junto do Benfica – é a esperança de Sporting e Porto verem mitigado o efeito do consulado de Vítor Pereira na liderança da arbitragem.
E é aqui que pode estar a razão de tantos cuidados e silêncios: Fernando Gomes agarra-se; Pedro Proença pode estar a criar condições, com tempo, para ser o sucessor de Fernando Gomes. Pela ‘porta’ da Arbitragem. Talvez seja a razão pela qual Pinto da Costa afirmava há dias que "Vieira ganhou esta batalha mas ainda não ganhou a guerra". Será?
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Embora ainda mal digerida esta curiosa crónica de Rui Santos, julgo nela perceber um conjunto interessante de múltiplos pontos de fuga que o próprio autor, inteligentemente, terá preferido reflectir no tempo e no modo, antes de se aventurar em desvendar as intercepções. É que mesmo com a panela ao lume, o arroz ainda estará muito longe de caminhar para um ponto de cozedura capaz de gerar convicções.
Contudo, uma coisa me parece para já demasiado óbvia: enquanto Pinto da Costa vai dizendo que "Vieira ganhou esta batalha mas ainda não ganhou a guerra" e Bruno de Carvalho pouco se lhe terá adiantado repetindo o estafado lugar-comum de afirmar que "apenas tomará posição depois de conhecer os programas", do campo do adversário de ambos o silêncio cheira-me a esturro, pelo que poderá significar de antecipação e eficácia. Nem as guerras se ganham perdendo batalhas, nem o jogar à defesa alguma vez trará a certeza de vitórias. O erro em que me parece ambos estarem a incorrer, soa-me a demasiado recorrente e "dejá vu"...
Contudo, uma coisa me parece para já demasiado óbvia: enquanto Pinto da Costa vai dizendo que "Vieira ganhou esta batalha mas ainda não ganhou a guerra" e Bruno de Carvalho pouco se lhe terá adiantado repetindo o estafado lugar-comum de afirmar que "apenas tomará posição depois de conhecer os programas", do campo do adversário de ambos o silêncio cheira-me a esturro, pelo que poderá significar de antecipação e eficácia. Nem as guerras se ganham perdendo batalhas, nem o jogar à defesa alguma vez trará a certeza de vitórias. O erro em que me parece ambos estarem a incorrer, soa-me a demasiado recorrente e "dejá vu"...
E quando acordarem, será demasiado tarde e o arroz já estará cozido! A "história" da caminhada de Proença para a Liga, faz-me lembrar a fábula do sapo e do escorpião: está hoje mais do que visto quem foram os sapos!...
O enredo a que Rui Santos terá recorrido na sua crónica, para entreabrir a espessa cortina das próximas eleições federativas, traz-me a legítima suspeita de que "os sapos" estarão tão confiantes como quando levaram o "escorpião Proença" para o outro lado do rio, no carácter tanto de José Meirim quanto de José Gomes! Tal como na fábula...
Os "sapos" estarão a esquecer a natureza de ambos os "escorpiões"!...
Leoninamente,
Até à próxima
Ou slbenfica ou fcporto irao mandar na arbitragem como tem sido apanagio nos ultimos 40 anos.E mais uma vez o SCP a dormir..
ResponderEliminarSL
Pinto da Costa não comete o mesmo erro duas vezes!
EliminarE será amigo Álamo...
ResponderEliminarQue não corremos o risco...de deixarem "estorricar" o arroz...?
Vamos lá a ver se sairá arroz doce...ou salgado e intragável...!!
SL
SL