Estes sim, estes serão verdadeiramente os sportinguistas diferentes!...

JESUS EM CASA, NO CARRO, EM TODO O LADO...

«Lembro-me da frase de assinatura da Rádio Comercial, o ‘claim’ no jargão da minha actividade, cada vez que se abre uma destas discussões à volta da controversa personalidade de Jorge Jesus. Nos últimos dias sobram as palavras, os especialistas na televisão, os amigos de ocasião e os inimigos que espreitam sempre à espera de mais um dia mau. 

À escala mundial, no universo do futebol, não é caso único mas em Portugal para o bem e para o mal há quase uma década que quase tudo gira à volta do que este homem faz, das suas vitórias e derrotas, sobretudo das trágicas, do que diz, do que não devia ter dito, do seu ego.

Jorge Jesus não gera indiferença e, desde logo, por uma razão que mesmo os seus detractores sempre prontos a lembrar os momentos de desgraça, reconhecem: é um excepcional treinador que, se tivesse menos 20 ou 25 anos, estaria fora de Portugal e daria cartas nos grandes clubes da Europa. 

É certo que estando nós onde estamos, Jesus ganharia aplausos (mas só isso) com alguma contenção. Há nele uma natural tentação pelo perigo. Ou pela provocação. Fala por vezes demais num país onde o que é bonito é o respeitinho e a humildade, ainda que falsa. 

Nalguns casos excede-se.Não tenho dúvidas que na época passada com algumas tiradas de mau gosto ajudou o Benfica a criar um espírito de grupo que se viria a revelar – e aí o mérito é de Rui Vitória e da estrutura encarnada – imbatível. 

Terá Jesus aprendido?Ora, Jesus é o homem que aprendeu tudo mais ou menos sozinho. Pode ter marcas de carácter que na sua idade já não mudam (e isso não é um defeito) mas toda a sua vida foi feita de uma aprendizagem a pulso. Uma destas noites estava a ver na SIC Notícias um homem da mesma geração, João Alves, que tinha tido condições para ser um grande treinador, mas que ficou pelo caminho porque, não só não tem as qualidades de Jorge Jesus, como não teve a persistência deste. Até o criticou acertadamente. A diferença é que um está no campo e o outro na TV. 

Quando Luís Filipe Vieira e Rui Costa escolheram o então treinador do Braga para o Benfica já estávamos perante o melhor do modo futebol, mas nesses seis anos na Luz – nos bons e nos maus momentos – foi o facto de funcionarem em equipa que fez do Benfica um clube de novo vencedor. No Sporting está a suceder o mesmo. Agora é preciso ganhar. Jorge Jesus e Bruno de Carvalho têm esse facto muito presente.

O resto, entradas e saídas de jogadores, frases mal construídas em espanhol ou português e por aí fora, é tudo bom para a discussão só que como diria o próprio "isso vale bola".»

(Nuno Santos , Ângulo Inverso, in Record)

De vez em quando, mas mesmo muito de vez em quando, aparece um sportinguista que odeia fazer "haraquiri", que detesta descarregar o látego sobre o próprio costado, num exercício de auto-flagelação muito comum no universo leonino, condimentado quantas vezes com aquela raiva estúpida e ridícula que amiúde, infelizmente, copiamos dos nossos vizinhos do outro lado da rua. Que consegue abordar o que está à vista de todos, mas com elegância e de forma inteligente e conveniente, omitindo se necessário redundãncias e lugares comuns, feitiços que acabam sempre por atingir os próprios feiticeiros...

Estes sim, estes serão verdadeiramente os sportinguistas diferentes!...

Leoninamente,

Até à próxima