terça-feira, 1 de novembro de 2011

Inteligência, vassoura, crivo ou peneira ?!...

Uma vassoura serve para varrer e varrendo não escolhe, nem selecciona, indiferente a que na sua frente se misturem, entre os grãos de pó que impele, outros grãos que também hão-de sê-lo, mas que por ora não o serão. E nestes uns serão lixo e rolam a caminho do seu correcto destino. Outros nem tanto e até poderiam ser pão, se a vassoura não fosse cega. Mas é, e por isso o trigo corre para o monte de entulho, empurrado pela força daquela que não o distingue do joio.
Penso que um dos maiores responsáveis pela depuração do plantel leonino no dealbar da presente época, Luís Duque, não terá sido muito feliz quando admitiu que no Sporting seriam absolutamente necessários, tanto o cheque – até os melões vendidos em camionetas à beira da estrada o exigem! – como a famigerada e tão criticada vassoura. Sobre a necessidade do primeiro, não a discuto e mesmo o presidente Godinho Lopes não terá colocado grandes obstáculos, de tão inquestionável. Se assim fosse, não teríamos hoje em Alvalade as estrelas que nos orgulham e envaidecem. Quanto à segunda, já o meu prisma de observação – volta o brinquedo! – será incontornavelmente divergente de Duque.
Com a vassoura, Luís Duque ao tentar promover a limpeza que idealizara, dificilmente separaria o trigo, do joio e de outros lixos. Para ficar apenas com o pão, teve que usar primeiro a inteligência da parábola de Cristo, deixar maturar os primeiros até os distinguir, mandar cortar, atar em molhos e queimar o venenoso joio e só depois separar o trigo do outro lixo. Aí, não acredito que, apesar de o reclamar, tenha feito uso da vassoura. Obrigatoriamente terá sido levado a usar o velho e insubstituível crivo, que foi abanando e atirando ao vento, até ver luzir, sozinhos e limpos, os resplandecentes e loiros grãos de trigo que, delicada e carinhosamente colocou no celeiro de uma Academia resplandecente, já livre de lixo e pó.
E também não terá sido a vassoura que o ajudou a seleccionar o trigo que mandou vir de fora e que, com o mesmo desvelo acondicionou nas diversas tulhas do celeiro. Outra vez a inteligência e o crivo – do cheque já falámos! – tê-lo-ão ajudado na escolha. Mas a malha deste crivo, o segundo, terá sido bem mais selectiva. Tornava-se imperioso que a qualidade do grão fosse de um índice superior. Para que a farinha e o saboroso pão que hoje com deleite saboreamos, o pudessem ser.
Quero exaltar a excelência do crivo que Luís Duque e Carlos Freitas utilizaram. Porque as características de um cereal não se avaliam apenas com as mãos e os olhos. A excelência é bem mais complexa, profunda e difícil de encontrar e adquirir. Dá muito trabalho e deixa rastos de preocupação, responsabilidade e comprometimento. Mas parece ter sido alcançada e os resultados estão à vista de todos.
Os atletas que nos entraram pela porta dentro, não são apenas bons de bola. Não satisfazem apenas elevados conceitos de exigência técnica e rendimento, nem transportam em si, tão só, eventuais promessas de altos índices na relação custo/benefício.
Se tivermos prestado atenção à sua forma de estar dentro dos muros da leonina Alvaláxia e ao significado da mensagem de todas as suas variadas intervenções públicas, culminadas com a última e espectacular entrevista de Stijn Schaars ao jornal “O Jogo”, concluiremos que a qualidade e dimensão humanas de todos os reforços do Sporting, veio provocar uma revolucionária e autêntica miscigenação de culturas, pensamentos e comportamentos dentro do plantel do Sporting, que tem vindo a traduzir-se numa sensível e apreciável melhoria dos índices que o mesmo revelara em épocas transactas, desde o campo competitivo até outros campos marginais que, não se revelando essenciais na prestação desportiva, com esta interagem de forma que não pode nem deve ser menorizada.
Com as tulhas repletas de bom e diferente grão, adquirido com competência e visão e no tempo e no modo certos, chegou depois a hora do fabrico do pão. Dizem os entendidos, que o segredo de um pão agradável, saboroso e nutritivo, está na mistura correcta dos diferentes tipos de cereais, que o moleiro e depois o padeiro – ou os dois em um – promoverem. A Domingos Paciência nunca se tinha deparado um tão rico e variado celeiro e teve de encetar um tempo de experimentação. Doloroso para os adeptos sportinguistas. Mas necessário, senão mesmo imprescindível. As primeiras fornadas não terão resultado como todos desejariam. Mas Domingos rapou da peneira e, “pacientemente”, foi peneirando a farinha, foi-lhe apurando o grau de pureza e devagar, devagarinho, o pão começou-lhe a sair bem. Cada vez melhor e mais saboroso. E hoje comemos esse sagrado pão, satisfeitos, alegres e saciados. Em um qualquer dia destes, o forno porventura estará mais quente que o necessário, ou a mistura do grão não terá sido a mais correcta, ou ainda o tempo de levedura mais estendido ou reduzido e quando provarmos o resultado, torceremos o nariz com desagrado. Mas aí, teremos que reagir como a educação manda dizer à nossa mãe, ou esposa, ou amiga que nos convidou para petiscar lá em casa: está tudo muito bom!... Para que não possamos ferir quem fez o pão: porque ninguém amassa para fazer ruim pão!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

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